Cada brasileiro gera, em média, pouco mais de 1 kg de lixo por dia. Ao final de um ano, essa quantidade chega a aproximadamente 380 kg. Metade disso é de materiais recicláveis. No ano em que o Brasil será o centro das atenções no mundo por causa da Conferência do Clima, em Belém, a COP 30, o Jornal Nacional abre a temporada de reportagens especiais de 2025 com um tema que diz respeito a cada um de nós. Um ato banal do nosso dia a dia que a maioria dos brasileiros se acostumou a repetir de forma automática, sem pensar: a quantidade gigantesca de recicláveis que vai parar em aterros e lixões tem reflexos na qualidade de vida de todo mundo.
Para a maioria dos brasileiros, a lixeira é o capítulo final da história das coisas que já tiveram alguma utilidade. A gente usa e joga fora. Só que esse é o ponto de partida de várias outras histórias que fazem a diferença na nossa vida.
A agente ambiental Flávia Souza recebeu o Jornal Nacional na casa dela em São Paulo para mostrar o que é rotina por lá há quatro anos. Ela ensina a fazer coleta seletiva dentro de casa:
“O meu escorredor de louças quebrou. E, então, isso aqui é um PP, é um propé de poliestileno, é um plástico muito bom. Então, eu sei que ele vai para a reciclagem”, conta.
Laura da Cruz, da ONG Pimp My Carroça, brilha nas redes sociais com outras dicas importantes. Flavia aprendeu a separar o chamado lixo seco: papel, papelão, vidro, plásticos e metais.
“Comprei duas latas de milho e ficou um restinho de milho no final. Eu tenho que lavar, passar uma aguinha. ‘Papel é sem discussão. É celulose pura. Veio da terra, vai voltar para a terra”, explica Flávia.
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Jornal Nacional/ Reprodução
Flavia e Laura pertencem a uma minoria da população que faz coleta seletiva do lixo. Só 8% dos recicláveis no Brasil são realmente reciclados, segundo estimativas das empresas de limpeza pública. Já as indústrias afirmam que o percentual é maior, dependendo do material. Mas todos concordam que é preciso fazer muito mais.
Cada brasileiro gera em média pouco mais de 1 kg de lixo por dia. Ao final de um ano, essa quantidade chega a aproximadamente 380 kg. Metade disso é de materiais recicláveis. Considerando a expectativa média de vida do brasileiro, que é hoje de pouco mais de 76 anos, nós deixaríamos por aí, ao longo de uma existência, quase 30 toneladas de materiais recicláveis no lugar errado. Um gigantesco desperdício.
“Hoje, o Brasil desperdiça R$ 38 bilhões por ano, enterrando ou jogando em lixões material reciclado e material orgânico que poderia estar circulando novamente na economia”, afirma Adalberto Maluf, secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental.
Você pode até fazer a sua parte, mas não depende só de você. Lixo é assunto de prefeito. Mas só 30% dos municípios têm algum programa de coleta seletiva.
“Se os municípios não implementarem sistemas de coleta seletiva e fazer a separação do material reciclado na fonte, dificilmente a gente consegue melhorar esses números”, diz Adalberto Maluf.
A equipe do Jornal Nacional foi até Piracaia, a 100 km de São Paulo. A cidade começou do zero a separação há exatamente três anos.
Repórter: A senhora colabora há quanto tempo com a coleta seletiva?
“Desde que começou o caminhão a passar por aqui”, conta a confeiteira Cacilda Aparecida da Silva Moraes.
“O lixo que a gente não consegue reciclar é pouca coisa. A gente separa uns lixinhos e os outros já vão para o maior”, diz a auxiliar de cozinha Aline Domingues Mariano.
Repórter: Antes esse material ia para onde?
Andréia Georgia, professora: Para o lixo.
A nova rotina em Piracaia só foi possível graças ao Instituto Recicleiros. Uma ONG que já levou a coleta seletiva para 14 municípios do Brasil. As prefeituras interessadas em receber ajuda do projeto precisam, primeiro, aprovar leis que instituam a coleta dos recicláveis.
“E garantir caminhão na rua, rodando, com motorista, com coletores. Ela tem obrigação de fazer isso com eficiência. Caminhão cheio chegando aqui na porta desse galpão para descarregar. A operação do galpão vem de um fundo administrado pelo Instituto Recicleiros, que tem recursos de marcas para garantir a reciclagem das embalagens que ela coloca no mercado”, diz Erich Burger, do Instituto Recicleiros.
De volta a São Paulo, Flavia leva os recicláveis até uma cooperativa, porque no bairro dela não coleta porta a porta. Agora está explicado porque ela está por dentro do assunto. Flavia trabalha com reciclagem há 12 anos.
“Não vou mentir para você. Eu entrei na reciclagem com intuito de ganhar dinheiro. Eu não entrei aqui para evitar enchente. Não. Eu entrei aqui pelo dinheiro”, conta Flávia.
Repórter: E em casa, quando é que deu o clique?
“Cara, deu o clique quando eu entrei aqui e me deparei com o tanto de material misturado com comida, misturado com orgânico, misturado com produtos de higiene pessoal, aí deu um clique. Falei assim: ‘Não, eu estou fazendo errado também’. Então, vou fazer minha parte, vou começar. Demorou para a chavinha rodar, mas eu consegui”, conta.
Em Piracaia, a reciclagem também está vingando.
“É claro que tem educação ambiental para ser feita, mas tem fiscalização para ser feita. A gente tem que fazer com que as pessoas encham um caminhão de material reciclável”, diz Erich Burger.
“Não é um trabalho para ser cansativo: ‘Aff, vou ter que reciclar hoje’. Não! É para ser um trabalho super natural”, afirma Flávia.
Repórter: E depois é igual a andar de bicicleta. Você anda, não lembra como é que está andando. Fica automático.
Flávia: Exatamente!
É o futuro ao alcance das nossas mãos.