Em 2015, frases racistas contra Juarez Tadeu de Paula Xavier foram pichadas no banheiro da universidade. Quatro anos depois, ele foi alvo de ataque racista em um supermercado, sendo golpeado com um canivete. Juarez é professor e sofreu racismo em universidade de Bauru
Carlos Henrique Dias/g1/Arquivo
O professor doutor Juarez Tadeu de Paula Xavier, que já enfrentou episódios de racismo dentro da Unesp de Bauru (SP), foi nomeado diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) da própria universidade, na tarde desta sexta-feira (22).
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Juarez é o primeiro negro a ocupar o cargo de direção da faculdade. Ele já exercia a função de vice-diretor entre 2021 e 2024. Nas redes sociais, o professor comemorou o feito, citando a linguista e escritora brasileira Conceição Evaristo:
“O importante não é ser o primeiro, mas, como disse Conceição Evaristo, o importante é meter o pé na porta, não deixá-la fechar e lutar para que outras e outros entrem também”, escreveu.
Carreira
Professor Juarez Xavier já foi vítima de racismo e fala da Constituição em suas aulas
Reprodução/Globo Repórter
O pai de Juarez era caminhoneiro e foi assassinado nos anos 70. A mãe era empregada doméstica. Juarez trabalhou como ajudante geral em uma fábrica até que ingressou na faculdade de jornalismo, nos anos 80. Segundo ele, foi o primeiro da família a entrar em uma faculdade.
Juarez se formou em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, com mestrado e doutorado em integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP).
Hoje, é professor na graduação em jornalismo e na pós-graduação em mídia e tecnologia da Unesp.
Juarez ainda é responsável por projetos de extensão da Unesp, como o Núcleo de Estudos e Observação em Economia Criativa e o projeto Educando para a Diversidade, além de presidir a comissão de averiguação das comissões de pretos e pardos da Unesp.
Vítima de racismo
Mensagens racistas foram escritas em um banheiro da Unesp em Bauru
Juarez Tadeu de Paula Xavier/Arquivo pessoal
Em entrevista ao g1 em 2019, Juarez relembrou alguns episódios de racismo que sofreu durante sua trajetória, desde a graduação até a entrada no meio acadêmico como professor em 2015.
A frase “Juarez macaco” foi encontrada em um dos banheiros da Unesp de Bauru. Na época, segundo o professor, o que mais marcou foi o fato de que as pichações também eram contra mulheres negras.
“Foi a covardia do ato que me marcou. Pichação no banheiro da universidade, com ofensas extensivas às ou aos estudantes e ao pessoal da limpeza. A forma vil e agressiva contra mulheres simples, trabalhadoras braçais”, afirmou na época.
Após as pichações, uma comissão de professores da Unesp foi formada para investigar as frases encontradas no banheiro. Os professores ouviram algumas pessoas durante quatro meses, mas não identificaram os autores.
Professor da Unesp é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra
Reprodução/TV TEM
Outro episódio que marcou o acadêmico ocorreu em 2019, quando, no dia 20 de novembro daquele ano — também o Dia da Consciência Negra —, ele foi atacado a golpes de canivete por um homem aparentemente embriagado.
Durante a discussão, que aconteceu em um supermercado da cidade, o agressor ainda o teria chamado de “macaco”.
O professor foi encaminhado para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Núcleo Geisel, onde recebeu pontos nos dois cortes que sofreu, e o agressor foi preso em flagrante.
Professor da Unesp Bauru, Juarez Xavier, é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra
Reprodução/TV TEM
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