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Monotonia no Oriente Médio? Nunca

Mulher diante dos escombros de edifício da agência da ONU de ajuda aos refugiados palestinos (UNRWA) no bairro de Al Sinaa, em 12 de julho de 2024, na cidade de GazaOmar al Qattaa

O Oriente Médio pode ser distante, controverso, plural, desértico, incompreensível – mas nunca monótono. Cada semana reserva eventos diversos, muitas vezes de arrepiar os cabelos de cidadãos com juízo tipicamente ocidental (como eu sou – ou era até o dia 6 de outubro). Falemos sobre uma pequena parte do que está acontecendo por aqui.

O governo israelense divulgou a confirmação de que 51 dos 101 reféns ainda prisioneiros na Faixa de Gaza estão vivos. Destes, 37 já estão comprovadamente mortos há meses e suas famílias aguardam o resgate de seus corpos para que sejam sepultados segundo as leis judaicas. Poucos conhecem os rituais de luto e sepultamento judaicos. Para resumi-los, basta dizer que os judeus consideram o corpo um elemento tão sagrado quanto a alma e, assim, enterrá-los apropriadamente é muito mais do que uma forma de assimilar a perda e fechar um tristíssimo ciclo. 

A história de Eitan Yahalomi, de 13 anos, mantido prisioneiro por 51 dias em Gaza

A conta-gotas, são divulgados por aqui novos vídeos e testemunhos de reféns que retornaram aos seus lares. Todas as histórias são simplesmente inacreditáveis. Vivos ou mortos, todos precisam voltar. Antes disso, os israelenses dificilmente aceitarão qualquer tipo de acordo de cessar-fogo que não preveja sua libertação – o que deve ser desolador especialmente para os cidadãos de Gaza, uma vez que o Hamas obviamente perdeu essa guerra. Ele já não governa a Faixa, o território está devastado, a população, traumatizada e deslocada de suas casas. No entanto, o grupo terrorista recusa-se a aceitar a derrota e negociar termos que permitam que o exército israelense se retire e que seja iniciado um processo de recuperação (de ambos os lados). 

Em guerras, sabemos: elas terminam quando um lado aceita sua derrota e negocia os termos – ditados pelo vencedor – que marcarão o fim do conflito. Mas isso não acontece quando se trata de Israel em função da pressão internacional sobre o país que clama por um cessar-fogo incondicional. E é justamente essa pressão uma das armas de guerra do Hamas: o grupo terrorista conta com a bondade (ou por vezes a malícia) dos países do mundo para “salvá-lo da derrota” toda vez que inicia uma nova guerra com seu vizinho mais poderoso e, em seguida, começa a divulgar a tragédia humana resultante como responsabilidade de Israel. Basta observar o que aconteceu nessa guerra e em todas as passadas, sempre iniciadas pelo Hamas: o grupo ataca já arquitetando o excesso de mortandade ao utilizar instalações civis como bases militares e não construir uma única estrutura de proteção para seus cidadãos. Em seguida, conta com o mundo para interromper as “agressões” de Israel. 

Sempre levamos a fama de mau, mesmo quando o adversário é um grupo terrorista que mata os nossos e os deles.

A ONU como parte do problema

A Organização das Nações Unidas é um personagem central da guerra atualmente travada por Israel e por essa razão o país está exigindo a desmobilização de duas agências criadas especialmente para lidar com o conflito entre Israel, Hamas e Hezbollah – o primeiro, um grupo de terrorista estabelecido em Gaza, o segundo, no Líbano, e ambos financiados pelo Irã e pelo Catar.

A UNRWA foi criada em 1949, logo após a Guerra pela Independência de Israel travada com as nações árabes vizinhas, que a atacaram inconformadas com a criação de uma nação judaica nessa parte do mundo (pela própria ONU). O papel da UNRWA deveria ser o de assentar os cerca de 600 mil refugiados palestinos que abandonaram suas casas durante o conflito. No entanto, em vez de fazê-lo, criaram uma regra que impossibilitou até hoje a criação de um Estado palestino, ao conceder o status de refugiado não apenas àqueles que efetivamente se deslocaram, mas também a todos os seus descendentes: em números atuais, mais de 5 milhões de pessoas. Todas elas pleiteiam o direito de viver em Israel, não nos territórios palestinos.

Funcionários da UNRWA comprovadamente participaram da invasão do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023. Há vídeos mostrando corpos de israelenses sendo levados e reféns resgatados afirmam que foram mantidos prisioneiros por pessoas ligadas por eles.

Câmeras de segurança registram quando um funcionário da UNRWA sequestra o corpo de um soldado israelense morto

Também o sistema de educação gerenciado pela UNRWA mantém aceso nos palestinos a esperança de criar seu Estado do “rio ao mar”, como diz o slogan – o que significa a destruição do Estado de Israel. Há muitos outros aspectos que comprovam que a agência falhou em seu objetivo de apoiar os palestinos na construção de seu próprio destino. Até mesmo a ajuda humanitária enviada por dezenas de países no mundo não chega ao civis, indo parar nos armazéns do Hamas, que a revendem para a população interna por valores impraticáveis. 

UNIFIL e seu descontrole sobre o Hezbollah

A UNIFIL é outra agência da ONU, criada após o cessar-fogo entre Israel e Líbano em 2006 com a função de garantir a paz na fronteira entre os dois países impedindo que a milícia xiita libanesa, o Hezbollah, estivesse presente ali. No entanto, a invasão do exército israelense à região, iniciada há algumas semanas em resposta aos recorrentes ataques do grupo terrorista ao norte de Israel (vale lembrar que são, segundo os líderes do grupo, ataques em “solidariedade aos palestinos”), mostrou que a UNIFIL nunca inibiu sua livre atuação. As provas são claras: dezenas de túneis foram encontrados, repletos de armamentos modernos, enviados pelo Irã, evidenciando o plano de invasão terrestre às comunidades no norte de Israel. As entradas para os túneis muitas vezes encontram-se a poucas dezenas de metros das torres de controle da UNIFIL. Uma vez que a escavação no terreno rochoso exige a utilização de equipamentos pesados – como tratores e escavadeiras –, não há dúvida de que os soldados da agência simplesmente acompanharam os trabalhos, sem intervir.

Um dos túneis do Hezbollah localizado pelo exército israelense

Em Israel, foram divulgados muitos vídeos mostrando a grande violência com que a UNIFIL é recebida quando eventualmente tenta checar o que acontece dentro das dezenas de vilarejos de população xiita construídos na região fronteiriça para esconder seus lançadores e mísseis. Seja por conveniência, seja por medo, a UNIFIL emprega 20 mil funcionários que apenas servem como escudos humanos para o Hezbollah em caso de conflitos – como acontece hoje, aliás, o que faz com que Israel seja condenada por quem? Pela ONU! Israel exige que eles sejam substituídos por uma força que represente de fato a garantia da ausência no Hezbollah na fronteira. Antes que isso aconteça, também esse fronte de guerra não será desmobilizado.

Uma pequena parte dos armamentos do Hezbollah apreendidos pelo exército de Israel: a UNIFIL deveria ter mantido a região desarmada, mas fez justamente o contrário

Bravas mulheres israelenses

Desde o início da guerra, ouvimos falar por aqui – mas não você, por aí – de uma fronte interna que permite que Israel esteja há mais de um ano em guerra sem que o país se torne disfuncional: as mulheres. Elas assumiram o comando de diferentes ações de apoio aos soldados. Organizam-se para enviar alimentos quentes para os combatentes nas fronteiras, realizam campanhas de arrecadação para ajudar a armá-los e vesti-los apropriadamente (nenhum exército do mundo teria, como o de Israel não tem, capacidade para armar e equipar 300 mil reservistas), assumem empresas e negócios enquanto os homens estão distantes. No caso das esposas dos reservistas, elas fazem isso e muito mais: são supermulheres que tocam a rotina da casa sem contar com um parceiro ao seu lado.

Dezenas de milhares de reservistas são oriundos dos setores mais religiosos da sociedade e, via de regra, têm muitos filhos. Cinco, sete, 10. Na semana passada, o rabino Avi Goldberg foi morto enquanto combatia no Líbano deixando para trás oito filhos. Também as famílias seculares são numerosas por aqui e são raras aquelas que contam com menos de três crianças em casa. O nome disso é bravura, propósito e pertencimento – características não muito fáceis de serem encontradas mundo afora, ainda mais em tempos de guerra a Ucrânia e a Rússia, por exemplo, viram ambas a debandada de homens jovens já no início do terrível conflito que travam frente aos olhos do mundo.

Que tenhamos boas notícias e tempos de paz, em breve.

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