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Com medo do preconceito, homem passa oito meses sem procurar tratamento após ter diagnóstico de HIV


Nelson Craice Junior, morador de São José do Rio Preto (SP), não acreditava que tinha contraído a doença. Em dezembro, mês dedicado à prevenção da Aids, ele relata que sofreu preconceito e perdeu o emprego. Nelson Craice Junior foi diagnosticado com HIV em São José do Rio Preto (SP)
Arquivo Pessoal
Um morador de São José do Rio Preto (SP), de 43 anos, passou oito meses sem procurar tratamento de saúde após ser diagnosticado com HIV devido ao medo do preconceito. Depois disso, revela que foi discriminado por uma colega de trabalho, além de perder o emprego.
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Em 2019, a vida de Nelson Craice Junior tomou rumo inesperado quando ele começou a sentir os primeiros sinais da doença. Desconfiado, procurou um posto de saúde em São José do Rio Preto e fez o exame. O diagnóstico de HIV, confirmado por dois testes, trouxe à tona a situação que mais temia.
Durante oito meses, Nelson lidou com o medo da rejeição por parte de amigos, familiares e até mesmo de colegas do trabalho. À época, decidiu não procurar ajuda.
“Fiquei quieto, pensando o que fazer. A médica me encaminhou para o Centro de Especialidades, mas, durante oito meses eu não procurei o tratamento. O medo do preconceito me paralisou”, revela Nelson.
Após criar coragem e procurar atendimento especializado, Nelson começou a desmistificar os próprios tabus e entendeu que o HIV não é uma sentença de morte, mas uma doença que pode ser tratada.
O médico, que até hoje tem sido um apoio constante, explicou que, adotando todos os protocolos, ele poderia ter uma vida normal.
“O HIV não mata, o que mata é a AIDS. Eu vivi com medo, mas agora, com o tratamento, sei que posso viver tranquilo”, afirma.
Na ocasião, Junior trabalhava no call center de uma pizzaria e compartilhou o problema que enfrentava com a gerente do estabelecimento. Segundo ele, rapidamente começou a se sentir discriminado por ela. Em seguida, a informação chegou aos diretores da empresa e acarretou na demissão dele.
“No início da pandemia eu fui dispensado do trabalho. Não quis entrar em detalhes, mas a gerente passava álcool em tudo o que eu tocava. Foi um momento difícil e de muito medo”, relembra.
Depois disso, trabalhou como gerente de vendas em uma empresa de TV a cabo até junho de 2023, três meses após perder o pai.
Foi quando decidiu auxiliar em casa, cuidando da saúde da mãe que sofre de Alzheimer e Demência. Atualmente, ele vive uma vida normal e diz que está com o vírus indetectável desde 2022.
Em dezembro, mês dedicado aos cuidados da doença, ele revela que usa a própria história como uma forma de estimular outras pessoas a procurarem apoio.
“Não julguem ninguém. O HIV tem tratamento e, se você tiver medo, converse com o médico. Ele pode te ajudar”, finaliza.
Nelson Craice Junior e a mãe em São José do Rio Preto (SP)
Arquivo Pessoal
🗓️Dezembro Vermelho
Em alusão ao movimento Dezembro Vermelho, o Senac realizou um bate-papo gratuito em São José do Rio Preto para falar sobre a luta contra o HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
O evento, conduzido pela jornalista e ativista Roseli Tardelli, ocorre em 13 de dezembro e teve como foco a prevenção e o enfrentamento dos estigmas associados ao HIV.
Roseli Tardelli conduziu a palestra no Senac São José do Rio Preto
Divulgação/Senac
O bate-papo também contou com a presença de especialistas como Camila de Carvalho Silva Ishizava, enfermeira e coordenadora do Programa de IST/HIV/Aids, e Fabiana de Oliveira, representante estadual do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas de São Paulo (SP).
Elas abordaram questões como a desinformação e o preconceito que ainda são barreiras significativas para o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento.
Roseli Tardelli aproveitou a ocasião para reforçar o conceito de que “indetectável é igual a intransmissível”, destacando a eficácia do tratamento antirretroviral que permite que os pacientes tenham relação sexual desprotegida, sem o medo de transmitir o vírus.
“É fundamental que as pessoas saibam que o HIV não é uma sentença de morte. Com o tratamento adequado, ela vivem bem e sem medo. A informação é a chave para enfrentar o preconceito e garantir qualidade de vida para quem enfrenta o vírus”, afirmou Tardelli.
A atividade aberta ao público foi realizada em alusão ao Dezembro Vermelho
Divulgação/Senac
Durante o evento, também foi realizada a exposição fotográfica denominada: “Superpositivas: Histórias de Vida e Superação”, com curadoria dos artistas locais Walter Antunes e Fábio Takahashi. As imagens capturaram histórias de coragem e resiliência de pessoas que vivem com o HIV, tornando-se verdadeiros exemplos de superação..
🦠Incidência de HIV
Entre janeiro e outubro de 2024, o número de pessoas diagnosticadas com HIV em São José do Rio Preto caiu 46,24% em comparação ao mesmo período de 2023, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Situação que reforça a importância contínua da conscientização e das ações preventivas de combate à doença.
No Brasil, dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2022 mostravam que mais de 1 milhão de pessoas viviam com HIV/Aids. Com 65% dos casos em homens e 35% em mulheres, a faixa etária mais atingida é a de jovens adultos, especialmente entre 20 e 34 anos, refletindo maior vulnerabilidade de adolescentes e de jovens LGBTQIA+.
Embora desafios ainda persistam, o país tem alcançado progressos significativos no enfrentamento ao HIV/Aids, superando as metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2023, o país atingiu 96% de diagnóstico entre as pessoas vivendo com HIV, superando a meta em 1%, e manteve 95% de adesão ao tratamento com carga viral suprimida, o que praticamente elimina o risco de transmissão. No entanto, a meta de garantir acesso ao tratamento para 100% da população ainda é desafiadora na erradicação da Aids como um problema de saúde pública.
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