Cuidados com solo beneficiam cultivo e meio ambiente; veja o que dizem especialistas

Atenção à qualidade do solo pode evitar danos causados pela erosão, retenção de água e até rendimento do plantio. Cuidados com solo beneficiam cultivo e ambiente
O Paraná é referência no país em conservação de solo – foi no estado, na década de 1970, que foi criado o plantio direto. Mas especialistas alertam que, apesar da evolução nas técnicas de conservação, muitos agricultores acabam abandonando cuidados básicos, como os terraços, por exemplo.
O agricultor Lucas Link adota a prática na propriedade da família, no sudoeste do estado, e aponta alguns diferenciais.
“Quando você pega e aperta a terra, um solo compactado ele tende a ficar e se você for soltando, ele volta ao estado original, ou seja, é um solo bem cuidado.”
“Solo é a base de qualquer cultivo, de qualquer sistema produtivo, de qualquer retorno econômico”, afirmou Link.
Ele também é mestre em conservação de solos e se especializou e, ao longo de anos no campo, aprendeu que o que se planta se colhe. Mas o que se planta num solo bem cuidado se colhe muito mais.
Compartilhe no WhatsApp
Compartilhe no Telegram
Para cuidar do solo, ele não dispensa as plantas de cobertura. Milhetos, por exemplo, quando crescerem, serão derrubados na terra para ajudar a fazer palhada e matéria orgânica.
O agricultor também usa cama de aviário como fertilizante e, com uma série de cuidados, conseguiu reduzir aplicações de produtos químicos que também matam os microrganismos importantes para o solo.
Na terra inclinada da propriedade da família de Link, a chuva sempre foi um desafio com os antigos terraços de base larga.
Segundo Paulo César Conceição, líder do grupo de pesquisa em ciência do solo na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Dois Vizinhos, a quantidade de agricultores que adotam a técnica dos terraços ainda é baixa, compreendendo apenas cerca de 20 a 30% das áreas.
“Isso se deve à compreensão de que é possível fazer agricultura conservacionista apenas com o plantio direto, mas o plantio direto sozinho não é altamente eficiente, nessa situação precisamos de práticas complementares”, ele diz.
O impacto econômico e ambiental da retirada dos terraços é o que uma pesquisa do grupo da UTFPR quer mensurar. De um lado, dois hectares de uma lavoura com terraços. Do outro, a mesma área sem nenhuma elevação para contenção de água.
Quando chove, os estudantes da universidade coletam a água que escorre das lavouras – até mesmo de madrugada. As amostras coletadas vão pro laboratório da universidade.
A água que não infiltra lá nas lavouras vai parar dentro dos rios. E traz junto não apenas solos, mas também outros resíduos – e a pesquisa da universidade quer entender qual o impacto disso no meio ambiente.
Os pesquisadores também querem saber se a fertilidade do solo influencia no escoamento. Em plantações menores, eles analisam a capacidade de infiltração conforme o tipo de adubação da lavoura. Tem se tornado cada vez mais comum trocar fertilizantes químicos por dejetos da produção de aves, suínos e de gado.
Carlos Alberto Casali, professor que coordena a pesquisa, conta que já fizeram descobertas interessantes.
“Onde estão sendo aplicados dejetos, seja cama de aves ou dejetos líquidos de suíno e bovino, diminui o escoamento superficial. Isso pode estar relacionado à produção de maior biomassa por parte das plantas e também a melhora da qualidade biológica e da matéria orgânica desses solos. Consequentemente, aumenta a infiltração, diminuindo o volume de água escoado na superfície”, ele explica. “E é claro, estamos fazendo isso a nível de testes.”
Tanto os estudos quanto a experiência de alguns agricultores têm mostrado a importância da conservação do solo. O agricultor Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha, também no sudoeste, tem conquistado recordes de produtividade depois de trabalhar por anos para recuperar o solo.
Ele cobre grande parte do solo com “flores de serviço”. “Nós, produtores, nunca devemos deixar o sol bater diretamente no solo. O sol bate nas folhas que são como uma ‘placa de energia fotovoltaica’. Capturam a luz solar e transformam em energia para a planta, em nutrientes, e vai tudo para o grão.”
Vídeos mais assistidos do g1 Paraná:
Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.