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Entenda a devoção que faz do túmulo da ‘Menina Sem Nome’ ser o mais visitado dos cemitérios públicos do Recife


As visitas ao túmulo da criança de 8 anos assassinada na Praia do Pina, em junho de 1970, acontecem durante o ano todo e aumentam no dia de Finados. Enterrada como indigente em 1970, depois de o corpo ficar 11 dias no Instituto de Medicina Legal do Recife à espera do reconhecimento pela família, a “Menina Sem Nome” passou por uma “canonização popular” ao longo dos anos. Devotos atribuem a ela várias graças alcançadas. Mais de cinco décadas após o crime, o túmulo onde está o cadáver da criança de 8 anos assassinada na areia da Praia do Pina é um dos mais visitados no maior cemitério público da cidade.
Lápide da ‘Menina Sem Nome’ no Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife
San Costa/TV Globo
[Esta reportagem encerra a série especial “Menina Sem Nome”, publicada pelo g1 e exibida na TV Globo ao longo desta semana.]
“Todos os dias temos visitações no túmulo da Menina Sem Nome. As pessoas que normalmente vêm fazer visitas são pessoas que alcançaram alguma graça. Elas acreditam e oram, são devotas da Menina Sem Nome mesmo. Então todos os dias vêm aqui e tratam da conservação, elas mesmas, da limpeza”, disse Luciano Nascimento, gerente-geral de Necrópoles da prefeitura do Recife.
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O enterro da “Menina Sem Nome” foi autorizado e realizado no dia 3 de julho de 1970, quando o delegado Artur Rodrigues, que investigou o assassinato, liberou o sepultamento da criança, depois que a polícia considerou esgotadas todas as possibilidades de conseguir a identificação da vítima do crime que chocou a sociedade pernambucana.
Essa autorização foi solicitada pelo diretor da Casa do Menor do Recife, José Antônio Braga, que pediu para organizar o enterro. A instituição que ele dirigia era um internato de menores, que não funciona mais.
No dia do sepultamento da “Menina Sem Nome”, José Antônio levou para o Cemitério de Santo Amaro todas as crianças que moravam no internato. Ele ainda convidou moradores da vizinhança do cemitério. Pessoas que acompanhavam, pelos jornais e pelas rádios, a busca por parentes que pudessem dizer quem era a vítima do crime também compareceram ao enterro.
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As visitas ao túmulo, que inicialmente não tinha a aparência atual, começaram pouco tempo depois do sepultamento. Reportagens dos jornais sobre a movimentação no cemitério na época de Finados registram a adoração em torno do túmulo da “Menina Sem Nome” já no final de 1972, dois anos e meio depois da morte da criança.
A manchete do “Diario de Pernambuco” na edição de 14 de dezembro desse ano trazia: “Menina Sem Nome continua fazendo milagres no cemitério e devotos lhe darão um túmulo”. A essa altura, pessoas já publicavam na página de classificados dos jornais agradecimentos por graças alcançadas.
Em 1º de novembro de 1985, o “Diario de Pernambuco” publicou que o cantor pernambucano Carlos Sérgio lançou um disco com a música “Menina Sem Nome”, uma homenagem à criança que, nessa época, já era considerada santa pelos devotos.
Graças alcançadas
Diante do túmulo, ano após ano, as demonstrações de fé se renovaram. Uma mulher relatou, no Dia de Finados de 2011, que, quando a mãe saiu do interior de Pernambuco com um caroço, pediu a cura à “Menina Sem Nome” e o caroço estourou no dia seguinte.
“Eu já alcancei uma graça com ela e quero alcançar outra e eu fico muito emocionada, que eu não consigo falar não, eu não consigo ter palavra. A graça foi de eu ter meu fiteiro, meu comércio, que hoje eu tenho, que eu pedi a ela”, disse outra mulher em 29 de outubro de 2011, durante os preparativos para o Dia de Finados.
“Consegui seis a oito milagres feitos por ela. Hoje eu agradeço”, disse um homem no Cemitério de Santo Amaro no dia 2 de novembro de 2016.
Placa em agradecimento à ‘Menina Sem Nome’ por graça alcançada, no maior cemitério público do Recife
San Costa/TV Globo
As pessoas fazem questão de retribuir as graças alcançadas. O túmulo da “Menina Sem Nome” recebe diariamente brinquedos, doces e ex-votos como formas de homenagem, agradecimento e pagamento de promessas.
Questionada se considerava a Menina Sem Nome uma santa, uma devota respondeu, em 2 de novembro de 1996: “Com certeza. Deus no céu e ela na Terra”.
Pessoas ouvidas pela TV Globo e pelo g1 na produção desta série sobre a “Menina Sem Nome”, também se declaram devotas da criança.
“Como ela é uma menina que é uma ‘anja’ pode ter um poder desse […] eu confio e creio”, afirmou Edmilson Matias do Nascimento, morador da comunidade do Bode, no bairro do Pina, onde se concentraram as buscas por informações sobre a criança, durante as investigações do assassinato.
A técnica em contabilidade Graciete Caminha é devota da ‘Menina Sem Nome’
San Costa/TV Globo
A técnica em contabilidade Graciete Caminha visita o túmulo da “Menina Sem Nome” todas as segundas-feiras.
Williams Cardoso, que viu o corpo da Menina Sem Nome na praia, na manhã seguinte ao assassinato, costuma visitar o túmulo dela. “Quando eu vou no Cemitério de Santo Amaro, sempre eu vou lá, eu sempre [levo] alguma coisa a ela, pela vida que eu tenho, para me proteger, já que eu vi ela ali”, declarou, revelando ainda que já fez promessa para a criança. “Estou esperando ser realizada”, complementou.
Canonização popular
De acordo com Marcos Dornelas, historiador e sociólogo que trabalha no Arquivo Público de Pernambuco, a “Menina Sem Nome” recebeu uma canonização popular. “As pessoas passam a acreditar que ali existe uma, vamos colocar entre aspas, uma ‘santa’ que realiza milagres”, afirmou.
A Arquidiocese de Olinda e Recife negou a possibilidade de abrir um processo de beatificação e canonização da “Menina Sem Nome”. O monsenhor Luciano Brito, vigário-geral da instituição, também disse que:
Indiferentes ao posicionamento da Arquidiocese, os devotos não somente levam presentes como se encarregam da limpeza e da manutenção do túmulo da criança. Eles cuidam, inclusive da caiação do túmulo, onde há uma foto do rosto da “Menina Sem Nome”, criada a partir de um registro feito pelo IML durante a exumação.
*Com informações de Letícia Maria, estagiária da TV Globo, sob a supervisão do editor Bruno Marinho.
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