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G20 no Rio: os erros e acertos da Cúpula dos Líderes


Encontro das principais economias do planeta aconteceu pela primeira vez no Brasil. André Trigueiro faz um balanço do G20 no Rio: ‘Do meu ponto de vista, foi histórico’
Após dois dias intensos de discussões, a Cúpula do G20 no Rio de Janeiro chegou ao fim, consolidando um espaço de diálogo fundamental entre as principais economias do mundo.
Durante o evento, líderes globais abordaram temas como paz na Ucrânia, mudanças climáticas e desigualdade social.
Além disso, o G20 Social, uma iniciativa inovadora, permitiu que movimentos sociais e cidadãos contribuíssem ativamente para as discussões, ampliando a representatividade e o impacto do evento.
Segundo a colunista do g1 Sandra Cohen, o consenso alcançado na declaração final do G20 representa uma vitória do Brasil. No entanto, o documento não tem caráter vinculante.
“Ou seja, suas resoluções podem ser aprovadas pelos líderes presentes à reunião de cúpula, mas não aplicadas”, explica.
Já o comentarista da GloboNews André Trigueiro avalia que o encontro foi histórico, já que quase um terço da declaração final tem tópicos relacionados ao desenvolvimento sustentável e transição energética.
Agora, as propostas e recomendações seguirão para os chefes de Estado, com a expectativa de influenciar futuras políticas globais​.
“Deixamos a lição de que, quanto maior a interação, maior o resultado dos nossos trabalhos”, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento.
Por outro lado, o evento teve uma saia justa durante o registro da foto oficial, além de uma fala da primeira-dama Janja que causou polêmica e foi criticada por diplomatas.
Confira abaixo um resumo do que deu certo e do que deu errado durante o G20.
3ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Desenvolvimento Sustentável e Transição Energética
Ricardo Stuckert/PR
Acertos
APROVAÇÃO DA DECLARAÇÃO DE LÍDERES
Antes do encerramento, G20 divulga declaração de líderes
A Declaração de Líderes do G20 do Rio foi aprovada com consenso. O texto trata em detalhes os temas prioritários e pede o fim das guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza e a taxação dos ultrarricos, nomeados como “indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto” (veja os principais pontos).
Para a colunista do g1 Sandra Cohen, o consenso na declaração final representa uma vitória da diplomacia brasileira, que não cedeu às reclamações de última hora apresentadas pelos negociadores de países europeus e pelo presidente da Argentina, Javier Milei.
“O consenso entre os 19 países, além da União Europeia e União Africana, deixou de fora as divergências entre seus participantes”, afirmou.
No caso dos conflitos regionais, vale ressaltar que o documento não citou a Rússia no contexto do conflito na Ucrânia. O país é um dos membros do G20 e estava representado no encontro pelo chanceler Sergey Lavrov.
Além disso, mesmo destacando as preocupações humanitárias com o povo palestino, o grupo terrorista Hamas, o grupo extremista Hezbollah e as ações de Israel questionadas pela comunidade internacional também não foram diretamente citados.
Nesses dois casos, é comum que haja um consenso por um texto mais generalista para facilitar a aprovação da declaração final. Segundo Paulo Velasco, professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o documento evita apontar culpados.
“Ou seja, não faz qualquer menção crítica a Israel ou à Rússia, mas destaca as dramáticas situações humanitárias em ambos os casos”, afirmou em entrevista à Associated Press.
Também ganhou repercussão durante a Cúpula o fato de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter aprovado o uso de mísseis americanos pela Ucrânia contra a Rússia. A autorização levantou temores de uma resposta russa, que já fez ameaças nucleares.
“A reunião de cúpula no Rio ocorreu sob o impacto de um ataque em larga escala da Rússia, com 120 mísseis e 90 drones contra a infraestrutura de energia da Ucrânia”, analisa Sandra Cohen.
Na declaração, os líderes se comprometeram a avançar na meta de um mundo livre de armas nucleares.
COMBATE À POBREZA E À FOME
Natuza Nery: Declaração final do G20 é vitória bem demarcada da diplomacia brasileira
Além de chegar a um acordo entre os países do G20 para a divulgação de um documento final, o que não acontecia há dois anos, o Brasil também conseguiu concretizar o compromisso de formar uma Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza.
O lançamento do pacto, com estratégias como transferência de renda, programas de alimentação escolar e acesso a microcrédito, foi considerado uma vitória da diplomacia brasileira.
Apesar de considerar a produção global de alimentos suficiente, a Cúpula apontou a necessidade de vontade política para garantir acesso amplo e equitativo.
INICIATIVA GLOBAL SOBRE MUDANÇA NO CLIMA
G20 Social
Divulgação
Durante o G20, o Brasil lançou a Iniciativa Global sobre Mudanças no Clima, em parceria com a ONU e a Unesco. O programa visa fortalecer pesquisas científicas e combater fake news que levam à desinformação sobre o aquecimento global.
Chile, Dinamarca, França, Marrocos, Reino Unido e Suécia também adotaram a iniciativa. Cada integrante irá colaborar com um fundo da Unesco, que deve arrecadar até US$ 15 milhões nos próximos 36 meses.
Esses recursos serão direcionados para organizações não governamentais com o objetivo de apoiar pesquisas sobre informação climática, além de estratégias de comunicação e campanhas de conscientização.
Na declaração final do G20, os países concordaram em limitar o aumento da temperatura média global em 1,5ºC, manter esforços para alcançar a emissão zero de gases do efeito estufa, além de triplicar a capacidade de energia renovável no mundo.
O comentarista da GloboNews André Trigueiro disse que o Rio de Janeiro voltou a fazer história após 32 anos, quando aconteceu a Rio-92. À época, o termo “desenvolvimento sustentável” começou a se popularizar.
“Agora a gente volta a fazer história porque, pela primeira vez em uma declaração final das maiores economias do mundo, no G20, aparece um comprometimento, por escrito. 30% dos 85 itens da declaração final falam de desenvolvimento sustentável, transição energética e ação climática”, afirma.
Por outro lado, diante da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, a colunista Sandra Cohen acredita que os Estados Unidos não deverão assumir esses compromissos.
“A contar pelas promessas de campanha, que ele vem reafirmando pelas indicações em seu governo, tudo indica que ele também engavetará os documentos.”
JAVIER MILEI CEDEU
Milei, a irmã dele, Karina Milei, Lula e a primeira-dama, Janja
Presidência do Brasil via Reuters
Apesar de divulgar uma lista de ressalvas à Agenda 2030, o presidente da Argentina, Javier Milei, cedeu e também aderiu à declaração.
Devido às discordâncias anunciadas, havia a dúvida sobre a concordância do argentino em temas como a taxação de super-ricos e igualdade de gênero.
Mesmo assim, a Presidência da Argentina divulgou um comunicado afirmando que a assinatura da declaração final do G20 estava sendo feita com ressalvas.
Milei disse que não concordava com vários pontos da declaração, principalmente em relação ao conteúdo que abordava os objetivos da Agenda 2030.
“O presidente argentino aprovou a carta discordando, num prenúncio evidente de que, sob o seu governo, guardará o documento no fundo de uma gaveta”, analisa Sandra Cohen.
G20 SOCIAL
G20 Social chega ao fim com leitura e aprovação de documento com pautas da sociedade civil
Iniciativa inédita do Brasil, o G20 Social contou com a participação do público nas discussões que buscam soluções para os desafios globais.
O documento defendeu a “taxação progressiva dos super-ricos”, destacou que a democracia “está em risco quando forças da extrema direita promovem desinformação” e cobrou uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, com maior participação de países do Sul Global.
Lula destacou que o objetivo do G20 Social era que a sociedade civil “assumisse o papel de reforçar para que as coisas aconteçam de verdade para o povo”, e disse ainda que “a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e de burocratas”.
“O G20 tem que acontecer todo santo dia, porque tem 733 milhões de habitantes passando fome”, declarou.
SEGURANÇA DOS LÍDERES
Soldados em passarela no Aterro do Flamengo durante a cúpula do G20
Cristina Boeckel/ g1
O plano de segurança montado para a Cúpula do G20 foi executado com eficiência, garantindo a proteção dos líderes mundiais e o funcionamento das atividades sem incidentes graves. Apesar do roubo de três carros a serviço do evento, ninguém ficou ferido. Os veículos foram recuperados.
O esquema contou com o envolvimento de milhares de agentes das forças de segurança, operações integradas de monitoramento e restrições estratégicas no trânsito da cidade e no metrô. Por medida de segurança, o Aeroporto Santos Dumont permaneceu fechado nos dias 18 e 19.
As medidas adotadas foram determinantes para evitar transtornos e assegurar o sucesso logístico do evento, que reuniu representantes de várias partes do mundo.
As delegações estrangeiras também adotaram medidas próprias de segurança. A equipe de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, trouxe galões de água e comida própria para o norte-americano, por exemplo.
Já a segurança de Xi Jinping, presidente da China, pediu uma varredura em todos os 400 quartos do hotel onde a delegação se hospedou. A praia próxima ao edifício também ficou restrita a pessoas que fazem parte da equipe.
Macron corre na orla do Rio de Janeiro
Mesmo com a agenda apertada, alguns líderes tiveram tempo de aproveitar a Cidade Maravilhosa sem intercorrências. O presidente da França, Emmanuel Macron, passeou e fez corridas pelas orlas de Ipanema e Copacabana. Simpático, também tirou selfies com populares.
Jonas Gahr Støre, primeiro-ministro norueguês, também circulou pela cidade. No domingo (17), correu na praia, mergulhou em Copacabana e até apitou uma partida de futebol de areia. Ainda visitou Santa Teresa, onde serviu e comeu bacalhau em um restaurante.
Primeiro-ministro da Noruega visita Santa Teresa e come bacalhau em restaurante
Os erros
XINGAMENTOS DE JANJA
Janja cobra regulação das redes sociais e xinga Elon Musk
A participação da primeira-dama no G20 Social causou polêmica e repercussão. Janja xingou o bilionário Elon Musk — “Fuck you, Elon Musk!” — durante um discurso sobre a necessidade de regulamentação das redes sociais.
Para diplomatas e especialistas, a fala pode impactar negativamente as relações do Brasil com o futuro governo de Donald Trump, recém-eleito para um 2º mandato presidencial nos Estados Unidos.
No mesmo discurso, Janja se referiu ao autor do atentado em Brasília como “bestão”, ao citar a ausência do ministro Alexandre de Moraes, do STF, no evento após o ocorrido.
As declarações foram comemoradas por aliados de Bolsonaro.
Sem citar a esposa, o presidente Lula fez uma repreensão pública pouco depois das declarações: “Não temos que xingar ninguém”.
Lula após Janja atacar Elon Musk: “Não temos que xingar ninguém”
SAIA JUSTA EM FOTO OFICIAL
Primeira foto oficial do G20 no Rio, sem Biden, Trudeau e Meloni
Ricardo Stuckert/PR
A foto oficial dos chefes de Estado, tradição retomada após dois anos, causou uma saia justa após a ausência de três líderes.
O registro, nos jardins do MAM, não contou com as participações de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá. Ambos estavam reunidos. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, também ficou de fora.
Os três se atrasaram, e o cerimonial não esperou para fazer o registro. A pedido de Biden, o G20 fez um novo registro com os faltosos. Veja abaixo.
Não posaram desta vez o argentino Javier Milei, a mexicana Claudia Sheinbaum, o britânico Keir Starmer e o russo Sergey Lavrov. Até a última atualização desta reportagem, não se sabia por que eles não apareceram no palanque — agora interno, de três andares, com um painel do Rio ao fundo.
Foto oficial do G20 (ou foto de família) agora com a presença do presidente Joe Biden, dos EUA
Ludovic Marin/AFP
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