Diretoria de ensino do ABC Paulista convoca diretores para reunião com a PM dentro de igreja

Convite justifica que escolha pela sede da Igreja Universal de Santo André foi feita pelo ‘fácil acesso, estacionamento amplo e capacidade’. Secretaria da Educação diz que a PM escolheu o local e que encontro ‘irá discutir ações de segurança para todas as escolas da região’. E-mail da convocação feita aos diretores do ABC Paulista
Arquivo pessoal
Diretores de escolas estaduais de Santo André, cidade no ABC Paulista, receberam nesta semana uma convocação da Diretoria Regional de Ensino para participar de evento com a Polícia Militar do estado de São Paulo. Denominado “Simpósio de segurança escolar”, o encontro acontecerá no dia 18 de abril na sede da Igreja Universal do município.
O e-mail enviado aos líderes das escolas (leia acima) pela dirigente regional informa que a escolha do local partiu da Polícia Militar “pelo seu fácil acesso, estacionamento amplo e capacidade de acomodação de todos os envolvidos”. Não há informação no convite sobre a quantidade de pessoas esperadas no encontro. Segundo o governo do estado, foram convidados 70 representantes de escolas da região.
“Informamos aos senhores que se trata de um evento laico”, diz uma observação incluída na mensagem.
O texto diz que o encontro tratará da Rede Integrada de Proteção Escolar, a RIPE, sem detalhar os temas que serão abordados.
Para Fernando Cássio, doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, o uso de uma igreja para debate feito pela Diretoria de Ensino mostra a falta de investimentos na área de educação.
“Não tem nenhuma escola pública estadual que seja capaz de acolher uma quantidade de pessoas para fazer um evento, debate? Isso mostra o nível de degradação e falta de infraestrutura da rede de ensino”, afirma.
De acordo com a Secretaria da Educação, a escolha do local foi feita pela PM, responsável por organizar o evento e que a reunião “irá discutir ações de segurança para todas as escolas da região”.
“A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo atua frequentemente em parceria com as redes de proteção do Estado e do Município, como CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Conselho Tutelar, Vara da Infância e Juventude e Polícias Civil e Militar para solucionar conflitos no ambiente escolar, como a participação no citado encontro”, diz a Educação, em nota.
No final da tarde, ao g1, a SSP afirmou que a reunião foi cancelada por motivos técnicos.
“A SSP esclarece que a reunião mencionada, que seria realizada no dia 18 abril, foi cancelada por motivos técnicos. A pasta ressalta que a Polícia Militar mantém contato permanente com as direções das escolas. Atualmente, 566 policiais militares atuam no policiamento realizado no entorno das unidades educacionais em todo o Estado, por meio do programa Ronda Escolar. O patrulhamento nas imediações também é feito por policiais a pé e em motocicletas.”
Leia também:
Cidades da Grande SP anunciam reforço de guardas civis nas escolas após ataques; especialistas avaliam
Após 4 anos, Justiça condena estado de SP a indenizar sobrevivente do massacre em escola de Suzano em R$ 10 mil
Policiais Militares, psicólogos e poucos alunos: veja como foi o primeiro dia na volta às aulas da escola Thomazia Montoro