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Após perder a visão, paranaense se reinventa e passa a produzir lustres: ‘Dom e talento para superar’


Márcio de Oliveira perdeu a visão de um olho em tentativa de assalto. Quatro anos depois, acidente de carro o deixou totalmente cego. Hoje, fabricação das peças sustenta a família em Ponta Grossa. Após perder a visão, paranaense se reinventa e passa a fazer lustres
Um dos sonhos do artesão Márcio de Oliveira, de 43 anos, morador de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, é produzir um lustre para uma celebridade. As peças fabricadas por ele estão penduradas no teto dos mais diversos imóveis.
O paranaense, no entanto, nunca viu nenhuma das obras. Ele ficou cego após perder a visão dos dois olhos – um de cada vez.
O talento com os cristais reflete como, ao perder um dos sentidos, o tato ficou mais aguçado. A precisão e conhecimento das medidas, afirma, também vêm dos anos trabalhados como marceneiro, pintor, desenhista e letrista.
“Para mim se tornou fácil, porque eu entendo bem de medida. Tenho noção de tamanho por ter trabalhado muitos anos com móveis projetados. […] Por exemplo, eu pego uma base, conto ali, desenho de cabeça e desenho todas as medidas daquela forma. Vou imaginando mesmo”, contou.
Márcio de Oliveira, de 43 anos, perdeu completamente a visão e encontrou na produção de lustres o caminho para recomeçar
Bárbara Hammes/g1
Márcio perdeu primeiro a visão do olho esquerdo, em 2010, quando morava em Guarapuava, na região central do estado, e foi vítima de uma tentativa de assalto.
Na época, ele trabalhava como marceneiro e foi atacado com uma foice. Após o episódio, já sem a visão de um dos olhos, ele conseguiu voltar ao trabalho.
Mas tudo mudou quatro anos depois, quando Márcio perdeu a visão do olho direito em um acidente de carro. Segundo ele, sem conseguir trabalhar e tendo que se adaptar à nova realidade, entrou em depressão.
Caminho inesperado
Em oficinas de artesanato Márcio foi percebendo como o tato foi ficando mais preciso. Conta que começou a fazer pulseiras até que um dia foi desafiado a fazer um lustre: e aceitou.
O recomeço contou com o apoio e o amor da esposa, Ivete, e do pequeno Faísca, cachorro da família.
“Eu agradeço a minha esposa, que ficou do meu lado, e Deus, em primeiro lugar, que me deu forças. Superamos. Graças a Deus que me deu o dom e talento para superar. Hoje, se você procurar, eu sou o único cego no Brasil que faz lustre”, afirmou.
Marcio, Ivete e Faísca em espaço da casa onde produzem lustres em Ponta Grossa
Bárbara Hammes/g1
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Arte sob medida
O artesão voltou a morar em Ponta Grossa justamente pelo alcance do trabalho dele no município. A oficina de Márcio fica em uma sala da casa de madeira alugada pela família. O g1 visitou o local.
Com bom humor e descontração, Márcio mostrou como é a produção dos lustres.
Para garantir a medida perfeita, o artesão desenvolveu uma régua com pregos a cada um centímetro. Pelo tato, Márcio faz medições.
Cada peça leva em torno de uma semana para ficar pronta. Porém, itens mais elaborados chegam exigir um mês de trabalho.
Na foto abaixo, o lustre de base de 80 centímetros por 1,5 metro, com altura de quatro metros, produzido especialmente para um tríplex em Ponta Grossa.
Após perder a visão dos dois olhos, paranaense se reinventa e passa a produzir lustres
Reprodução/g1
Gratidão
Hoje, a produção dos lustres é a forma de sustento da família. Segundo o artesão, nem todos os meses são fáceis. Quando a demanda aumenta, a esposa Ivete também entra em cena e auxilia o marido.
Segundo a família, a melhor sensação é a de gratidão e satisfação dos clientes ao fim do trabalho.
“No fim vale todo o esforço. A expressão do cliente quando vê a peça pronta, isso não tem o que pague”, frisou Ivete. Mesmo sem enxergar, Márcio relata conseguir sentir a gratidão.
Lustres feitos pelo artesão estão nos mais variados imóveis da região
Reprodução/redes sociais
Preconceito
Ao receber o g1 na oficina de trabalho, Márcio afirma que segue enfrentando situações em que precisa se reinventar. Entre elas, casos de preconceito.
Enquanto mexia nos cristais que compõem um lustre, citou um episódio no qual um cliente desistiu do negócio após descobrir a deficiência visual.
“Têm muitas pessoas que a gente vai na casa e não imaginam que eu sou cego. Tem cliente que a gente foi tirar a medida com a venda praticamente fechada, quando chegou na casa a pessoa desistiu. A gente se sente bem humilhado, sabe?”, lamenta.
Segundo o artesão, em alguns casos, clientes desistiram de comprar dele e fizeram a aquisição em uma loja de lustres. Sem saber, estavam comprando uma peça fabricada por Marcio – consignada no local.
“Gente preconceituosa tem bastante. Não sei o que que passa pela cabeça deles, é como se eu fosse um lixo, nada. Como se eu tivesse uma doença que não pode chegar perto. Mas tem muita gente boa, e a gente ora todo dia”, disse.
Planos para o futuro
Márcio quer levar o trabalho dele e a história de superação cada vez mais longe.
“Muitas pessoas quebram uma unha e já maldizem a vida. Graças a Deus eu fiquei cego e superei. Quero que bastante gente ouça a minha história e pegue de exemplo”, destaca.
Os planos do artesão vão além de fabricar uma peça para uma celebridade. Ele também quer se tornar um lutador de boxe. Em busca desse objetivo, frequenta regularmente uma academia próxima de casa.
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