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Enigma sobre nova espécie de bromélia é desvendado por conta da cor das flores


Recém-descoberta, a espécie botânica batizada de “enigmática” já é classificada como “Criticamente em Perigo de Extinção”; cor vibrante dá “pistas” sobre o polinizador. Nova espécie de bromélia recebeu o nome de ‘Stigmatodon enigmaticus’
Lucian Medeiros
Hoje, 17 de abril, é comemorado o Dia Nacional da Botânica, criado em 1994 para homenagear o botânico Carl Friederich Philipp von Martius, responsável por uma das maiores pesquisas botânicas do mundo, que resultou na publicação da Flora Brasiliensis.
E o quão surpreendente pode ser o universo da Botânica? Um exemplo é uma recém descoberta da ciência. Recentemente, uma nova planta foi encontrada pelo pesquisadores, com as folhas arroxeadas e cobertas por escamas esbranquiçadas. Ela possuía características marcantes das espécies do gênero Stigmatodon, um grupo de bromélias adaptado a um ambiente com rochas, com flores que surgem à noite, polinizadas por morcegos e que não são tão coloridas.
A descoberta feita a mais de 1200 metros de altitude, na Serra do Padre Ângelo, leste de Minas Gerais, teve uma “reviravolta” quando pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), acompanharam de perto a floração da nova bromélia. “Aguardamos ansiosos, imaginávamos ter flores esbranquiçadas ou esverdeadas, como todas as demais espécies de Stigmatodon. Qual foi a nossa surpresa, no entanto, quando a planta floresceu durante o dia e com cores vibrantes. Suas flores são amarelas com estruturas externas, chamadas de brácteas, vermelhas, características associadas à polinização feita por beija-flores e comuns no grupo irmão de Stigmatodon, o gênero Vriesea”, explica Dayvid Couto, pesquisador do INMA e autor do estudo.
Por causa desse mistério envolvendo a descoberta e as características tão peculiares, os pesquisadores batizaram a espécie de Stigmatodon enigmaticus, a bromélia-enigmática. “As características morfológicas sustentaram a classificação da espécie no gênero Stigmatodon, mas estudos futuros usando dados do DNA e da anatomia dessas plantas vão nos ajudar a testar hipóteses evolutivas dessa característica floral e do posicionamento dessa espécie no gênero”, ressalta Couto.
As flores de Stigmatodon enigmaticus apresentam características típicas da polinização por beija-flores, como formato tubular e cores vibrantes.
Paulo Gonella
Lista de beija-flores “canditados” à polinização
O tom forte de amarelo dá colorido a flor delicada que nasce entre as pedras e atrai o beija-flor. Mas qual deles? Esse é mais um “enigma” que ainda não há resposta. Mas a pedido do Terra da Gente os pesquisadores elaboraram uma lista de possíveis “candidatos a polinizadores” da nova bromélia.
Estudos das ornitólogas Gabriele Silva e Flávia Chaves, do INMA, indicam potenciais espécies que já foram encontradas neste habitat. Entre elas, o beija-flor-preto (Florisuga fusca), dono de uma voz tão aguda, que lembra o som de insetos ou de morcegos. Recentemente pesquisadores dos Estados Unidos e do Brasil, descobriram que a ave canta em frequência ultrassônica, algo inédito para as aves.
O beija-flor-preto é encontrado à beira da mata, capoeira, jardins, bananais
André Picoli/VC no TG
Outro possível polinizador é um dos maiores beija-flores do país, o rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei). Essa lista ainda é composta pelas espécies: rabo-branco-de-garganta-rajada (Phaethornis eurynome), beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris), besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) e o beija-flor-de-papo-branco (Leucochloris albicollis).
Paisagem da Serra do Pinhão, na região da Serra do Padre Ângelo, habitat da bromélia-enigmática.
Paulo Gonella
“Ilhas terrestres” ameaçadas
A bromélia-enigmática, recém descoberta, já é classificada como “Criticamente em Perigo de Extinção” e corre o risco de desaparecer da Serra do Padre Ângelo, uma área chamada de “ilha terrestre”. São conhecidas assim, paisagens no alto das montanhas com afloramentos rochosos cercados por florestas. “A descoberta revela a importância dos estudos básicos sobre a biodiversidade nessas ilhas terrestres da América do Sul”, afirma Dayvid Couto.
Na última década, mais de 30 espécies foram descobertas nos campos e florestas que ficam nessa região de Minas Gerais. Nessa lista, 26 espécies são consideradas endêmicas, ou seja, não existem em outro lugar do planeta, ocorrem exclusivamente nesses campos rupestres, áreas de vegetações que ficam a mais de 900 metros de altitude.
A bromélia-enigmática sem flores no seu habitat sobre rochas, as folhas são típicas do gênero Stigmatodon
Paulo Gonella
O pesquisador Paulo Gonella, um dos pioneiros no estudo da flora na região, destaca a importância dessa área de endemismo na Mata Atlântica, e reforça a urgência de proteção desses ambientes. “Somente a criação de novas reservas será capaz de salvar essa e outras espécies da extinção em um futuro próximo. As Unidades de Conservação protegem áreas de reconhecida importância biológica, e que prestam importantes serviços ambientais para sociedade, como o fornecimento de água, fixação de carbono, controle do clima, polinizadores, entre outros”, explica Gonella.

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