Ernesto Schmidt Neto, Betinho, também conhecido como o “Anão da Solidão”, foi morto pela PMSC (Polícia Militar de Santa Catarina) no último sábado (4) em Florianópolis. Segundo a PM, ele tentou esfaquear os agentes antes de ser baleado. Mas conhecidos questionam a necessidade dos tiros e dizem que o objeto que Betinho portava era uma “faquinha de serra”. O caso aconteceu na praia da Solidão, no sul da Ilha.
O “Anão da Solidão” era filho único de dona Joaquina, moradora da região, que alugava quartos na sua casa para turistas durante a temporada de verão. A PMSC foi acionada no local após uma inquilina dizer que estava sendo ameaça por Betinho com uma faca.
‘Anão da Solidão’ tinha histórico de surtos psicóticos e era dependente químico, mas estava sozinho em casa, segundo amigos
O psicólogo Thomas Fidryszewski, também morador da Solidão, conta que Betinho tunha surtos psicóticos recorrentes. Ele, que é amigo da família, acompanha os episódios. Ele afirma que Betinho “sofria de transtornos psicológicos que o levaram à dependência química, fatos que potencializavam suas crises psicológicas”.
Fidryszewski relata que os surtos eram comuns, mas que as pessoas que conviviam com Betinho sabiam controlá-los com tranquilidade. Ele questiona a ação dos policiais: “Ele já veio antes para cima de nós com faca, surtado, e a gente conseguia controlá-lo tranquilamente. Com vassoura, segurando os braços ou às vezes dando uma rasteira. E ele caía no chão, se desequilibrava e parava. E aí a polícia argumenta que precisou da executar o cara porque ele foi para cima?”
Segundo relatos de pessoas que presenciaram o acontecimento, tudo teria começado quando Betinho iniciou uma discussão com inquilinos da casa. Durante o desentendimento, ele entrou em surto psicótico, pegou uma faca e expulsou as pessoas da casa. Em seguida, trancou a porta e se manteve dentro da residência.
Uma das inquilinas, já do lado de fora, chamou a polícia. Ao chegarem no local, os agentes arrombaram a porta e dispararam contra Betinho, que morreu na hora.
PMSC investiga o caso
Os policiais afirmaram, no dia da ocorrência, que “Anão da Solidão” estava alterado e tentou atacá-los com uma faca. Um IPM (Inquérito Policial Militar) foi instaurado para investigar a conduta e a reação dos policiais. Procurada pela reportagem por mensagem e telefonema, a Corregedoria Geral da PMSC não se manifestou sobre o caso. O espaço segue aberto.
A Polícia Militar informou que Betinho tinha passagens por diversos delitos, incluindo ameaça, lesão corporal, desacordo comercial, invasão de propriedade, calúnia, dano, furto, dirigir sob efeito de álcool ou drogas, desacato, resistência (desobediência).
‘Mataram um cara que era muito querido pela maioria dos moradores da Solidão’
O psicólogo questiona a necessidade dos disparos: “Eles agiram de uma maneira extremamente desproporcional. Executaram o cara que estava com uma faquinha de serra na mão, um homem com menos de um metro de altura”.
Segundo pessoas próximas, o “Anão da Solidão” portava uma faca de cortar pão e não era a primeira vez que ele tentava atacar alguém, mas suas crises eram conhecidas pelas pessoas próximas e sempre eram controladas. “E ele estava dentro de casa, sozinho, sem oferecer risco a mais ninguém”, complementa Fidryszewski.
“Foi uma injustiça com a nossa comunidade. Mataram um cara que era muito querido pela maioria dos moradores. Alguns não gostavam do Betinho, pelo que ele aprontava aqui na volta, mas ele era muito querido”, lamenta o psicólogo.