Paciente aguardou dia todo para realizar procedimento em UPA no 1º dia com transição de serviço. Outras duas unidades com terceirizações desde 2022 também são alvo de queixas. Gestão dos profissionais de maior UPA de Campinas passa a ser terceirizada
As unidades de pronto atendimento (UPAs) de Campinas (SP) em que há serviços médicos terceirizados são alvo de reclamações de pacientes sobre a demora para assistência.
Nesta segunda-feira (24), a reportagem da EPTV, afiliada da TV Globo, flagrou o caso da auxiliar de conservação Eliana Santos, que precisou aguardar quase 12 horas para conseguir realizar um procedimento na UPA Anchieta justamente no primeiro dia de transição da responsabilidade pelos recursos humanos da unidade. A gestão dela, entretanto, permanece com a Rede Mário Gatti, que integra a administração indireta de Campinas e responde pelos serviços de urgência e emergência.
“Tô aqui com cólica intestinal, fiz o medicamento, mas fui atendida umas 14h32. Tô esperando medicamento para fazer a lavagem intestinal”, explicou Eliana por volta das 16h30. O EPTV 2, às 19h30, mostrou que ela ainda estava no local à espera para realizar o procedimento.
Por volta das 20h15, a assessoria da Associação Beneficente Cisne, nova responsável pelos recursos humanos, confirmou que a paciente depois disso passou pela lavagem e seguia em observação médica. “Nas trocas de equipes a assistência do período da manhã ainda era da gestora antiga. A equipe da nova gestão que assumiu no final da manhã recebeu a demanda reprimida, gerando a espera”, alegou, em nota, a entidade sem fins lucrativos.
A auxiliar de conservação Eliana Santos, na UPA Anchita, em Campinas
Reprodução/EPTV
Na mesma unidade, a cozinheira Odília Dias desistiu de ser atendida. “Se eu ficar aqui vou sair às 23h. Eu vou pra casa”, reclamou. Esta é a terceira UPA de Campinas com funcionários terceirizados por meio desse modelo. A unidade Anchieta faz média de 450 atendimentos diários de adultos e crianças.
A contratação da associação sem fins lucrativos para atuação na unidade prevê investimento na casa de R$ 32,7 milhões pelo período de dois anos. A Rede Mário Gatti argumenta que espera “melhora significativa no atendimento à população, porque corrigirá déficits em recursos humanos, como clínicos, pediatras, enfermeiros, técnicos de enfermagem e assistente social”.
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Ao todo, a nova equipe terá 58 profissionais atuantes, divididos entre os turnos diurno e noturno:
1 assistente social
5 pediatras
8 clínicos
11 enfermeiros
33 técnicos de enfermagem
O que muda?
Ainda de acordo com a administração municipal, os cerca de 100 profissionais que trabalham atualmente na unidade, entre eles médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, serão remanejados para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Hospital Municipal Mário Gatti, Unidade Pediátrica Mário Gattinho e UPA Carlos Lourenço a partir da próxima semana.
Pacientes à espera de assistência na UPA Anchieta, em Campinas
Reprodução/EPTV
Queixas em outras unidades
Nas outras UPAs com serviços terceirizados, São José e Campo Grande, também com trabalhadores fornecidos pela Associação Beneficente Cisne, o cenário foi de queixas sobre demora nesta tarde.
O contrato da Rede na primeira unidade é de R$ 27,6 milhões, e o da segunda é de R$ 28,1 milhões. Ambos foram assinados no ano passado e cada um tem duração de dois anos.
Na unidade São José, pacientes relataram que chegaram pela manhã e foram atendidos à tarde, incluindo período de espera debaixo de sol. “Cheguei às nove e pouco e fui atendida agora, três e pouco da tarde […] Tá muito demorado”, criticou a paciente Priscila Paulino.
No Campo Grande, a insatisfação se repete. O garçom Amilton dos Santos Alves foi ao local para fazer um exame de sangue. “Meu caso é caso de dengue. Dor de cabeça, febre alta […] Cheguei 11h”, contou à reportagem por volta das 14h30.
O que diz a associação?
A Cisne alegou que a demanda nas UPAs Campo Grande e São José foi 30% maior nesta segunda, em relação ao esperado para este dia da semana, por conta do “fenômeno relativo ao pós-feriado”. Segundo a assessoria, às 17h o tempo de espera na São José era de 46 minutos, e de três horas na Campo Grande. “Todos os pacientes de classificação amarela correspondente à “urgente”, em ambas as unidades, estavam com tempo de espera zerado”, diz nota.
O que diz a rede?
À EPTV, o diretor de Urgência e Emergência da Rede Mário Gatti, Steno Pieri, explicou sobre o aumento do tempo de espera nas unidades.
“O aumento do tempo de espera atualmente se dá pela sazonalidade das doenças respiratórias. Houve um aumento muito grande no volume de atendimento nas unidades, mas para todas as unidades da Rede Mário Gatti. E isso fez com que os tempos aumentassem. A gente estava com serviços que estavam com déficits importantes, comprometendo a qualidade da assistência, muitas vezes interrompendo aos finais de semana, houve um incremento de atendimento entorno de 50% com a manutenção dos tempos de atendimento por volta de duas A gente está no momento, na UPA Campo Grande e São José, já no novo modelo assistencial, estão no limite da capacidade instalada. A gente não consegue disponibilizar mais profissionais, se fosse o caso, porque não há mais espaço para atendimento”.
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