Objetivo é encontrar informações que possam levar aos executores do crime. Investigações apontam ligação de suspeitos com o Adilsinho, suspeito de controlar máfia de cigarros e participar da contravenção. PM da ativa e outras duas pessoas serão julgadas por homicídio triplamente qualificado. Advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos, morto a tiros no Rio.
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Pouco mais de oito meses depois do assassinato de Rodrigo Marinho Crespo, a Delegacia de Homicídios analisa os dados de celulares apreendidos na prisão de três suspeitos na primeira fase das investigações. O objetivo é descobrir informações que levem aos executores e ao mandante do crime, que ocorreu em plena luz do dia na frente da sede da OAB, no Centro do Rio.
Na segunda-feira (9), começa o julgamento de pessoas já presas por ligação com o caso no Tribunal de Justiça do Rio. Testemunhas de acusação e defesa, além dos réus, serão ouvidos até sexta-feira (13).
A Polícia Civil e o Ministério Público suspeitam que a morte de Crespo pode ter sido um “recado” de contraventores contra o mercado legal de apostas online no Rio de Janeiro. Antes de morrer, Rodrigo tinha começado a se interessar pelo mercado de bets.
“O crime, não por acaso, foi cometido em plena luz do dia, próximo à OAB, em que pese a vítima ter sido monitorada dias seguidos, e podia ter sido executada na calada da noite, em local mais ermo. Há fortes indícios de que a malta, com a execução, tenha pretendido dar ‘um recado'”, diz o MP na denuncia, feita em abril.
Leandro Machado, que é policial militar, Eduardo Sobreira Moraes e Cezar Daniel Mondêgo de Souza foram presos em fevereiro por participação no crime (entenda mais abaixo o papel de cada um deles, segundo a Polícia Civil).
Segundo as investigações, os três se encontraram antes e depois do crime nos arredores do 15º BPM (Duque de Caxias) onde Leandro trabalhava.
De acordo com decisão da Justiça que votou pela prorrogação da prisão dos suspeitos, há indícios de participação de todos eles em um grupo de extermínio:
“É extremamente preocupante a presente investigação que revela a participação de um policial militar da ativa em um grupo de execução/extermínio, um verdadeiro grupo de sicários que se aproveita do poder estatal para criar um poder paralelo”, diz a decisão do magistrado.
Adilsinho foi alvo de buscas
Adilson Oliveira, o Adilsinho
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Adilson Oliveira Coutinho Filho, conhecido como Adilsinho, atual presidente de honra do Salgueiro, foi alvo de mandados de busca e apreensão no dia da operação, em abril deste ano.
Segundo a DHC, o grupo que praticou o homicídio é capitaneado por Adilsinho e atua na exploração de jogos ilegais e no comércio ilegal de cigarros, tendo como base Duque de Caxias.
O alvo de um dos mandados de busca da Polícia Civil já foi abordado transportando cigarros e alegou que prestava serviços para a empresa SulAmericana, de Duque de Caxias, área de origem de Adilsinho. Ele ainda tem outras anotações criminais relativas ao crime de contrabando de cigarros.
Na operação do dia 9 de abril, o PM Vitor Hugo Henrichs Mello foi preso em flagrante porque estava com um carregador de uma munição de calibre mais alto que o permitido.
De acordo com a decisão da 3ª Vara Criminal que autorizou as buscas contra os alvos, Vitor Hugo utilizou um veículo alugado na locadora Horizonte 16, a mesma em que foram alugados os carros usados para monitorar os passos de Rodrigo Marinho Crespo antes do crime.
Ele também é apontado na investigação da Delegacia de Homicídios da Capital como segurança pessoal de um dos sócios de Cláudio Nunes Coutinho, irmão de Adilsinho. Na época da operação, o g1 procurou a defesa de Cláudio, que preferiu não se manifestar.
Procurada, a defesa de Adilsinho disse que não vai se pronunciar sobre o caso da morte do advogado.
Adilsinho é alvo de buscas em operação sobre morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo
Adilsinho é apontado em investigações como um dos principais responsáveis pela máfia do monopólio dos cigarros ilegais do Rio. Mas seu nome também é associado ao jogo do bicho. Ainda foi dono do time de futebol Clube Atlético Barra da Tijuca e deu uma festa de luxo no Copacabana Palace.
A TV Globo apurou que Adilsinho expandiu os negócios do bicho tomando áreas da Zona Sul, Centro e Zona Norte da capital, que eram controladas pelo bicheiro Bernardo Bello, que está foragido e teria perdido força no cenário.
Leandro Machado da Silva:
O policial militar Leandro Machado da Silva
Betinho Casas Novas/TV Globo
O policial militar, segundo as investigações, providenciou o aluguel dos carros usados no crime. A polícia diz, em um relatório, que Leandro Machado “sabidamente” trabalha com a contravenção.
Ele também ligou para um dos suspeitos e trabalhou para obstruir as investigações, segundo a DH. Segundo a Polícia Militar, Machado também responde a um processo administrativo disciplinar que pode resultar na exclusão dos quadros da corporação. Ele está preso na Unidade Prisional da PM.
A polícia investiga também se Machado participou de outros homicídios, na capital e região metropolitana do Rio. Um dos homicídios pelos quais Leandro é investigado é o de Charles Augusto Ponciano, preso em 2017 por suspeita de integrar uma quadrilha que furtava petróleo de oleodutos da Petrobras.
O policial militar Leandro Machado da Silva é um dos suspeitos de matar o advogado Rodrigo Marinho Crespo
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Leandro foi impronunciado por falta de indícios de autoria, por decisão da Justiça. O Ministério Público recorreu da decisão, alegando que o sobrinho da vítima reconheceu Leandro como um dos autores da execução, e que outras provas apontam para a participação dele no crime.
Leandro Machado
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Leandro é acusado pelo MP de integrar uma milícia e terem cometido os homicídios no contexto de uma guerra entre grupos criminosos. O recurso ainda será julgado. Leandro deixou a cadeia em maio de 2023.
A defesa de Leandro Machado, procurada pelo g1, nega todas as acusações contra o policial militar.
“Esperamos provar que, em que pese a investigação ter devastado a vida pessoal do acusado, ela falhou em provar laço criminoso do Leandro Machado com a morte do nobre colega advogado”, afirmou Diogo Macruz.
Cezar Daniel Mondego de Souza:
Cezar Daniel Mondego
Jornal Nacional/Reprodução
Cezar Daniel foi apontado como responsável por monitorar a vítima. Ele Tinha cargo comissionado com salário de até R$ 6 mil na Assembleia Legislativa do RJ (Alerj).
Segundo a denúncia do MPRJ, Cezar e Eduardo “exerceram atividade de vigilância e monitoramento sobre a vítima por dias seguidos, espelhando sua rotina, de forma a viabilizar o momento do ataque fatal”.
As investigações apontam que Mondego utilizava um carro, um Gol Branco, que foi visto próximo à casa e ao trabalho de Crespo nos dias que antecederam o crime.
Uma das mensagens obtidas pela polícia após quebra de sigilo indica que Mondego pediu, através de um emissário, para falar com o “Patrão”. A Delegacia de Homicídios suspeita que o apelido se refira ao mandante do crime.
Quando Cezar foi exonerado do cargo que ocupava na Alerj, indicou o outro investigado pelo crime, Eduardo Sobreira Moraes, para o seu lugar na assembleia.
O advogado de Bruno Castro, que faz a defesa de Cezar Daniel Mondego afirmou: “As acusações da Promotoria contra meu cliente não têm base sólida. Não há nos autos qualquer prova séria de que ele buscava a morte da vítima; ou mesmo que ele sabia que a vítima estava sendo monitorada para morte. Tudo não passa de suposições enviesadas, com fim de dar uma rápida satisfação à sociedade. Ao final do processo, a defesa acredita na absolvição.”
Eduardo Sobreira Moraes
Eduardo Sobreira Moraes, de 47 anos
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É apontado pela polícia como o responsável por seguir os passos de Rodrigo, dirigindo o carro para Cezar enquanto acompanhavam a movimentação da vítima antes do assassinato.
Segundo as investigações, Eduardo foi flagrado por uma câmera de segurança de uma academia, no bairro do Leblon, na Zona Sul, que era frequentada pela vítima.
As investigações mostraram ainda que Eduardo relatou à esposa que estava em companhia de Cezar por dias seguidos.
Segundo a polícia, Eduardo se desfez do próprio celular ao receber de Cezar a informação que o veículo usado no monitoramento, um Gol Branco, tinha sido encontrado na região dos lagos.
A defesa diz que Eduardo é inocente. “A defesa e a família do Eduardo vêm aguardando a audiência com muita expectativa e a tranquilidade de que a sua inocência restará comprovada e as acusações são inverídicas”, afirmou Felippe Carrero Teixeira.
Polícia analisa dados dos celulares de presos por suspeita de participar do assassinato de advogado no Rio; Justiça inicia audiências do caso
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