Em parceria com a jornalista Luciana Quierati, tenente-coronel Anderson Passos reúne relatos de quem foi atingido pela tragédia e por quem atuou no resgate. Rompimento é considerado o maior desastre ambiental e humano provocado por uma mineradora no Brasil. Anderson Passoss e Luciana Quierati.
Instagram/ Reprodução
Com relatos de mais de 80 pessoas, o antigo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Anderson Passos, e a jornalista Luciana Quierati, escreveram o livro Brumadinho 272 para conta a história da tragédia do rompimento da Barragem de Córrego Feijão, que ocorreu em 2019 e matou mais de 270 pessoas. O livro foi lançado no início de abril.
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Atualmente, Passos é secretário de Serviços Urbanos de Uberaba, mas, na época da tragédia, comandava o Corpo de Bombeiros da cidade e foi convidado para liderar as equipes de buscas e resgate das vítimas. E são os bastidores da operação montada para atuar no desastre que ele retrata no livro-reportagem.
“O livro fala do olhar de várias pessoas, dos temores, as ansiedades, as angústias, os pensamentos das pessoas que viveram aquilo de diversas formas. A ideia foi fazer um trabalho que possa contribuir para um registro histórico desse acontecimento e que possa mostrar as humanidades e as desumanidades que acontecem em situações desse tipo”, contou.
A história reúne relatos de bombeiros, médicos, voluntários, parentes de vítimas, sobreviventes e outros profissionais que atuaram nos resgates.
Além delas, a jornalista Luciana Quierati, que fez a cobertura em Brumadinho, contribuiu no livro com a sua visão e técnicas de apuração e escrita.
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A operação
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A Operação Brumadinho se iniciou no dia do estouro da barragem, em 25 de janeiro de 2019, e 4 anos depois, ainda não foi finalizada. Em março de 2023, foram completados 1.500 dias e as buscas ainda seguem, sendo que três vítimas ainda não foram encontradas. O veterano se lembra até hoje do dia em que recebeu a notícia.
“Quando eu fiquei sabendo, me veio na memória tudo aquilo que eu já havia passado em outras missões de desastre. Tentando dimensionar. E a função agora seria coordenar uma equipe em uma área extremamente arriscada, então me deu um nó na garganta. A menor área de perigo era de perigo muito alto. Haviam áreas de perigo crítico e até inaceitável, que seriam no pé de outra barragem, fragilizadas pela ruptura da primeira”, disse Passos.
O tempo inserido naquela realidade de luta pela vida foi algo que também ficou marcado na memória de Passos, após 120 dias de buscas intensas, do qual todos os mais de 500 bombeiros envolvidos não só faziam o resgate, mas já partilhavam da angústia dos familiares e sobreviventes.
“Os números começaram a virar nomes, depois ganharam sobrenomes, foram ganhando fotos, ganhando histórias e, então, no final de tudo, estávamos procurando duzentos e setenta e dois amigos que a gente nunca chegou a conhecer”, lamentou.
Veterano dos Bombeiros de Minas Gerais conta história dos bastidores dos resgates em livro
Anderson Passos/ Arquivo Pessoal
A ruptura da Barragem 1, localizada na Mina do Córrego do Feijão pertencente à Vale, ocasionou a destruição de uma porção de dois bairros, propriedades rurais, uma pousada e vasta área de vegetação.
O rompimento causou, oficialmente, 270 mortos, incluindo dois fetos, o que motivou o título da obra de Anderson Passos. E história do qual tomou conhecimento e ficou em sua memória, a do casal Camila e Luiz, que residiam na Austrália e voltaram ao Brasil justamente para contar sobre a gravidez para os familiares. O casal e parentes passaram por Brumadinho na época.
“Eles se hospedaram na pousada que ficava logo abaixo da barragem ao 12h e 12h28 aconteceu o rompimento. Então essa família foi toda atingida e morreram todos. O casal com o filho na barriga, a irmã do rapaz, o pai, madrasta, foi um negócio terrível”.
O livro
Conforme Passos, a ideia de produzir o livro surgiu após uma explicação, para um amigo, sobre toda a ocorrência e dinâmica dos resgates, recolhimentos de pertences e reconhecimento de pequenos terrenos – do qual o amigo se surpreendeu com o relato.
“Ele foi até a base e perguntou: ‘Como é isso? Como é aquilo?’. Eu expliquei rapidamente ali como era. E ele falou: ‘Olha, isso aí dá um livro’. Ficou na minha cabeça cobrando isso, né? O tempo todo faz anota, registra, isso aí dá um livro, é importantíssimo registrar isso e de fato foi dessa forma”, contou.
Amigo foi a primeira pessoa a sugerir produção para bombeiro veterano
Anderson Passos/ Arquivo Pessoal
Após finalizar sua contribuição com os resgates e com a ideia na cabeça, Passos convidou Luciana para a produção. O processo de entrevistas, levantamento de informações e escrita levou quase três anos, e ambos voltaram ao local para relembrarem juntos detalhes.
“Fizemos várias horas de conversas, organizando, registrando tudo. Aí a gente começou a fazer um filtro das histórias, aquilo que eu me lembrava assim já dava vários capítulos. E ao longo do tempo a gente foi entrevistando pessoas, registrando novamente em áudio, batendo informações, locais” disse.
Segundo o autor, todo o lucro das vendas dos exemplares será revertido para instituições assistenciais de Brumadinho. O livro pode ser adquirido por meio de um site disponibilizado pelos autores.
Brumadinho 272
Instagram/ Reprodução
*Estagiário sob supervisão de Guilherme Gonçalves.
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‘Brumadinho 272’: bombeiro veterano que atuou no resgate conta a história e os bastidores da tragédia em livro
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