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Educafro entra com ação contra a Gol após professora negra ser expulsa de voo ao se recusar a despachar mochila


Fundação pede R$ 50 milhões de indenização por dano moral coletivo. Samantha Vitena foi expulsa do voo por ter se recusado a despachar a mochila com um notebook dentro, na sexta-feira (28). Em nota, a companhia disse que Samantha foi retirada por ‘medida de segurança’. Passageira retirada de voo afirma que ficou assustada no momento da discussão
A Fundação Educafro, com sede em São Paulo, ingressou com uma ação civil pública nesta terça-feira (2) contra a Gol Linhas Aéreas, após uma professora ser expulsa do voo por ter se recusado a despachar a mochila com um notebook dentro, na sexta-feira (28).
A Educafro argumenta que “a empresa-ré instituiu um ambiente hostil, com treinamento e liderança pautados pelo racismo estrutural, o que – ademais de constituir risco para a sociedade – acarreta risco pessoal para os próprios profissionais por ela arregimentado, desestimula e oprime o pequeno percentual de empregados negros da GOL e projeta internamente uma autopercepção geral de desvalor geral para esses profissionais”.
Na ação, a organização pede uma indenização de R$ 50 milhões por dano moral coletivo e:
Alterações na governança da empresa demandada – as quais se mostram necessárias para que a empresa requerida possa incorporar visões e saberes dotados da mesma diversidade que se procura ver realizada na vida da corporação;
Adoção de políticas de enfrentamento ao racismo por meio da educação e institucionalização de procedimentos.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram a passageira Samantha Vitena questionando, dentro do avião, a abordagem de três homens da Polícia Federal que a tiraram do voo.
A Gol informou que a mulher não seguiu viagem porque “não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas”. Em nota, a companhia disse que Samantha foi retirada por “medida de segurança”.
O advogado da mulher afirmou que viu racismo estrutural no caso.
“Eu ainda estou tentando entender tudo. Os testemunhos e vídeos têm me ajudado a entender”, diz professora.
Advogado de professora vê racismo estrutural
Entenda o que se sabe e o que falta explicar sobre o caso
“Eu fiquei bastante abalada com toda essa situação, mas tenho recebido todo suporte e bastante apoio. Ainda não consegui responder todas as mensagens”.
Samantha Vitena foi expulsa de voo em Salvador
Reprodução / Programa Encontro
Já ao Programa Bahia Meio Dia, da TV Bahia, Samantha Vitena, contou que a Justiça vai dizer se o caso foi de racismo ou não, mas a situação deixa a possibilidade de questionamentos.
“Eu acredito que isso quem vai poder dizer é a Justiça, mas o que eu fico me questionando é isso, será que aconteceria com uma pessoa diferente de mim? No mesmo voo, a jornalista Elane foi testemunha, com uma outra passageira, o tratamento foi diferente”, opinou.
Durante a entrevista ao Encontro, a professora relatou como foi a discussão com o comissário. Veja nos tópicos abaixo:
Comissário pediu para Samantha Vitena despachar mochila;
A passageira disse que não poderia por causa do computador que estava no local;
“Até onde eu sei a gente não pode despachar um laptop, não é recomendado por questão de risco e tudo mais, então falei que isso não seria possível”, relatou.
Comissário insistiu para que a professora despachasse a mochila. Ela tentou colocar embaixo do banco, mas não ficou adequado;
“Eu falava que não tinha como despachar minha mochila e a gente precisava achar uma outra solução e ele falava: ‘Você precisa despachar, vai ter que despachar”.
Samantha se levantou e contou com a ajuda de um passageiro, para colocar a mochila no bagageiro. Para isso, o idoso se ofereceu para retirar uma sacola pequena dele, que estava no local;
Em seguida, a professora sentou na cadeira e aguardou o avião decolar.
“Quando os policiais entraram eu não sabia por que eles estavam ali, não poderia imaginar que era por mim. Quando eles olharam pra mim e falaram, levante e se retire, eu acredito que qualquer pessoa reagiria dessa forma. Perguntei o que aconteceu, qual o motivo”, contou.
Assinatura de documento
Mulher questiona pedido de despache de bagagem e é retirada do voo em Salvador
oeA Polícia Federal abriu um inquérito para apurar crime de racismo contra a ra a
No Programa Encontro, Samantha Vitena também disse que não entendeu o motivo de ter assinado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por resistência, porque ela obedeceu às ordens dos policiais e se retirou do avião.
“Quando ele falou do crime, levantei para me retirar e falei para os demais passageiros. Perguntei se eu fiz alguma coisa que me tirasse do avião e as pessoas falavam que eu não tinha feito nada”, contou.
A professora disse que muitas pessoas começaram a gravar a situação e chegaram a dizer que não iam deixá-la descer da aeronave sozinha.
“Começaram a retirar as malas do bagageiro para descer comigo. Isso foi algo que me surpreendeu muito positivamente, me tocou muito e eu queria agradecer essas pessoas”.
No entanto, ela contou que não queria que essas pessoas deixassem de chegar nas suas casas.
“O policial me falou: Você quer saber o motivo? Então sai do avião e conversa com o comandante’. Aí eu falei: ‘bom, legal’.
Conversa com delegado da PF
A passageira disse que, ao sair do avião, perguntou pelo comandante, mas ele não estava no local. Em seguida, foi levada para a delegacia da Polícia Federal.
“O outro policial me falou: ‘Você não vai conversar com o comandante, me acompanhe’ e aí eu o acompanhei até a delegacia”.
“Então, em nenhum momento houve resistência. Houve o questionamento e eu cheguei a perguntar ao delegado se eu não poderia ter perguntado e ele me disse que sim, que era o meu direito”, disse.
Após o fato, a passageira disse que espera não passar pela mesma situação novamente.
“Espero que isso não volte acontecer, essa história não é só sobre mim, é sobre todas as pessoas que passaram e passam por esse tipo de situação. Espero que essas pessoas sejam responsabilizadas e isso não volte a acontecer”.
Após conversar com a professora, o apresentador do Encontro, Manoel Soares, sinalizou que a Gol entrou em contato com a produção do programa e encaminhou uma nota sinalizando que reconhece a realidade do racismo estrutural do país e não tolera práticas racistas na companhia.
Confira nota da Gol enviada à Rede Globo
“Desde o primeiro momento em que tomamos conhecimento do caso, a preocupação da GOL foi conversar com a cliente, o que, infelizmente, ainda não conseguimos. Lamentamos profundamente o ocorrido e nos solidarizamos com todas as manifestações relacionadas ao caso. Estamos colaborando com as autoridades e também contratamos empresa independente com a finalidade de elucidar a situação e tomar as providências cabíveis com a urgência que o caso exige. Não toleramos e nunca vamos tolerar práticas racistas dentro da Companhia.
A GOL, como empresa brasileira que emprega e transporta um estrato significativo da sociedade, reconhece a realidade do racismo estrutural. Temos por dever acelerar a mudança e, por isso, estamos mergulhados em nossas vulnerabilidades, entendendo onde e como podemos superá-las. Jamais poupamos esforços para ser uma empresa inclusiva e diversa e temos ações concretas de promoção do letramento da nossa comunidade interna. No entanto, reconhecemos o quanto ainda precisamos intensificar nossas ações na luta antirracista e pela diversidade.
Dessa ocorrência em Salvador certamente teremos a oportunidade de melhorar, começando pelo esclarecimento do que se passou e correção de tudo que tiver para ser aprimorado.”
PF investiga crime de racismo
No domingo (30), a Polícia Federal na Bahia informou que abriu um inquérito para apurar crime de racismo contra a professora. A decisão foi tomada depois que os ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos acionaram a Procuradoria-Geral da República na Bahia e a PF, para que crimes, infrações e ou violações relacionados ao caso fossem apurados.
A PF classificou a retirada da professora Samantha Vitena como “compulsória” e disse que a investigação se manterá em sigilo, até que todo o caso seja apurado.
Em uma nota divulgada no sábado (29), a Gol disse que Samantha acomodou a bagagem em um local que obstruía a passagem, o que trazia risco a segurança do voo. Testemunhas e a defesa do professora negam a informação e afirmam que a mochila foi colocada no bagageiro, depois que outros passageiros ajudaram, porque a tripulação a teria ignorado.
Neste domingo (30), a empresa encaminhou uma nova nota e informou que estará empenhada em colaborar com a investigação da PF, quando for notificada. Disse ainda que segue à disposição das autoridades e que tem contratou uma empresa independente para apurar o caso.
Polícia Federal abre inquérito para apurar crime de racismo contra professora negra expulsa de voo ao se recusar a despachar mochila
Reprodução/Redes Sociais
A mochila que Samantha transportava é classificada pela própria companhia aérea, no site, como artigo pessoal, que pode ser armazenado dentro da aeronave, abaixo do assento à frente da poltrona do próprio passageiro.
A reportagem ainda entrou em contato com a defesa de Samantha, que respondeu que também é necessário apurar a existência de abuso de autoridade.
Confusão em voo
Mulher é retirada de voo na BA após recusar despacho de bagagem: ‘comissários não moveram um dedo para ajudar’
Redes sociais
O caso aconteceu em um voo da Gol Linhas Aéreas, que sairia de Salvador com destino a São Paulo. Segundo a jornalista Elaine Hazin, que testemunhou a situação, o episódio foi um fato “extremamente violento de racismo”, e relatou que um tripulante da Gol teria dito: “Se você não despachar, a gente não sai daqui. Ou você despacha, ou você sai do voo”.
A defesa de Samantha também aponta racismo estrutural no caso e disse que ela está muito abalada. “A gente está buscando a responsabilização de todas as pessoas que lesaram o direito de Samantha. Isso envolve companhia aérea, pessoas físicas e está no processo de estruturação”, disse Fernando Santos.
Também em nota anterior, a Gol também afirmou que lamenta imensamente a experiência de Samantha no voo, que apura os detalhes do fato e que não tolera qualquer atitude discriminatória.

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