A dengue não é uma novidade para os brasileiros, mas, em 2024, a população precisou redobrar a atenção para prevenir a proliferação do mosquito transmissor e identificar os sintomas em casos de contágio. De janeiro até a metade de dezembro, mais de 6,6 milhões de casos prováveis e quase seis mil mortes por dengue (5.987) foram registradas em todo o país.
Os dados, disponíveis no painel de monitoramento do Ministério da Saúde, mostram que no primeiro mês do ano, o Distrito Federal declarou estado de emergência na saúde pública. Com a alta nos casos, 11 estados tiveram emergência decretada pela doença.
Em todo o país, foram 411 mil casos de dengue em janeiro e, em fevereiro, o número saltou para mais de um milhão, tendo seu pico em março, com 1,747 milhão de confirmações, o que, consequentemente, aumentou o número de mortes por dengue. Abril iniciou um período de queda que foi até setembro, com uma leve subida em outubro e novembro.
Em Santa Catarina, até a primeira quinzena de dezembro, 340 pessoas morreram em decorrência da doença — uma média de 0,96 mortes por dengue ao dia, segundo dados divulgados pela SES (Secretaria de Estado da Saúde). Em todo estado, foram comunicados 346.625 casos prováveis no período.
A faixa etária que mais registra casos de dengue é a de 20 a 29 anos, com 1,2 milhão de casos, o que representa quase um em cada cinco casos. Na separação por gênero, as mulheres são a maioria a contrair a doença (55%).
Casos de dengue cresceram por mudanças climáticas, diz especialista
Segundo Rivaldo Cunha, secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, a elevação drástica do número de casos e mortes por dengue, além da antecipação do pico de contágio, foram causados, principalmente, pelas mudanças climáticas.
Outro fator que contribuiu para a doença, se acordo com Cunha, foi a não retomada do trabalho feito por agentes de controle de endemias que foi suspensa durante a Covid-19.
“Durante a pandemia, houve a suspensão por orientação do SUS e dos dirigentes do SUS em todas as instâncias para a suspensão do trabalho casa a casa que era feito pelos agentes de controle de endemias. Em algumas localidades, infelizmente, esse trabalho não foi retomado passada a pandemia ao mesmo padrão que tinha anteriormente”, explica.
O recorde de casos prováveis, registrados em um ano, foi batido em março, quando o país chegou a 1.889 milhões de diagnósticos. O ano com mais casos confirmados anteriormente era 2015, com 1.688.688. A série histórica das estatísticas do Ministério da Saúde sobre a dengue começou em 2000.
Em fevereiro, o Ministério da Saúde criou o COE Dengue (Centro de Operações de Emergência contra a dengue) para coordenar as medidas contra a doença no país. Na época, a ministra Nísia Trindade disse que a medida tinha o intuito de ser uma mobilização nacional contra a dengue. O centro teve as atividades encerradas em julho, e o monitoramento continuou sendo feito pela Sala Nacional de Arboviroses.
Para Cunha, o atraso na organização da rede assistencial para o combate e consequente redução das mortes por dengue foi feita depois do esperado. “E sendo tardia, em algumas localidades, ela foi um pouco complexa para além do que nós esperávamos”, destaca. “A intensidade da mudança climática e a antecipação da ocorrência dos casos contribuíram para que também houvesse um retardo na organização da rede assistência”, completa.
Maio teve pico de mortes por dengue, diz Ministério da Saúde
De acordo com boletins do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 163 mortes por dengue em janeiro, 227 em fevereiro, 601 em março, 1.082 em abril e teve o ápice de em maio, com 1.344 óbitos.
A partir daí, os registros entraram em queda até setembro, mês com 191 mortes por dengue, e voltaram a subir em outubro. Segundo a pasta, o maior registro de mortes não coincide com o pico da doença por causa da demora na confirmação do óbito, que pode ser investigado por até 60 dias.
Antes de 2024, o ano com o maior número de mortes por dengue no país tinha sido 2023, quando 1.179 pessoas perderam a vida pela doença. Esse número foi superado em 10 de abril.
Vacinação contra a dengue
O Ministério da Saúde incorporou a vacina contra dengue em dezembro de 2023, e a primeira remessa de imunizantes chegou ao país em 20 de janeiro, com cerca de 750 mil doses. O público-alvo foi de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, por serem o grupo com maior quantidade de hospitalizações, atrás somente dos idosos. A vacina, porém, não foi autorizada para este público, apenas para quem tem entre quatro e 60 anos de idade.
Até 21 de novembro, 2.792 milhões de doses foram aplicadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), sendo que 5.563 milhões foram recebidas. São Paulo foi o estado que mais administrou o imunizante, com 726 mil doses distribuídas.
A vacina distribuída é a Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda. Ela é tetravalente — fornece proteção contra os quatro sorotipos — e pode ser aplicada em quem ainda não teve a doença.
O Instituto Butantan solicitou à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o registro de um imunizante brasileiro chamado de Butantan-DV. Caso seja aprovado, a vacina será a primeira do mundo em dose única. Ainda segundo o Instituto, a produção poderá fornecer cerca de 100 milhões de doses ao Ministério da Saúde nos próximos três anos.
*Com informações do R7.