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Juiz negro do Paraná afirma que toga não o protege do preconceito: ‘Já me perguntaram: o juiz está aí?’


De 951 juízes do TJ-PR, 17 são pretos. Malcon Jackson Cummings, um deles, sente que por conta da cor da pele, precisa se mostrar ‘acima da média’ em qualquer ambiente. Malcon Jackson Cummings é juiz do TJ-PR
Paulo Roberto Martins/RPC
Na luta contra o preconceito racial, nem a toga, manto usado por juízes, é capaz de proteger uma pessoa preta. É o que mostra a experiência do juiz Malcon Jackson Cummings, titular da comarca de São João do Ivaí, no norte do Paraná.
“‘Já tive situações aqui dentro da minha sala, de [pessoas chegarem,] eu abrir a porta e me perguntarem: O juiz está aí? […] A minha figura/o meu corpo negro em movimento aqui não condiz com aquilo que as pessoas esperam que seja um juiz.”
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Cummings integra uma parcela pequena de magistrados pretos no Paraná. De 951 juizes do Tribunal de Justiça (TJ-PR), 17 são pretos (2%). O número tem um pequeno aumento e sobe para 21 (6,2%) quando se considera o total de juízes negros – termo que também acolhe pessoas que se autodeclaram pardas.
No Paraná, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um terço da população (34,3%) é formada por negros.
Apesar de experienciar o racismo na profissão, ele diz que se esforça para que as pessoas descontruam a imagem de que todo juiz é branco.
“Eu faço todo o possível para que as pessoas vejam e desconstruam a imagem de que o juiz não é sempre um juiz branco, de olhos claros, loiro, que seja. Mas existe a possibilidade de haver um juiz negro. Eu estou aqui para isso”, ressalta.
Cummings é o representante do Paraná na Diretoria de Igualdade Racial da Associação dos Magistrados Brasileiros e afirma sentir que, por ser negro, precisa se esforçar mais do que pessoas brancas para mostrar e provar as próprias aptidões – e isso em qualquer ambiente.
Com a experiência que tem, ele usa a própria história para conscientizar pessoas para que outros pretos não passem pelo mesmo.
“Todos os dias eu, enquanto um homem negro, seja no mercado de trabalho, seja na escola, seja em qualquer outro lugar, tenho que me mostrar acima da média. Não basta eu agir na média. Para que eu não só sobreviva, mas para que eu consiga mostrar o meu valor […] Eu estou aqui para que os meus filhos, os meus netos e as pessoas que eu conheço não precisem todos os dias mostrar, assim como eu precisei e preciso, que são acima da média”, destaca.
Malcon Jackson Cummings é juiz do TJ-PR
Paulo Roberto Martins/RPC
Negros no Paraná
De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um terço da população do Paraná é negra (34,3%). Ao todo, o estado tem 11,4 milhões de habitantes.
7,38 milhões se declaram brancos;
3,44 milhões se declaram pardos;
485 mil se declaram pretos;
100 mil se declaram amarelos;
e 28 mil se declaram indígenas.
Na distribuição proporcional, isso representa que o estado tem 64,6% de brancos, 30,1% pardos, 4,2% pretos, 0,9% de amarelos e 0,2% indígenas.
Em relação ao Censo de 2010, a população do Paraná que se declara preta foi a que apresentou o maior aumento proporcional, com crescimento de 46,8%. Na sequência, o segundo maior aumento foi da população parda, com crescimento de 31,3%.
Os dados apontam também que entre um Censo e outro o número de pessoas brancas no Estado aumentou 9,6%, e o de indígenas, 8%. Entre os amarelos, a queda foi de 18,6%.
RPC tem série de reportagens especiais sobre o tema
Vinheta da série da RPC, Negros no Paraná
Gabriel Trinetto/RPC
A história de combate ao racismo e ao preconceito de Cummings é um dos destaque da série Negros no Paraná, do Meio-Dia Paraná, que detalha a importância de negros no estado.
A série faz alusão ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado nesta quarta-feira (20), pela primeira vez, como feriado nacional. Veja e reveja abaixo:
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