Se considerado todo o gasto público do Sistema Único de Saúde (SUS) com pessoas que desenvolveram diabetes, hipertensão e obesidade, 25% (ou R$ 933,5 milhões) é destinado somente a pacientes que tiveram essas doenças devido ao consumo de ultraprocessados. Alimentos ultraprocessados e aditivos alimentares
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Um levantamento realizado pela Fiocruz Brasília e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade de São Paulo, a pedido da organização não-governamental ACT Promoção da Saúde, apontou que o consumo de alimentos ultraprocessados custa R$ 10,4 bilhões por ano à saúde e à economia no Brasil.
O montante engloba custos diretos do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente nos casos de hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2. Além de valores previdenciários e as perdas econômicas devido às mortes atribuídas ao consumo de ultraprocessados.
O valor total está dividido da seguinte maneira:
🍟 R$ 9,2 bilhões por ano são por mortes prematuras (custos que representam as perdas econômicas pela saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho);
🍪 R$ 933,5 milhões por ano são os custos com o tratamento no SUS (hospitalares, ambulatoriais e com o programa Farmácia Popular), com diabetes, hipertensão e obesidade;
🍔 R$ 263,2 milhões por ano são custos previdenciários (aposentadoria precoce e licenças médicas) e custos por absenteísmo (internações e licenças médicas).
🩺 Peso dos ultraprocessados
A pesquisa apontou que dos R$ 9,2 bilhões gastos que são relacionados à mortalidade prematura – também chamado de custo indireto estão divididos em:
♂️ 71,73% (ou R$ 6,6 bilhões) referem-se aos custos da mortalidade entre os homens;
♀️ e 28,26% (ou R$ 2,6 bilhões) entre as mulheres.
Além disso, se considerado todo o gasto público do SUS com pessoas que desenvolveram diabetes, hipertensão e obesidade, 25% (ou R$ 933,5 milhões) é destinado somente a pacientes que tiveram essas doenças devido ao consumo de ultraprocessados.
O estudo também trouxe um detalhamento por estado das mortes precoces associadas ao consumo de ultraprocessados. Em 2019, no Brasil, 57 mil mortes são atribuíveis a esses alimentos – o número equivale a 10,5% do total de mortes no país.
🗺️ Veja abaixo os sete estados onde a proporção de mortes por ultraprocessados foi maior que a média nacional na época:
Rio Grande do Sul (13%);
Santa Catarina (12,5%);
São Paulo (12,3%);
Distrito Federal (11,7%);
Amapá (11,1%);
Rio de Janeiro (10,9%);
e Paraná (10,7%).
“Os dados dessa pesquisa mostram a urgência da adoção de políticas públicas voltadas para a redução do consumo de produtos ultraprocessados, como tributação adequada ou a reforma tributária, a rotulagem nutricional e a regulação da venda e marketing desses produtos, entre outras estratégias para reduzir a carga epidemiológica e econômica das doenças associadas ao consumo no Brasil”, afirmou Eduardo Nilson, pesquisador responsável pelo estudo.
⚠️ Vale destacar que o levantamento não contabilizou os custos diretos de todas as doenças associadas a ultraprocessados. O estudo limitou-se aos valores federais do SUS, e apenas da população adulta. Além disso, não considerou os gastos com doenças na atenção primária (acompanhamento da população pelas unidades básicas de saúde e equipes de saúde da família), na saúde suplementar ou nos gastos particulares. E, devido a restrições metodológicas, os cálculos indiretos incluem somente a população formalmente empregada.
Ou seja, para Nilson, como não é possível contabilizar todo o impacto, “esses números [de R$ 10,4 bilhões] são apenas a ponta do iceberg de um problema e impacto econômico muito maior”.
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98% dos ultraprocessados no Brasil têm ingredientes nocivos
Outro estudo publicado no ano passado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo, com colaboração de outras instituições, apontou que 98% dos ultraprocessados no país têm ingredientes nocivos.
Para chegar nesse valor, foram analisados 10 mil produtos considerados ultraprocessados — ou seja, aqueles que, segundo o Nupens na chamada Classificação Nova, “não são propriamente alimentos, mas, sim, formulações de substâncias obtidas por meio do fracionamento de alimentos”.
🥤 Entre eles estão refrigerantes, salgadinhos de pacote, pães e outros panificados embalados, margarina, bolachas, doces, chocolates, cereais matinais e misturas para a preparação de bebidas com sabor frutas.
Conforme o estudo, 97,1% dos alimentos classificados como ultraprocessados têm pelo menos um ingrediente crítico em excesso — sódio, gorduras e açúcares livres.
Já os chamados aditivos cosméticos — ingredientes utilizados para realçar a cor, o sabor ou a textura — estão presentes em 82,1% dos produtos.
“É mais difícil estudar o efeito isolado de cada aditivo ou o combinado de diferentes aditivos do que estudar o efeito de nutrientes críticos na saúde. Mas existem evidências da relação entre corantes e desenvolvimento de alergias e de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, emulsificantes com alteração da microbiota intestinal, nitritos e desenvolvimento de câncer”, explica a nutricionista Daniela Canella, pesquisadora da Uerj e autora principal do artigo.
Com a sobreposição desses dois pontos — o percentual de alimentos com ingredientes críticos em excesso e aqueles com aditivos cosméticos — os pesquisadores chegaram ao alarmante índice de 98,8% de alimentos com potencial para causar problemas, uma vez que há alimentos que apresentam as duas características e outros que têm apenas uma delas.
Consumo de alimentos ultraprocessados gera aumento de doenças ligadas à obesidade