A Rússia investiga um atentado que vitimou, nesta terça-feira (17), o tenente-general Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química do país europeu, e um assessor do militar.
A explosão aconteceu em Moscou, quando Kirillov, de 54 anos, saía de um complexo residencial. Um artefato explosivo, escondido em uma scooter (patinete elétrico), foi detonado remotamente.
O atentado em Moscou desta terça-feira tem como pano de fundo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Isso porque, segundo a Agência Reuters, uma fonte do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) afirmou que a agência de inteligência ucraniana está por trás do atentado.
O atentado que matou Igor Kirillov
Na madrugada desta terça-feira, o general Igor Kirillov saía de um complexo residencial em Moscou. Segundo o Comitê de Investigação da Rússia, um dispositivo escondido em uma scooter explodiu e vitimou o militar e o adjunto dele.
– Um artefato explosivo colocado em uma scooter estacionada perto da entrada de um imóvel residencial foi ativado na Avenida Ryazansky, em Moscou. O comandante das forças russas de defesa radiológica, química e biológica, Igor Kirillov, e seu adjunto morreram – disse o Comitê, em comunicado.
De acordo com a agência de notícias estatal Tass, o artefato, com cerca de 300 gramas de TNT (um explosivo), foi detonado de forma remota.
Desde abril de 2017, Igor Kirillov ocupava a chefia das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química da Rússia. Recentemente, o general recebeu sanções do Reino Unido, pela acusação de supervisionar o uso de armas químicas na Ucrânia.
Por sinal, o serviço de segurança da Ucrânia, nesta segunda-feira (16), acusou o general russo morto de ser o “responsável pelo uso em massa de armas químicas proibidas.”
Quem foi Igor Kirillov?
Segundo a Agência Tass, Igor Kirillov frequentou a Escola Superior de Comando Militar de Defesa Química de Kostroma. Na trajetória pelas Forças Armadas da Rússia, o militar atuou em funções associadas a materiais perigosos. Entre 2014 a 2017, Kirillov comandou a Academia Militar de Radiação, Defesa Química e Biológica.
Em 2017, Kirillov foi alçado ao posto de chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química. No cargo, ele se tornou uma importante figura nas políticas de defesa do governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia. Kirillov era considerado um patriota pelos russos, enquanto sofria punições de outros países e convivia com acusações.
O general russo também se tornou um “porta-voz polêmico” do governo, com declarações contundentes e rebatidas por outros países. Kirillov é um nome importante no contexto com a guerra com a Ucrânia.
A participação do general na guerra com a Ucrânia
Em 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia e iniciou uma guerra que dura até hoje. O discurso de Kirillov ajudou a pavimentar o caminho para o conflito. Ele acusou o país vizinho de produzir uma “bomba suja”, além de utilizar armas químicas recebendo ajuda de países do Ocidente, algo rebatido por especialistas.
Igor Kirillov também afirmou que os Estados Unidos estavam construindo laboratórios de armas biológicas na Ucrânia. O general era considerado da “linha-dura” em relação à guerra com os ucranianos.
O discurso de Kirillov, por sinal, virou alvo de questionamentos. O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, por exemplo, rotulou o general de “importante porta-voz de desinformação do Kremlin.”
O Reino Unido também sancionou Igor Kirillov, com punições que envolviam congelamento de bens e proibição de viajar. A principal acusação foi a que ele havia supervisionado o uso de armas químicas na Ucrânia. O Canadá e a Nova Zelândia também sancionaram o general russo.
Já o Serviço de Segurança da Ucrânia acusou o militar russo de crime de guerra. A agência ucraniana aponta que, sob a liderança de Kirillov, a Rússia usou armas químicas mais de 4,8 mil vezes desde o início da invasão. Ainda segundo a agência ucraniana, drones russos lançaram armas químicas contra os soldados da Ucrânia. A Rússia nega as acusações.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos, em maio deste ano, declarou que registrou o uso do agente asfixiante cloropicrina, uma arma química utilizada na Primeira Guerra Mundial, contra as tropas da Ucrânia. A Rússia rebateu e negou as acusações.
A retórica alinhada à invasão russa e o discurso forte e campanha de desinformação também marcaram o papel do general no conflito com a Ucrânia.
Detalhes do atentado em Moscou
O Comitê de Investigação da Rússia apura mais detalhes sobre o atentado e o patinete elétrico explosão. Investigadores e peritos forenses, além de serviços operacionais, trabalham no local do atentado. O artefato que vitimou o general e o adjunto danificou a entrada do prédio e janelas dos apartamentos.
Porta-voz do Comitê russo, Svetlana Petrenko afirmou que o “incidente foi classificado como ato terrorista, assassinato, tráfico ilegal de armas e munição.”
Oficialmente, o governo da Ucrânia, até o momento, não se manifestou sobre a morte do general. Entretanto, fontes da Agência Reuters apontam que o Serviço de Segurança da Ucrânia está por trás do atentado.
A explosão aconteceu perto do Kremlin, complexo no centro de Moscou que é sede do governo russo. O imóvel residencial fica a cerca de 6,5 km do Kremlin.
Moradores do local relataram à agência de notícias AFP que ouviram um “barulho de explosão muito alto”. Inicialmente, eles suspeitaram que poderia ter acontecido algo em um canteiro de obras. Depois, contudo, viram que não foi o caso.
O atentado contra Igor Kirillov ganhou repercussão internacional pelo contexto que envolve a Rússia e a Ucrânia. A interpretação é que pode resultar em uma escalada do conflito.
Repercussão e implicações
A Rússia já trata o atentado como um ato de terrorismo, o que pode interferir na dinâmica do conflito com a Ucrânia. O fato de o episódio ter sido em Moscou, perto do Kremlin, também tem peso.
Além disso, Kirillov era um homem de confiança de Putin e do alto escalão militar das forças de defesa nuclear Rússia. Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova lamentou a morte de “um general corajoso que nunca se escondeu nas costas dos demais.”
Já Konstantin Kosashev, vice-presidente do Conselho da Federação, do parlamento russo, afirmou que “os assassinos serão punidos sem nenhuma dúvida e sem piedade.”
O mundo, agora, aguarda a apuração do atentado e a reação da Rússia, no que pode ser um ponto sensível em relação aos desdobramentos da guerra com a Ucrânia e da geopolítica.