Alteração da cor é resultado de uma mutação genética; beleza singular encantou observador de aves. Indivíduo azul da tiriba-de-testa-vermelha chama a atenção no litoral paulista
Amauri Leite
Há cerca de dois anos o advogado Amauri Leite dedica seu tempo à observação de aves. Na casa dele, em São Sebastião, no litoral norte paulista, há sempre frutas e sementes disponíveis para os bichos que vivem na região. Desde 2022, ele conta que um bando de tiriba-de-testa-vermelha (Pyrrhura frontalis) começou a frequentar o local.
Mas um indivíduo em especial deste grupo chamou a atenção do observador de aves na praia de Juquehy. Em vez de apresentar a habitual plumagem verde e vermelha da espécie, a ave exibia uma plumagem azul. Durante mais de um ano Amauri observou a tiriba “azul” junto com as outras, depois a ave não apareceu mais no comedouro.
Alteração de cor ocorre por mutação genética
Amauri Leite
O ornitólogo Fernando Igor de Godoy viu as fotos da tiriba azul e disse que nunca tinha observado até então um caso assim nessa espécie. Godoy explica que esse é um fenômeno chamado de cianismo (intensidade do azul-celeste). Nesses casos, a ave perde os pigmentos carotenóides, que são responsáveis pelas cores amarela, vermelha e laranja. Portanto, sem eles, a plumagem fica apenas com a melanina.
A cor verde, é resultado da mistura da amarela com a azul. Como falta pigmentação amarela, sobra só a tonalidade azul. O especialista diz ainda que o indivíduo já nasce assim por ter tido alguma alteração genética no momento da fecundação. “É um bicho bem diferente”, afirma o ornitólogo.
A ave “diferente” vivia normalmente entre o bando de tiribas de coloração comum
Amauri Leite
A tiriba-de-testa-vermelha
Essa ave da família dos psitasídeos mede de 24 a 28 centímetros de comprimento e pesa entre 72 e 94 gramas. A plumagem é predominantemente verde, inclusive na bochecha. Já a fronte, o abdômen e a face interior da cauda apresentam cor vermelha. A região que circunda os olhos é branca e entre machos e fêmeas não há diferença na plumagem.
Os registros da tiriba-de-testa-vermelha no Brasil vão desde o Rio Grande do Sul até a Bahia. Ela também pode ser encontrada na Mata Atlântica de Goiás e no sul de Mato Grosso do Sul. A ave também vive no Uruguai, Paraguai e Argentina.
A tiriba-de-testa-vermelha vive em bandos de 10 a 40 indivíduos
Jarbas Mattos/VC no TG
Esse psitacídeo faz ninhos em cavidades de troncos de árvores. As fêmeas colocam de três a cinco ovos que variam de 26 a 21 milímetros e que são incubados pelas fêmeas por cerca de 30 dias. Quando nascem, os filhotes são alimentados pelos pais, especialmente pelo macho, durante cerca de 45 dias. A tiriba-de-testa-vermelha costuma se deslocar em bandos compostos de 10 a 40 indivíduos.
Outros casos de cianismo
Em 2021, o Terra da Gente mostrou um caso de cianismo numa outra espécie de psitacídeo. Os flagrantes foram feitos pelos vizinhos Eduardo Kokubun e Luiz Carlos Ramassotti, num condomínio de Rio Claro (SP). A admiração pela ave ‘mutante’ garantiu registros em foto e vídeo da maritaca interagindo com um parceiro de penas verdes.
Maritaca totalmente azul surpreende moradores de condomínio em Rio Claro
Reprodução EPTV
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