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Imagens reconstituem momentos antes de colapso da ponte JK, na divisa entre Tocantins e Maranhão


Negligência? Omissão? O que fez a ponte ruir? Reportagem acompanha as buscas por vítimas e as investigações realizadas pelo DNIT e pela Polícia Federal. Imagens reconstituem momentos antes de colapso da ponte JK, na divisa entre Tocantins e Maranhão
Reprodução
Domingo, 29 de dezembro. O Fantástico está na divisa entre Tocantins e Maranhão. Os últimos dias de 2024 são de buscas. Sete pessoas continuam desaparecidas no rio Tocantins. Dez morreram.
Negligência? Omissão? O que fez a ponte ruir?
O vão da ponte que colapsou estaria em cima de nós. É impressionante pensar que aqui tinha uma ponte de uma BR de tamanha importância que simplesmente caiu, despencou.
As cenas da queda de uma ponte federal espantam, mas não surpreendem quem mora na região. A ponte fica entre as cidades de Aguiarnópolis, no Tocantins, e Estreito, no Maranhão.
Foi construída em 1960. Na época, era dona de um recorde: o maior vão livre de ponte do Brasil.
“Ela venceu um vão de 140 m”, diz o engenheiro civil Roberto Racanicchi, do Crea-SP.
Só que – de lá pra cá – muita coisa mudou.
“O peso do tráfego que você tem sobre a ponte foi aumentando. Era projetada ali para 45 t, né? E hoje a gente tem carreta que trafega pela essas pontes com 72 t, 80 t, né? Em 1998 foi feito um reforço por conta dessa necessidade de manutenção periódica”, complementa
Mas não foi suficiente. O Fantástico encontrou postagens nas redes sociais que mostram as condições precárias da ponte em 2015, 2018, 2019.
O governo federal já sabia que a ponte Juscelino Kubitschek tinha problemas – pelo menos desde de janeiro de 2020. Há quase cinco anos, o DNIT produziu um documento que já indicava danos e irregularidades e danos. O relatório indicava que havia fissuras em todas as colunas.
Cabos de aço – que sustentavam os vãos – estavam expostos, enferrujados
Havia também rachaduras.
O professor de engenharia consultado pelo Fantástico viu o relatório.
“Tem uma deformação que começa a crescer. Sobretudo, né, no meio do vão, onde é o ponto mais crítico de deformação. E ausência dos planos de manutenção, né? E de correção dos elementos estruturais.
Em maio de 2024, o DNIT – Departamento Nacional de Infraesturura de Transportes abriu uma licitação para reparos. Mas o edital foi um fracasso. A empresa que venceu a concorrência não estava habilitada para o tipo de obra.
Em outubro, o Google Mapas passou pela ponte. Observe o pavimento.
21 de dezembro, sábado da semana passada.
Um dia antes do colapso – o blogueiro de Estreito fez esse apelo.
“Já pensou se essa ponte cai? Ou você aí, DNIT, o presidente do Brasil, o governo federal, o governo estadual, Socorro, vem dar um help para nós aqui.”
“Eu gravei realmente bem no meio da ponte ali”, diz Edilson Brustolon. “Onde que caiu ali, bem da rachada, tinha um bolsão. Como se fosse um buraco”
Por aplicativo de mensagens, o alerta se espalha. “Fica esperto de ir para estreito que a ponte vai cair, ó.”
Domingo – 22 de dezembro.
Esta foto foi tirada horas antes da queda.
Duas e cinquenta e três da tarde, a câmera de um comércio em Estreito registra o movimento de veículos na entrada da ponte.
No minuto seguinte – pausa
Depois, gente correndo.
Do outro lado da ponte, também. “O objetivo era de chegar até o vão central da ponte”, diz o vereador Elias Cabral Jr.
O vídeo do vereador mostra um carro prata entrando na ponte. Por pouco Laís e Laiana escaparam. O carro ficou parado em cima de uma rachadura.
“Eu não escutei barulho. Só vi as carretas descendo”, diz a atendente Laiana de Souza. “O nosso carro ainda estava mais à frente daquela rachadura. Quando ele deu a ré, enganchou ali naquele lugar. E ao abrir a porta, a gente se deparou com aquela cena da rachadura e tivemos que pular os lugares rachado. O nosso maior desespero foi na hora que a gente teve que correr, porque a gente não sabia se ia dar tempo de chegar.”
Um morador filmou o momento exato do colapso. Ao congelar a imagem, é possível ver os veículos despencando.
O trecho que caiu tinha 120 metros de extensão.
Naquele momento, havia dez veículos no trecho que caiu, que tinha 120 metros, o equivalente a um prédio de 40 andares. Havia, quatro caminhões, três carros e três motocicletas.
Pelo menos dezoito pessoas viajavam por ali.
Jairo sobreviveu. Achamos um rapaz aqui. Foi retirado das pedras por moradores.
Ele estava num carro com a mulher e a filha de três anos – ainda desaparecidas.
O caminhoneiro Anísio pretendia levar uma carga até o Paraná.
A condição pra aceitar um trabalho nessa época do ano era estar ao lado da esposa e da neta, Lohanny, de onze anos.
“Ela era meiga, ela era doce, era uma boa aluna”, lembra.
Os corpos de Lohanny e dos avós já foram encontrados.
Numa caminhonete, Aílson e a esposa Elisângela voltavam de um encontro com velhos amigos,
Um almoço onde tiraram essa foto – a última do casal.
“Você poder imaginar que às vezes por minutos ou segundos, poderia mudar tudo, né? Se tivesse parado pra ir num banheiro, se tivesse pra calibrar um pneu. Talvez a gente hoje não estaria vivendo isso”, diz.
Os corpos de Aílson e Elisângela foram recuperados pela Marinha.
Nos primeiros dias, mergulhadores dos Bombeiros do Maranhão, do Tocantins e do Pará , e da Marinha fizeram buscas até 30 metros de profundidade.
Além de três vítimas, localizaram alguns veículos.
A Marinha utiliza uma tecnologia que mapeia áreas submersas. Numa profundidade de 25 a 35 metros, os marinheiros encontram um trecho da ponte, de 20 metros de comprimento, que possivelmente está em cima de um veículo. Um drone subaquático da polícia federal faz um mapeamento com imagens dos locais onde os mergulhadores devem descer.
No sábado, a Marinha levou as buscas até 60 metros, com uma técnica de mergulho profundo.
A Marinha instalou nessas duas balsas um posto avançado, onde é possível monitorar os mergulhadores. Pra fazer o mergulho dependente, é necessário um equipamento específico, que inclui essa mangueira, que alimenta o mergulhador com ar e que permite comunicação de vídeo e áudio.
Nas margens do rio Tocantins, os parentes aguardam por notícias.
O Dnit,- que é responsável pela ponte, instaurou um inquérito adminsitrativo pra investigar o que aconteceu.
‘O DNIT monitora as suas mais de 6200 pontes pelo Brasil. A gente avalia todas, a gente acompanha, a gente interdita, a gente trabalha com todas as pontes, né? A gente gerencia isso diariamente com nossas superintendências e essa é a pergunta que o Dnit está investigando para buscar a resposta”, diz o diretor geral do DNIT, Fabrício Galvão. Eu entendo que o Dnit é responsável pela queda dessa ponte. Eu entendo que o Dnit precisa apurar o que aconteceu com essa ponte.
Repórter: Por que essa ponte não foi interditada?
Galvão: “Essa é uma das perguntas que a minha comissão está aí para descobrir.
A investigação é feita pela Polícia Federal, que mandou peritos ao local essa semana.
“A gente vai ter que juntar essas informações de campo com informações que vão vir de relatórios anteriores, contratações que podem indicar para a Polícia Federal o quanto que já sabiam de problemas dessa ponte”, diz o diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Carlos Eduardo Palhares Machado. “O que dá para dizer é que uma ponte não cai de 1 dia pro outro.”
Questionado se houve negligência, o superintendente regional da Polícia Federal no Maranhão, Sandro Jansen afirmou: “Vamos apurar, né? Existe a possibilidade de uma omissão, uma ação por omissão ou negligência. Culpa por negligência”
“O que dá para dizer é que uma ponte não cai de um dia pro outro”, diz o diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Carlos Eduardo Palhares Machado.
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