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Da maquiagem à medicina: como cientistas da Unicamp usam células humanas para estudar tons de pele


Pesquisadores usam técnica pioneira de sequenciamento para entender como diferentes tonalidades podem responder a tratamentos ou condições patológicas. Estudo deve durar 24 meses. Cientistas da Unicamp usam células humanas para estudar tons de pele
Um estudo conduzido na Unicamp, em Campinas (SP), utiliza células humanas para entender o comportamento de diferentes tons de pele. Segundo os cientistas, essa caracterização de amostras diversas é pioneira tanto nacional quanto internacionalmente.
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🧫 Por que é importante? Ao g1, os pesquisadores envolvidos no estudo detalharam que, hoje, a ciência carece de diversidade étnico-racial em estudos pelo mundo que estão tentando caracterizar o perfil celular do corpo humano.
Sem amostras com diferentes características e de diferentes regiões do planeta, o desenvolvimento de cosméticos e até medicamentos personalizados para pessoas não caucasianas fica prejudicado.
Esse estudo tem o objetivo de servir como um alicerce para o entendimento da pele nas suas diferentes tonalidades. Ele deve ser depositado em bancos públicos para que as pessoas tenham acesso e consigam utilizar essas informações para desenvolver novas tecnologias e novos conhecimentos sobre a pele humana.
As análises ainda são preliminares, e a proposta inicial é que o projeto dure 24 meses. Os resultados devem ser publicados e incluídos no Human Cell Atlas, um consórcio internacional para mapeamento das células do corpo humano.
“Isso pode revelar para a gente algum tipo de organização da pele que difere dependendo da intensidade de pigmentação, além de informações úteis sobre a biologia da pele para, mais para frente, a gente ter um entendimento melhor de como as diferentes tonalidades podem responder a diferentes tratamentos ou condições patológicas, doenças, etc”, disse Mori.
O projeto é uma parceria entre o Centro de Química Medicinal (CQMED) da Unicamp, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e uma empresa brasileira de cosméticos e perfumes.
Estudo é parceria entre Centro de Química Medicinal da Unicamp, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial e uma empresa brasileira de cosméticos e perfumes
Estevão Mamédio/g1
Tecnologia inédita
Na prática, os cientistas avaliam o perfil celular de peles de diferentes graus de intensidade de pigmentação em busca de duas coisas: a diversidade de células que existem naquela amostra e o comportamento das células no contexto em que estão inseridas.
Segundo Mori, o principal diferencial do estudo é o uso de uma tecnologia pioneira desenvolvida dentro da Unicamp para sequenciamento das células. “Os pesquisadores envolvidos nessa parceria foram uns dos primeiros a conseguir implementar essa tecnologia aqui no Brasil”.
“A gente coleta uma biópsia da pele e dissocia o tecido da pele para liberar células únicas. E aí a gente consegue determinar o repertório de genes expressos em cada uma das células. Antes, tradicionalmente, a gente conseguia identificar o perfil de expressão gênica, ou seja, como as células se comportavam, mas em uma mistura de células”, afirmou o professor.
Todo esse processo gera um volume de dados “gigantesco”, já que a ideia dos pesquisadores é isolar dezenas de milhares de células e sequenciar os RNAs – moléculas que produzem proteínas e estão presentes em todas as células vivas – de cada uma.
“A gente precisa de computadores superpotentes e pessoas especializadas em bioinformática para conseguir interpretar esses dados e saber que célula expressa que RNA, em que condição, que tipo de célula é diferenciada dependendo das diferentes tonalidades de pele”, detalhou.
Marcelo Mori, professor do Instituto de Biologia da Unicamp, e Katlin Massirer, coordenadora da unidade Embrapii CQMED na Unicamp
Estevão Mamédio/g1
‘Peles’ voluntárias
Além de supercomputadores e uma equipe “craque” no assunto, o estudo também requer um banco de amostras o mais diverso possível. Para isso, foram utilizadas peles de voluntárias inscritas no centro de pesquisa da empresa de cosméticos.
“As voluntárias que participam desse estudo sempre são informadas e dão o consentimento para fazer parte dessa contribuição nacional e internacional. Então, existe um grande reconhecimento desse tipo de estudo, tanto no Brasil quanto no exterior. Uma contribuição científica muito importante”, disse Katlin Massirer, coordenadora da unidade Embrapii CQMED na Unicamp.
Essas amostras foram colhidas ao longo de vários anos, com recrutamento feito a partir de uma agência regulatória. Juliana Lago, gerente científica da companhia, explica que a parceria feita com a universidade partiu do reconhecimento da falta de informações dermatológicas sobre peles negras.
A amplitude de tons é uma necessidade que vem de um olhar talvez mais social, de ver a demanda do público. Não que não existisse antes, sempre teve, mas hoje as empresas estão olhando para essa demanda. A demanda sempre esteve lá, mas hoje acho que a gente está olhando e entendendo que é um mercado em expansão e que faz muito sentido socialmente e economicamente.
De acordo com Lago, a expectativa é que o banco de dados gerado a partir do estudo abra caminhos para novos cosméticos pensados para diferentes tipos de pele, suprindo uma demanda emergente de consumo.
“[A ideia é que] a partir daqui, a gente use essa informação e o conhecimento que a gente tem para transformar essa informação biológica em formas de trazer produtos que tragam novos benefícios ou benefícios melhores ou produtos que atendam melhor esse mercado”, destacou.
Estudo deve abrir caminhos para novos cosméticos pensados para diferentes tipos de pele
Getty Images via BBC
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