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Brasileiros fazem 2°e 3° registro de codornizão para a América do Sul, na ilha de Fernando de Noronha


Ave migratória não costuma passar pela América durante rota. Em 2012, primeira foto ocorreu na ilha e até então a espécie não tinha sido mais vista. Codornizão é ave migratória que não costuma passar pela América durante migração
Nina Wenóli
Os brasileiros Nina Wenóli e João Paulo da Silva foram os responsáveis pelo segundo e terceiro registro da ave codornizão em toda América do Sul (Crex crex). O encontro ocorreu no dia sete de dezembro na ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco.
“Eu estava guiando a Nina e saímos cedo à procura de diversas espécies. Quando chegamos no Açude de Xaréu, que é um excelente ponto para observar aves migratórias, percebi bem de longe, com o binóculo, uma ave que nunca tinha visto antes. Falei para ela começar a fotografar enquanto a gente se aproximava aos poucos”, conta o guia de turismo e de observação de aves João Paulo.
Ave estava muita cansada, por conta disso os observadores acreditam que ela tenha chegado à ilha no mesmo dia
João Paulo
De acordo com o guia, as aves migratórias costumam ser bem ariscas e não toleram muita aproximação. Mas, ao contrário do que imaginava, essa estava bem cansada e exausta e permitiu que a dupla chegasse a cerca de 10 metros, realizando vários registros.
João Paulo conta que ao ver a ave de perto lembrou vagamente de um único registro do WikiAves, plataforma de observadores de aves do Brasil, que lembrava muito o animal. Depois de um tempo, quando foram almoçar e tiveram acesso a internet, a suspeita foi confirmada. Ele e a Nina tinham, de fato, visto e registrado, apenas pela segunda e terceira vez na história, um codornizão.
A ave mede cerca de 30 centímetros de comprimento e apresenta envergadura de pouco mais de 50 centímetros.
Nina Wenóli
“Foi minha primeira vez em Noronha e lá é um lugar incrível. Quando a gente viaja e se dedica a ficar na natureza, sempre encontra coisas novas. Ver essa ave foi um presente do céu, fiquei muito feliz e ainda sei que são informações coletadas que ajudam também a ciência”, diz Nina, que é observadora de aves há pouco menos de 10 anos e já registrou 1489 espécies de aves apenas no Brasil.
Raridade e motivo da aparição
O registro é considerado raro pelo fato da espécie não habitar o Brasil. O codornizão se reproduz na Europa, na Ásia Central e no Oeste da China. Depois, migra para passa o inverno do hemisfério Norte na África subsaariana.
A ave mede cerca de 30 centímetros de comprimento e apresenta envergadura de pouco mais de 50 centímetros. O peso varia entre 130 e 210 gramas.
O codornizão nidifica em terra aberta e faz muito uso de vegetação do pântano para construir seu ninho
Nina Wenóli
Segundo o ornitólogo Fábio Olmos, a ave registrada é um jovem, já que adultos apresentam partes cinza-azuladas na cabeça, pescoço e no peito. Ele afirma que a espécie está em declínio na Europa por conta da intensificação da agricultura e explica o motivo de um codornizão ter sido visto por aqui.
“Enquanto estava migrando para a África, o indivíduo deu o azar de pegar uma tempestade, o que acho mais provável, ou se perdeu mesmo e acabou aterrizando em Noronha”, explica o pesquisador que escreveu um artigo sobre o primeiro registro da espécie no Brasil e acredita que a ave fotografada nesse mês seja um jovem, por conta da coloração.
Foi em 2012, também em Noronha, no mesmo local: Açude de Xaréu. O jornalista Kleber de Burgos conseguiu fazer, a cerca de 15 metros de distância, nove fotos até que a ave desapareceu na vegetação.
Codornizão registrado no Açude de Xaréu, em 2012
Kleber de Burgos
Aves migratórias
De acordo com o ornitólogo Vitor Piacentini, Fernando de Noronha, por conta da localização, é um destino esperado para receber vagantes do velho mundo. “Tem registros de vagantes em quase todas as ilhas oceânicas do Atântico tropical, Canárias, Açores, Madeira…, bem como na Islândia, Groenlândia e costa da América do Norte até o Caribe”, explica.
Para ele, o grande número de aves migratórias mundo afora sugere que os indivíduos da espécie têm alta capacidade de dispersão e propensão a serem desviados de rota por ventos.
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