Internamente, há um desafio razoável para o próximo governante norte-americano no campo econômico.
Apesar do desemprego ter recuado para níveis bastante baixos e históricos — o índice atual havia sido registrado ao final dos anos 1960 — há uma persistente subida da inflação que corrói a renda das famílias e rebaixa o poder aquisitivo. Forma-se uma espiral negativa: salários baixos, custo de vida crescente, inflação alta, esvaziamento do poder de compra.
Trump diz que vai agir, mas a verdade é que não se sabe bem como e há um risco real de suas ações gerarem mais inflação e juros altos, o que compromete o crédito e a geração de empregos.
Ainda no campo interno, o presidente eleito houvera prometido em sua campanha construir um muro na fronteira com o México e expulsar os imigrantes ilegais. A primeira medida soa mais como bravata, a segunda medida é preciso ser adequadamente entendida.
Por concepção ideológica, os republicanos são menos tolerantes em questões imigratórias e Trump deverá retomar esse rigor. Dito isso, imaginar um grande movimento de exclusão de estrangeiros de solo norte-americano é algo exagerado. Não vai acontecer.
Aliás, dado curioso dessa eleição foi o fato do candidato republicano ter contado com o substancial auxílio da comunidade latina em apoio ao seu nome. Muito embora Kamala Harris tenha sido a preferida da maior parte desse grupo, essa vantagem foi muito menor do que a esperada, 55% x 45%, indicando que muitos latinos apoiaram Trump.
Por que isso se deu? Uma hipótese é o conservadorismo marcante dessa comunidade, criando assim uma identidade com Donald Trump. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a gays, negros e mulheres ligados a valores mais tradicionais de família, relacionamentos e sociedade, grupos que, mesmo numa proporção menor se compararmos com o apoio dado a Kamala, deram algum suporte à Trump.
De todo modo, frise-se que Trump já mostrou separar bem campanha de mandato. Não esqueçamos que ele já cumpriu um mandato presidencial em 2016 e não adotou nenhum gesto ou medida extrema do ponto de vista administrativa. A ideia de que seria ele uma espécie de líder guerreiro, um “senhor das armas” do século XXI, não foi vista em sua primeira passagem pela Casa Branca e muito provavelmente não será vista agora do mesmo modo.
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