Mostrando a potência da nova música da Amazônia, Sumano, Daniel ADR e Flor de Mururé fazem shows inéditos de 30 de agosto a 1º de setembro, com entrada franca. Sumano, Daniel ADR e Flor de Mururé: artistas da Amazônia mostram a potência da nova geração
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Neste final de semana, a força da nova safra do som do Norte ocupa o Memorial dos Povos, espaço lendário de Belém da música autoral paraense. Sumano, Daniel ADR e Flor de Mururé sobem ao palco em um série de apresentações, que ocorre dias 30 e 31 de agosto, e 1º de setembro, para mostrar ao público os mais recentes trabalhos dos artistas do time Psica.
Em shows inéditos, os artistas vão mostrar ao público sua potência poética rebelada que vem lá de dentro: da periferia, das ruas, do rio, da viração que pulsa arte como testemunho de vivências de corpos pretos, trans, em rimas, batuques e orações.
“O Memorial dos Povos é um espaço lendário pra música autoral independente. Muitas bandas já passaram pelos palcos da Memorial dos Povos: Madame Saatan, Delinquentes, Bruno BO. É um espaço já viveu uma época áurea e foi muito importante pra fortalecer o que a gente tem hoje de cena autoral. E apresentar os shows do Flor, Daniel ADR e Sumano também celebra a retomada do Memorial como essa arena tão simbólica para os artistas independentes. Esses artistas novos estão pegando o bastão. Vai ser bonito. São três artistas que têm uma representatividade, que falam de Pará, que falam de Amazônia”, celebra Jeft Dias, diretor do Psica.
Sumano é um rapper ribeirinho da Amazônia
Jerê Santos
Nortes
Sumano abre-alas com o show “Nortes”. Rapper do interior da Amazônia, Euller Santos é artista ribeirinho. Crescido às margens do Rio Anapu, nasceu na Vila Menino Deus, localizada em Igarapé-Miri, nordeste do Pará.
Em “Nortes”, seu disco de estreia, o rapper é guiado pela reivindicação do espírito cabano e expressa uma profunda insatisfação em relação à maneira como a identidade amazônida é ignorada. Agora, Sumano evoca o protagonismo dessa narrativa.
“Na veia corre rios desses estados, inclusive os que meus ancestrais cavaram. Maldito sangue derramado, força para não sermos mais escravizados”, diz na canção “Reconectar”, que abre “Nortes”.
No palco do Memorial dos Povos, o rapper recebe Moraes MV, Felipe Castilho, DJ Black, e participações especiais como Karen Francis, MZ e outras surpresas.
“Espero que o público conceba da forma mais áspera possível as mensagens que estaremos a transmitir, e que faça alguma diferença em sua maneira de pensar e existir aqui no Norte do país, porque para nós nunca foi show por show, e sabendo que nosso público nos conhece nesse sentido, as expectativas são as melhores”, diz Sumano.
O rapper Daniel ADR mostra suas rimas traçadas nas batalhas de rua
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Black Christ
Já no dia 31, é a vez da estreia de “Black Christ”, o mais novo trabalho de Daniel ADR que já faz história na cena por ser o primeiro vinil de rap da Amazônia – uma homenagem ao ponto de partida do movimento, que são as músicas na bolacha preta.
O megaprojeto de ADR traz o disco e mais cinco clipes dedicados a contar a epopeia do Jesus negro, nascido nas quebradas na Amazônia. Em “Black Christ”, Daniel dá ao salvador injustiçado contornos de uma realidade crua, marcada pelo racismo e pela revolta, mas também repleta de pulsão de vida: paixão, fé, arte, vontade de subverter as estruturas de opressão e brilhar. Misturando trap, drill e rhythm and blues, Daniel ADR sobe aos palcos para mostrar pela primeira vez ao públicos as rimas de “Black Christ”, lançado este ano. Para o show, ele convida jvm Léo, Anna Suav e Pelé do Manifesto.
Prodígio na cena do rap paraense, Daniel começou a rimar ainda na escola e logo se destacou na Batalha de São Braz quando, ainda com 14 anos e só três meses de rima, passou a vencer participantes com muito mais experiência. No ano seguinte, em 2014, foi considerado o melhor MC do Pará pelo Duelo Estadual de MCs, representando o estado na etapa nacional em Belo Horizonte.
Atualmente aos 26, com diversos EPs, singles e videoclipes lançados na internet, Daniel quer fazer do show de “Black Christ” o momento para honrar essa trajetória, que começou nas ruas da periferia de Belém. Ele abre o espaço para jovens talentos mostrarem suas rimas e organiza uma batalha de MCs com direito a premiação no valor de R$ 1 mil.
“A Batalha de São Brás é a primeira do Pará feita de forma fixa, é um espaço pra novos artistas, pra novos talentos. E para o show no Memorial, a ideia é trazer a Batalha de São Braz, fazer todo esse paralelo entre o passado, o presente e o futuro. Quando eu comecei lá na Batalha de São Brás, em 2013, a gente só tinha uma caixinha de som. Agora, a gente vai ter uma grande estrutura de som, de luz, e premiação. Isso é muito importante, é valorização das minhas raízes”, diz.
Flor de Mururé mostra a força do batuque e poética de resistência
Rafaela Kennedy
CROA
No dia 1º de setembro, Flor de Mururé abre os caminhos com o show de estreia de “CROA”. Artista transgênero da Amazônia, Flor faz da arte e da fé seu principal instrumento de sobrevivência no país mais transfóbico do mundo. “Eu nunca tinha visto um homem trans no palco. Então quis ser a minha própria referência. Pra mim, o que importa é nosso corpo-território vivo”, diz.
“CROA” já nasce um marco: o disco é, até onde se tem registro, o primeiro trabalho gravado e lançado por uma pessoa trans no Norte do Brasil, com recursos e estrutura necessários para se criar uma grande obra da música popular brasileira.
O trabalho deságua do acúmulo de vivências de Flor, que sai de casa muito jovem, ainda aos 16 anos, diante de tensões familiares relacionadas a sua orientação de gênero. Com dez anos de estudo de violão, canto coral, violino e flauta no Conservatório Carlos Gomes, um dos mais tradicionais do Norte, Flor se torna artista de rua nas rodas de carimbó urbano, e passa a pesquisar ritmos ancestrais. No terreiro de Tambor de Mina, encontra a Mãe Rosa de Luyara, uma travesti líder espiritual.
Como manifesto LGBTQIA+, “CROA” traz para o palco do Memorial dos Povos o talento do Trio Manari, Íris da Selva, Borblue, Mariara Almeida e Manoel Cordeiro, além de shows de abertura de Fé do Batuque e Fernando de Iemanjá. Com sua poesia política e religiosa, “CROA” traz ritmos como coco, hip hop, guitarrada, pop, carimbó e outras sonoridades amazônicas.
“A expectativa é muito grande, um show aberto ao público, é uma realização pessoal, uma reparação histórica ter um corpo trans, do axé, proporcionar esse encontro. Então é um sentimento à flor da pele, que quer sair pelo mundo afora”, declara.
Sumano, Daniel ADR e Flor de Mururé foram selecionados pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear).
Serviço:
Show Sumano: 30/0
Show Daniel ADR: 31/08
Show Flor de Mururé: 01/09
Endereço: Memorial dos Povos, Av. Gov. José Malcher, 257 – Nazaré, Belém
Horário: a partir de 19h
Entrada franca.
Nova música autoral do Pará ocupa o Memorial dos Povos em shows gratuitos
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