Relatos de sintomas como diarreia, náuseas e vômito cresceram na Baixada Santista entre o fim e o início do ano. Médicos infectologistas detalham ação dos vírus e orientam sobre tratamento. Praia de Santos, no litoral de São Paulo, neste sábado (4)
Matheus Muller/g1 Santos
A Baixada Santista, no litoral de São Paulo, começou 2025 com um surto de virose. A situação gerou debates sobre o saneamento e o tratamento de esgoto na região e, na prática, lotou unidades de saúde e farmácias, que sofrem com a escassez de medicamentos. Diante do cenário, o g1 entrou em contato com médicos infectologistas, que orientaram sobre os tratamentos adequados para os sintomas.
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A Prefeitura de Guarujá acredita que o aumento dos casos de virose pode estar relacionado à contaminação do mar por esgoto clandestino. Diante dessa hipótese, a Sabesp foi notificada sobre vazamentos. Além disso, amostras de água da Praia da Enseada foram enviadas ao Instituto Adolfo Lutz para investigar a origem do problema.
O médico infectologista Evaldo Stanislau explicou que a virose é um termo genérico usado para definir doenças causadas por vírus. Segundo ele, o termo é consagrado popularmente para descrever situações em que muitas pessoas ficam doente ao mesmo tempo, com apresentação clínica parecida.
As viroses geralmente afetam o trato gastrointestinal [sistema digestivo], provocando sintomas como diarreia, náuseas, vômitos, cólicas e febre. A duração pode variar de um dia a uma semana, e a desidratação pode ser classificada como leve, moderada ou severa.
Stanislau ressaltou que os agentes etiológicos das viroses se transmitem com grande facilidade de pessoa para pessoa. A transmissão ocorre por meio de alimentos contaminados, superfícies de preparo de alimentos e pelo contato das mãos não higienizadas com a boca.
O infectologista Leandro Curi destacou que diversos vírus podem causar sintomas gastrointestinais, como por exemplo o rotavírus, o adenovírus e o norovírus. No caso das viroses, a transmissão geralmente está associada a ‘surtos’ como o observado na região.
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Questionado sobre a possível contribuição das aglomerações de fim de ano para o cenário, Curi respondeu que é difícil afirmar, pois o vírus causador ainda é desconhecido, embora haja suspeitas.
“Provavelmente, sim. Quantos mais pessoas infectadas, maior a chance de transmissão, se for transmitido por gotículas, por exemplo”, explicou.
Tratamento
De acordo com o Stanislau, é importante diferenciar o tratamento destinado ao combate a vírus e a bactérias, já que, na tentativa de se automedicar, muitas pessoas fazem o uso incorreto de antibióticos. Esses medicamentos são próprios para combater as bactérias.
“O antibiótico tem efeitos colaterais, ele induz resistência e não está indicado nessas situações [para combater vírus]. O uso do antibiótico nesta condição que a gente está vivendo é para casos excepcionais, com evidências de complicações ou infecções bacterianas”, explicou.
UPA Rodoviária em Guarujá (SP) ficou lotada com casos de virose
Reprodução/TV Tribuna
Além do repouso, o paciente deve investir em medicamentos próprios para os sintomas, como as náuseas e as dores. O médico destacou que, muitas vezes, esses sintomas incluem vômito. Isso exige que a pessoa se hidrate frequentemente e em pequenos goles.
“A hidratação deve ser feita com volume de água e líquidos fracionados. Não adianta pegar, por exemplo, um copo americano e tomar de uma vez, porque isso pode dar enjoo e a pessoa vai vomitar em seguida. Então, (deve-se) tomar pequenos goles de líquido o tempo inteiro”, disse Stanislau.
Sem pânico
Idosos e crianças menores de um ano são mais frágeis aos efeitos dos vírus e, portanto, requerem mais atenção. Segundo Stanislau, os moradores em geral não devem entrar em pânico porque a virose tende a passar sozinha em alguns dias.
Ele explicou que, para o restante das pessoas, como adultos e crianças mais velhas que são saudáveis, o quadro é apenas um desconforto.
Com hidratação e uma dieta mais leve, a situação tende a ser benigna e autolimitada, ou seja, resolvida pelo próprio organismo. “Com essa hidratação, uma dieta um pouquinho mais leve, esse é um quadro benigno e autolimitado [tende a ser resolvido pelo próprio organismo]”
Curi ressaltou que, agora, cabe aos sistemas competentes descobrir qual vírus está causando o surto para que ele possa ser contido. “O rotavírus, por exemplo, tem vacinação”, explicou.
Pesquisadora compararando diferentes tipos de vírus
Reprodução/ EPTV (imagem ilustrativa)
Veja orientações, de acordo com Stanislau:
Se estiver enjoado ou vomitando, tome o remédio para vômito
Como o remédio é via oral, é possível que também o vomite e ele acabe não funcionando. Se esse for o caso, existem remédios colocados embaixo da língua que são rapidamente absorvidos.
Caso esteja vomitando, o paciente deve primeiro tratar esse sintoma. Se não estiver, se tiver controlado o vômito ou esteja apenas com diarreia, deve passar à hidratação do organismo.
Números
Vazamento de esgoto na Praia da Enseada, em Guarujá (SP)
Reprodução/TV Tribuna
Confira abaixo dados que reforçam a alta de casos de virose entre os dias 1º e 31 de dezembro nas cidades da Baixada Santista. as informações foram enviadas ao g1 pelas prefeituras da cidade.
Bertioga: O Hospital Municipal da cidade registrou 300 casos de virose;
Cubatão: Em janeiro, a cidade registrou 184 atendimentos nas unidade de saúde. A prefeitura não divulgou os dados de dezembro.
Guarujá: Foram 2.064 atendimentos nas unidades de Pronto Atendimento, sendo que o município registrou 1.457 em novembro;
Itanhaém: Foram registrados 790 casos.
Mongaguá: Houve um aumento de 10% no Pronto-Socorro Central e 15% no Hospital da cidade. A prefeitura não informou o número de casos;
Peruíbe: A administração municipal não informou a quantidade de notificações de virose, mas afirmou que não teve um aumento;
Praia Grande: A prefeitura informou que as unidades de saúde estão realizando atendimentos de pacientes com virose com maior frequência nos primeiros dias no ano. Mas, de acordo com a administração municipal, não foi necessário contabilizar os casos porque a cidade não está em cenário de surto.
Santos: Teve 2.264 atendimentos nas três UPAs em dezembro. Nos primeiros dias do ano, já foram 273.
São Vicente: Foram registrados 1.754 casos. Em novembro, tiveram 1.657. A prefeitura disse que não teve superlotação e falta de analgésicos e antitérmicos nas farmácias da cidade.
Como prevenir?
Casos de virose aumentaram na região
Reprodução/EPTV
O governo estadual divulgou medidas preventivas a serem adotadas para evitar a Doença de Transmissão Alimentar (DTA) no verão, quando há grande concentração de turistas por conta das festas de fim de ano e férias escolares. Veja:
Evite alimentos mal cozidos;
Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados;
Leve seus próprios lanches durante passeios ao ar livre;
Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques;
Lave as mãos antes de se alimentar;
Tenha atenção redobrada com comidas em self-service;
Beba sempre água filtrada;
Não consuma gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sucos e água mineral de procedência desconhecida.
Também é importante prestar atenção à balneabilidade das praias – que define se o mar está próprio ou não para o banho. O boletim divulgado na quinta-feira (2) indica que, das 175 praias monitoradas no litoral, 38 apresentam condição imprópria. Confira no site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
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