Chefão da Meta, dona do Instagram e do Facebook, disse que empresa vai acabar com sistemas de checadores de fatos e afrouxar moderação. Mesmo após receber ataques na campanha eleitoral, o empresário se reaproximou de Trump após a eleição. Mark Zuckerberg anuncia que Meta vai encerrar sistema de checagem de fatos
A decisão da Meta de dispensar checadores de fatos no Instagram e no Facebook é mais um passo na reaproximação da empresa de Mark Zuckerberg com Donald Trump, que assumirá um novo mandato como presidente dos Estados Unidos no próximo dia 20.
A Meta deixará de contar com jornalistas para usar um sistema em que o conteúdo é revisado pelos próprios usuários. O modelo é parecido com as Notas da Comunidade do X, plataforma de Elon Musk, apoiador e integrante do novo governo de Trump.
O chefão da Meta disse na terça-feira (7) que esse é o momento da Meta “voltar às nossas raízes em torno da liberdade de expressão” e que a empresa vai trabalhar com Trump para impedir a “censura” de outros países contra companhias americanas.
Ele também declarou que o Instagram e o Facebook vão sugerir mais conteúdo político aos usuários. “Parece que estamos em uma nova era agora. E estamos começando a receber feedback de que as pessoas querem ver esse conteúdo novamente”, afirmou.
O anúncio desta terça indica que a Meta vai:
Substituir checadores de fatos por Notas da Comunidade, em que o conteúdo é analisado pelos usuários, e não por jornalistas;
Reduzir a moderação em postagens sobre temas como imigração e gênero – a empresa vai permitir relacionar orientação sexual a doença mental, por exemplo;
Afrouxar filtros de moderação para focar apenas no que a Meta considera como violações graves ou severas – no caso de violações leves, a empresa só vai analisar se alguém denunciar o conteúdo;
Mostrar mais conteúdo político novamente, depois de reduzir sugestões desse tipo de conteúdo no passado;
Transferir sua equipe de moderação de conteúdo da Califórnia para o Texas, em uma tentativa de reduzir as preocupações com o viés político de seus moderadores.
A relação entre Zuckerberg e Trump
Trump foi eleito para seu primeiro mandato como presidente dos EUA em 2016. A disputa foi marcada pelo uso indevido de dados de milhões de usuários do Facebook para direcionar publicidade política, no que ficou conhecido como o escândalo Cambridge Analytica.
Zuckerberg admitiu em 2020 que sua empresa estava atrasada na luta contra desinformação. Após falas controversas de Trump e pressão de funcionários, o empresário disse que suas plataformas passariam a moderar mensagens do político.
Em janeiro de 2021, o Instagram e o Facebook suspenderam os perfis de Trump por entenderam que o político estimulou a invasão ao Congresso dos EUA por apoiadores que não concordaram com a vitória de Joe Biden na eleição de 2020.
“Acreditamos que os riscos de permitir que o presidente continue usando os nossos serviços durante esse período são simplesmente muito grandes”, disse Zuckerberg, ao anunciar a decisão, que também foi tomada por outras plataformas.
No fim daquele ano, Trump revelou planos de criar sua própria rede social, a Truth Social. Segundo ele, o objetivo era “enfrentar a tirania das ‘gigantes da tecnologia'” que o tinham silenciado na internet.
As contas de Trump no Instagram e no Facebook foram desbloqueadas em janeiro de 2023, seguindo a medida tomada semanas antes pelo X (então Twitter), que já estava sob o controle de Musk.
Mark Zuckerberg e Donald Trump
AP Foto/Godofredo A. Vásquez; AP Photo/Evan Vucci
Em sua campanha para a eleição de 2024, Trump atacou o presidente da Meta várias vezes.
“Semana passada, o esquisito – ele é um esquisito – do Mark Zuckerberg veio à Casa Branca, puxou meu saco a noite inteira”, disse o republicano em julho de 2022, um ano e meio após ele ter deixado a presidência.
Em 2024, o político chamou Zuckerberg de “inimigo do povo” e disse que o executivo “passaria o resto de sua vida na prisão” se tentasse interferir na eleição. Depois, suavizou e agradeceu o empresário por não se envolver na disputa.
Após a vitória de Trump, os dois se reuniram para um jantar em Mar-a-Lago, onde o republicano tem residência. O movimento também foi feito por empresários como Jeff Bezos, da Amazon, Tim Cook, da Apple, e Sam Altman, da OpenAI.
Em dezembro, a Meta doou US$ 1 milhão para o fundo de posse de Trump, numa tentativa de melhorar o relacionamento com o presidente eleito.
A empresa também anunciou Joel Kaplan, ex-integrante do governo do republicano George W. Bush como vice-presidente de assuntos globais, e Dana White, apoiador de Trump, como integrante de seu conselho administrativo.
Na terça-feira, após o anúncio de Zuckerberg, Trump foi questionado sobre as mudanças. O presidente eleito dos EUA admitiu que suas ameaças “provavelmente” influenciaram os planos da Meta.
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