Os primeiros resultados de análises laboratoriais feitas indicaram a presença de arsênio no sangue de uma das vítimas e dos dois sobreviventes que comeram o bolo que levou à morte de três pessoas na cidade de Torres, no Rio Grande do Sul. A substância é extremamente tóxica e pode levar à morte.
Os resultados foram coletados pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes e a informação foi confirmada à RBS TV pelo delegado Marcos Vinícius Veloso, responsável pelas investigações do caso.
Para chegar ao resultado, o laboratório analisou sangue da mulher que fez o bolo, do sobrinho-neto dela, que tem 10 anos, e de Neuza Denize Silva dos Anjos, que morreu após comer o doce.
A tia e o sobrinho — que não tiveram nomes divulgados — continuam internados e estão “clinicamente estáveis”, de acordo com o boletim médico divulgado nesta manhã.
“O próprio hospital levou o material para o Centro de Informação Toxicológica. Nesse centro, foi constatado arsênio no sangue de duas vítimas que sobreviveram, que estão no hospital ainda, e de uma mulher que morreu, a dona Neuza”, afirmou o delegado à emissora.
Outras mortes
Neuza, no entanto, não foi a única que morreu após comer o doce. Além dela, outras duas pessoas morreram no intervalo de algumas horas.
Segundo o hospital, Tatiana Denize Silva dos Santos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória. Já a causa da morte de Neuza foi divulgada como “choque pós intoxicação alimentar”.
A mulher que preparou o bolo foi a única pessoa da casa que comeu duas fatias do doce, segundo as investigações. Dessa forma, a maior quantidade do veneno foi encontrada no sangue dela. A polícia ainda investiga as hipóteses de envenenamento ou intoxicação alimentar.
O que é arsênio?
O arsênio é um elemento químico, como explicou o professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) André Valle de Bairros ao g1, e o arsênico é o composto trióxido de arsênio.
“O arsênico trata-se da forma mais tóxica. A partir de 100 mg é possível a morte de um indivíduo adulto. Geralmente, o arsênico está na forma de pó e não tem cheiro ou gosto. Apesar de ter sido usado como raticida, esta droga pode ser empregada para fins de tratamento oncológico em pacientes com leucemia promielocítica aguda e é comercializada como Trisenox”, explicou.
Segundo ele, o arsênico tem a venda proibida no Brasil como raticida e o uso é restrito para fins quimioterápicos.
“O arsênio é um elemento de alta toxicidade conhecida pela humanidade e sempre houve um certo temor. Há locais no globo terrestre ricos em arsênio, e isso contamina fontes de água. Mas é algo que precisa ser muito investigado. Há literatura científica, e de fato, há essa contaminação em leite, carne e frutas, porém, o fato de estar expostos a concentrações maiores de arsênio não significa necessariamente uma intoxicação”, afirmou.
O caso
Sete pessoas da mesma família começaram a passar mal durante um café da tarde em uma casa na última segunda-feira (23) e, dessas, apenas uma não teria comido o bolo. A mulher que fez o doce em Arroio do Sal e levou para Torres também foi hospitalizada.
Os corpos das três vítimas foram encaminhados para necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP). Os resultados devem ser divulgados na próxima semana.
O delegado informou que o ex-marido da mulher que preparou o bolo morreu em setembro por intoxicação alimentar. A morte, no entanto, não chegou a ser investigada pela polícia por ter sido considerada natural. Os policiais instauraram, agora, um inquérito sobre o caso e pediram a exumação do corpo.