Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator dos esquemas do PCC e de corrupção na Polícia Civil, passou meses negociando sua delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O acordo colocou o empresário na mira de criminosos e culminou na sua morte na última sexta-feira, quando foi executado no aeroporto de Guarulhos.
Documentos obtidos pela GloboNews e pelo G1 mostram que Gritzbach fez uma série de exigências, incluindo o desbloqueio de bens de alto valor, como helicópteros, lanchas e imóveis de luxo. Além disso, ele solicitou visto permanente para os Estados Unidos, proteção e recursos financeiros para segurança. No entanto, muitos desses pedidos foram negados pela Promotoria ainda em dezembro de 2023.
De acordo com o pedido inicial da defesa, Gritzbach queria que o MP-SP liberasse um helicóptero, duas lanchas e quinze imóveis. Ele alegava que seus bens de alto padrão haviam sido adquiridos antes do envolvimento com o crime, que começou, segundo ele, em 2019, após conhecer Claudio Marcos de Almeida, líder do PCC, também conhecido como “Django”.
O promotor Luiz Fernando Rebellatto rejeitou as condições, considerando-as desproporcionais. A proposta foi modificada, e o acordo final homologado pela Justiça em junho de 2024 incluiu a liberação de alguns bens adquiridos no início da carreira do corretor e uma indenização mínima de R$ 15 milhões. Contudo, a concessão de visto para os EUA foi negada e apenas um terço das futuras penas por lavagem de dinheiro foi perdoado.
Recusa de Proteção
Para a GloboNews, Lincoln Gakiya, promotor do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), revelou que Gritzbach recusou entrar no programa de proteção.
Segundo Gakiya, o delator queria manter seu estilo de vida e continuar próximo de amigos e familiares, mesmo sabendo do risco. “Ele dizia que podia custear sua própria segurança”, contou.
Porém, em um vídeo, Gritzbach aparece solicitando mais proteção ao MP-SP, afirmando que detinha provas significativas contra a facção criminosa e policiais envolvidos.
“Cada vez mais eu preciso de mais segurança… se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui”, disse.
Ligação com o crime organizado
Segundo o promotor Gakiya, Gritzbach era um “arquivo vivo” sobre os negócios do PCC, atuando há mais de uma década na lavagem de dinheiro por meio de imóveis, bitcoins e joias, além de postos de gasolina e fintechs. Em 2022, ele foi acusado de mandar matar um ex-chefe do PCC e o motorista dele, estando em liberdade graças a um habeas corpus do STJ.
Na sexta-feira, Gritzbach foi executado após desembarcar em Guarulhos. Nenhum dos seguranças privados contratados para sua proteção estava presente; em depoimento, eles alegaram falhas no veículo de resgate e paradas inesperadas. A polícia, no entanto, desconfia da versão e investiga se houve falha proposital.
Para Gakiya, a execução em um local público e movimentado foi um recado claro do crime organizado. “É um ponto de inflexão. Precisamos reconhecer que o crime organizado está em um novo patamar no Brasil”, disse o promotor.
Essa morte ressalta a crescente ousadia das facções criminosas e o risco enfrentado por delatores, mesmo em áreas sob vigilância, sinalizando um alerta sobre a atuação do crime organizado no país.
O caso
Criminosos abriram tiro em público no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, durante a tarde desta sexta-feira (8). O empresário Vinicius Gritzbach, foi morto.
Pelo menos, 29 disparos foram efetuados de um carro preto, com pelo menos quatro pessoas. Gritzbach foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu.
Além de Gritzbach, outras três pessoas foram baleadas. O motorista de aplicativo Celso Araujo Sampaio de Novais faleceu neste fim de semana. As outras duas vítimas estão em bom estado de saúde.