Veterano da Guarda Nacional, Hegseth é visto por servidores de carreira como ‘desqualificado’ para o cargo. Nomeação ainda depende de aprovação do Senado. O comentarista de TV Pete Hegseth em 2016
Evan Vucci/AP
Donald Trump anunciou que o próximo secretário da Defesa dos Estados Unidos será Pete Hegseth. O comunicado do presidente eleito, publicado na terça-feira (12), pegou o Pentágono e autoridades militares de outras partes do mundo de surpresa. A indicação também levantou desconfianças. Caberá ao Senado aprovar a nomeação.
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Pete Hegseth tem 44 anos e é conhecido por ser um comentarista da emissora norte-americana Fox News. O apresentador é muito popular entre os conservadores e possui muitos seguidores nas redes sociais.
O possível futuro secretário de Defesa é um veterano da Guarda Nacional dos Estados Unidos, tendo atuado no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo, em Cuba. Em 2012, ingressou na política e concorreu ao Senado pelo estado de Minnesota, mas não foi eleito.
Em 2014, passou a participar frequentemente de programas de TV na Fox News. Nos últimos oito anos, lançou quatro livros sobre as forças militares. Ao longo da carreira, fez comentários controversos, incluindo um questionamento sobre a capacidade das mulheres no Exército.
Mesmo sendo veterano da Guarda Nacional, Hegseth tem sido visto por servidores da área como “desqualificado” para o cargo, já que tem pouca ou nenhuma experiência com gestão.
Um alto funcionário do Departamento de Defesa, falando sob condição de anonimato à agência Reuters, disse que Hegseth não estaria qualificado nem para um cargo menos importante na área.
Outros dois comandantes militares dos Estados Unidos classificaram a nomeação de Hegseth como “ridícula” ou “pesadelo” em entrevista à CNN. Ambos também falaram anonimamente.
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Desconfianças na Europa
Pete Hegseth, como apresentador da Fox News, entrevista Donald Trump na Casa Branca em abril de 2017
Kevin Lamarque/Reuters
Hegseth é conhecido pelas críticas aos aliados da Otan. Assim como Trump, ele acredita que os demais países que integram a aliança não estão gastando o suficiente em defesa.
O comentarista chamou os aliados da Otan de “nações hipócritas e impotentes que nos pedem para honrar arranjos de defesa ultrapassados e unilaterais que eles não cumprem mais”, em um livro que foi publicado no início deste ano.
Na Europa, a indicação de Hegseth levantou dúvidas. Um autoridade de defesa ouvida pela Reuters afirmou que nunca tinha ouvido falar do comentarista.
Outro funcionário disse que Hegseth não parecia ser a escolha mais qualificada, mas afirmou que cada país tem o direito de escolher seus secretários. “Lidaremos com quem for preciso”, acrescentou.
Em uma entrevista a um podcast na semana passada, Hegseth também fez comentários sobre a guerra na Ucrânia.
“Se a Ucrânia puder se defender… ótimo, mas não quero que a intervenção americana avance profundamente na Europa e faça (Putin) sentir que está tão acuado”, disse.
Limpa no Pentágono
O Pentágono é o centro de inteligência do governo dos EUA
Getty Images/Via BBC
No último livro que publicou, Hegseth afirmou que as Forças Armadas dos Estados Unidos possuem generais defensores da agenda “woke”, com políticas muito progressistas. Para ele, isso tem prejudicado a Defesa do país, com militares fracos e “afeminados”.
O comentarista também zombou de militares transgenêros e disse que, ao promover diversidade e inclusão, as Forças dos Estados Unidos estão afastando recrutas. Para Hegseth é necessária uma “limpa” no Pentágono.
“Os filhos e filhas brancos da América estão se afastando, e quem pode culpá-los”, escreveu.
Em seus livros, Hegseth desqualifica políticas, leis e tratados que limitam a atuação dos combatentes em guerras. Os questionamentos dele vão desde regras restritivas até as Convenções de Genebra. Para ele, esses tratados estão ultrapassados e não são respeitados por inimigos.
Hegseth também defende que o Departamento de Defesa volte a se chamar Departamento de Guerra. A nomenclatura foi abandonada na década de 1940, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
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