Até o fim de março, 15% das pessoas que vivem nas favelas brasileiras ainda não tinham respondido o questionário. Em todo o país, quase mil recenseadores foram convocados para a ação. Mutirão do IBGE busca a resposta de moradores de comunidades ao Censo Demográfico 2022
Recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizam um mutirão para ouvir moradores de comunidades de todo o Brasil para que sejam criadas políticas públicas. A reportagem do Bom Dia Diário acompanhou uma visita ao Jardim Planalto, em Mogi das Cruzes.
Há algumas semanas a rotina de Leopoldo César Skoberg é passar o dia caminhando pelas ruas do bairro. O recenseador do IBGE vai de porta em porta em busca dos moradores que ainda não responderam ao Censo.
Leopoldo lembra que no Censo anterior, feito em 2010, muitas áreas que hoje possuem casas, eram apenas terrenos vazios. De lá para cá, houve uma expansão das comunidades, chamadas pelo IBGE de “área de aglomerado subnormal”. Junto com o crescimento da região vem também as demandas de quem vive aqui.
“Boca de lobo, asfalto, que aqui não tem nada. Arrumar as luzes, água, tem gente que está sem água ainda, né?! Acaba usando em situação que não pode usar, a gente sabe”, disse a dona de casa Rosemeire Leite. Ela respondeu ao questionário logo nas primeiras semanas e acredita que esse seja um primeiro passo para que o bairro receba mais atenção do poder público.
“Muito importante pra todos os bairros, não só pra mim, como pra comunidade. A comunidade precisa que a Prefeitura venha ajudar o pessoal aqui, porque a gente se sente largado”.
A insistência de Leopoldo faz parte de um mutirão criado pelo IBGE para ouvir os moradores de comunidades. Em todo o país, quase mil recenseadores foram convocados e, até o fim de março, 15% das pessoas que vivem em favelas ainda não tinham respondido ao questionário.
Jardim Planalto, em Mogi das Cruzes, foi um dos bairros onde o mutirão do Censo foi realizado
TV Diário/Reprodução
Depois de três semanas, Leopoldo encontrou a dona da casa que tanto procurava. “Uma conquista grande, a gente fica feliz de ter conseguido, porque o objetivo nosso é conseguir todas as entrevistas, não deixar pra trás ninguém. Nós queremos contar todo mundo no Censo, então a gente fica feliz. Continuar, você tem que voltar tantas vezes quanto forem necessárias até conseguir fazer a entrevista”.
Patrícia Ribeiro de Carvalho mora aqui há mais de 15 anos. Depois de menos de dez minutos, além do questionário respondido, a esperança de melhorias
“Acho que esse questionário deveria ser feito mais vezes, com mais moradores daqui, pra atender a necessidade, condições de vida que cada cidadão vive”, comentou a dona de casa.
O Censo faz um diagnóstico da região e aponta possíveis necessidades, como saneamento básico, coleta de lixo e acesso à educação. Por isso, a resposta de cada morador é importante e a agenda de Leopoldo ainda é bem extensa.
“É completamente importante, pro estabelecimento de políticas públicas por parte dos governantes. E também tem uma série de questões que precisam ser verificadas e é o Censo que faz isso”.
Importância do Censo
Renato Eliseu Costa, mestre e doutorando em políticas públicas, explica como o Censo pode ajudar e levar melhorias para a vida dessas pessoas.
“O Censo é um momento muito importante das políticas públicas. É através do Censo que a gente vai fazer os planejamentos ou vai entender o que os bairros precisam. Também é através do Censo que a gente vai poder recalcular, até mesmo, o número de deputados, por exemplo, de cada um dos estados. Então, o Censo é mais do que uma simples estatística, ele é a base que vai fortalecer, desde a democracia nas políticas públicas até mesmo o resultado, entregando energia, água e podendo assim melhorar a qualidade de vida da população”.
Para Costa, o principal objetivo dos recenseamentos nacionais é buscar o desenvolvimento do trabalho no país a longo prazo. “Os problemas são bastante complexos, envolvem diversos atores, prefeituras, empresas, e nem sempre são de simples efetivação. Então, quando a gente constrói o Censo, a gente começa também a projetar o planejamento da cidade e o planejamento do bairro. Então, a gente começa a pensar políticas públicas que vão afetar essa população no prazo dos próximos 10, 15 anos, já que esses problemas não são de simples resposta, tanto por parte do poder público quanto de todos esses atores envolvidos. Então, ele tem um efeito imediato, porque ajuda a gente pensar as políticas públicas, mas tem efeitos de médio e longo prazo”.
Renato Eliseu Costa, mestre e doutorando em políticas públicas, ressaltou a importância do Censo para o planejamento do poder público
TV Diário/Reprodução
Em relação a possíveis receios na resposta ao Censo, o mestre em gestão pública recorda das possibilidades que o IBGE oferece de verificar a atuação do recenseador. “Como diz o poeta, cada um sabe um pouco a dor e a delícia de ser o que é. Então, quando a pessoa responde o Censo, de uma maneira correta, ela vai possibilitar que a gente tenha acesso às informações pra também pensar as melhores políticas públicas, entender a necessidade local. Então, a gente sabe que a população tem um certo medo, uma certa insegurança, às vezes, de responder, porque é uma pessoa que bate na sua casa, que pede algumas informações sobre número de moradores, sobre alguns equipamentos que você tem na sua casa, e isso gera uma certa insegurança. Mas o próprio IBGE possui mecanismos pra dar segurança pra essa população, para saber se esse recenseador de fato é do órgão. Em comprovando que é, eles estão identificados, eles estão uniformizados, é muito importante que o cidadão possa responder o maior número de questões possíveis e da maneira mais correta possível, porque aí a gente consegue dar melhores respostas também”.
Previsto para ser realizado em 2020, esta edição do Censo foi adiada em dois anos e ainda não foi finalizada. Costa também ressalta que, quanto maior o intervalo de tempo entre o recenseamento, mais dificuldades a gestão pública possui em atender demandas da população. “Imagina a nossa sociedade há dez anos. A gente não tinha o número de aplicativos que a gente tem no celular, a gente não tinha tanta facilidade de acesso à rede. Isso para dar um exemplo simples de tudo o que mudou. Dez anos já é um tempo longo, imagina a gente estender esse tempo pra mais de dez anos. Isso faz com que a gestão pública, de uma maneira geral, acabe trabalhando num vazio, num grupo de achismos”.
Ações da Prefeitura de Mogi
Em relação à situação do Jardim Planalto, Larissa de Marco, secretária adjunta de Planejamento e Gestão de Mogi, afirma que o poder público possui maiores dificuldades de levar melhorias às áreas irregulares do bairro.
“Hoje o Jardim Planalto conta com uma estrutura mista de urbanização, vamos dizer assim. A gente tem parte das casas que tão em áreas regulares e parte das casas que não estão em áreas regulares. Isso obviamente tem impacto na prestação de serviço. A gente está avançando nesse bairro na parte de recapeamento, e eles fazem parte do nosso cronograma de pavimentação, só que existem algumas casas que, às vezes, não vão ser atendidas por algum serviço, por exemplo, água e eletricidade. Se a casa tiver numa situação de irregularidade, o setor público tem dificuldades maiores de atuar mesmo. Quando a gente tem uma situação de rua aberta, por exemplo, existe de fato dentro do mapa da cidade essa rua, essa determinação dessa rua, a Prefeitura atua junto com a EDP pra fazer a instalação dos postes públicos. Em relação à instalação de energia privada, quem tem que fazer essa solicitação é o próprio morador, junto à companhia de energia elétrica. Se hoje existem áreas que são públicas e que a gente não tem iluminação, a gente sempre pede pra esse munícipe fazer o acionamento e a solicitação através do aplicativo do Colab”.
Larissa de Marco, secretária adjunta de Planejamento e Gestão de Mogi
TV Diário/Reprodução
O aplicativo Colab foi lançado no mês passado e pode ser baixado pelo celular. E os moradores também podem entrar em contato com a ouvidoria da prefeitura pelo 156. A secretária adjunta ainda falou de um projeto de política pública que está sendo implantado em Mogi das Cruzes.
“A gente tem o Viva Seu Bairro, que é um projeto que a gente busca alcançar todos os bairros da cidade. A ideia é levar tanto a prestação de serviço como também aproximar da população, fazer com que a população participe da tomada de decisão daquilo que acontece no seu bairro. A gente já começou com o Novo Horizonte, isso foi motivado inclusive por conta de uma intervenção urbana, a gente precisava fazer uma intervenção urbana de urbanização de uma área irregular que a gente tinha ali na região. Então, a gente aproveitou aquele movimento pra fazer a elaboração do primeiro plano de bairro de Mogi das Cruzes. Então, o bairro do Conjunto Residencial Novo Horizonte vai ter o seu primeiro plano de bairro. Logo a gente vai publicar ele, encaminhar também à Câmara. Foram feitos diversos encontros. Os primeiros encontros foram de diagnóstico com a população pra população identificar quais eram os problemas dela. Depois, a gente levou os técnicos da Prefeitura pra discutir as possíveis soluções”.
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