Genilson Costa foi preso no dia 18 de dezembro na Operação Martellus, que investiga apoio do tráfico de drogas na compra de votos das eleições de 2024. Após o envio do vídeo, o assessor confirmava o pagamento, de acordo com a PF. Prints mostram momento em que assessor manda vídeo para comprovar pagamento de Boca de Urna
Caíque Rodrigues/g1 RR e Reprodução
A Polícia Federal (PF) interceptou mensagens de assessores da campanha de reeleição do vereador e presidente da Câmara de Boa Vista, Genilson Costa (Republicanos), suspeito de receber apoio financeiro do tráfico de drogas para compra de votos nas eleições de 2024. Em uma das mensagens, um assessor compartilha um vídeo de eleitores declarando apoio a Genilson após receberem pagamentos.
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A Rede Amazônica teve acesso a um dos prints que mostra dois assessores que, de acordo com a investigação, faziam parte do esquema de compra de votos de Genilson, conversando. Nesta conversa, um deles manda um vídeo com 10 eleitores reunidos, gritando o nome e o número do então candidato.
Após o envio do vídeo, o assessor manda “Pago 👍” (Veja no print abaixo). Ambos os assessores são investigados pela Polícia Federal.
O g1 procurou a defesa de Genilson Costa, questionou se há o interesse em se posicionar e aguarda resposta.
Prints mostram momento em que assessor manda vídeo para comprovar pagamento de Boca de Urna
Reprodução
Genilson Costa foi preso no dia 18 de dezembro na Operação Martellus, que investiga apoio do tráfico de drogas na compra de votos das eleições de 2024. Também foi preso o coronel Francisco das Chagas Lisboa. Costa foi solto no dia 20 de dezembro após passar dois dias na prisão.
As investigações apontam que o vídeo e a mensagem seriam uma forma de comprovar a entrega das Bocas de Urna – prática eleitoral que envolve a tentativa de influenciar eleitores no dia da votação, proibida por lei. Os dois são apontados como articuladores no esquema. Um deles chegou a ser preso na véspera das eleições, por suspeita de compra de votos, junto com outras seis pessoas.
Os dois faziam parte do grupo “Os Top 100” que, de acordo com a PF, no WhatsApp para organizar os esquemas de compra de votos. No grupo eram enviados comprovantes de pagamento para os membros. Ex-assessores, amigos e eleitores de Genilson Costa também faziam parte deste grupo, onde eram enviadas planilhas e anotações para organizar não só o dinheiro enviado diretamente aos eleitores, mas também os favores feitos.
Segundo a Polícia Federal, a irmã do assessor, apontado como a pessoa que envia o vídeo dos eleitores, chegou a solicitar ajuda para conseguir o dinheiro necessário para a liberação do irmão. A fiança custava R$ 1,5 mil.
“A polícia federal bateu lá na casa do meu pai, a fiança dele é 1,500 e das outras 6 pessoas 500,00 reais Como vamos fazer? […] Fico no aguardo […] A polícia federal levou ele e mais 6 pessoas por denúncia […] Alguma posição? sic.”, disse a irmã em print compartilhado no grupo Os Tops 100.
Print da irmã do assessor de Genilson Costa (Republicanos) pedindo dinheiro para fiança
Reprodução
De acordo com a PF, o grupo no WhatsApp foi criado pela chefe de gabinete de Genilson, Michelle Parnaiba, que é casada com Ricardo Loureto – responsável pela prestação de contas da campanha do presidente da Câmara de Boa Vista. Ambos são alvos de mandados de prisão na operação Operação Martellus.
Investigações apontaram que a chefe de gabinete mantinha diálogos com Genilson sobre a contabilidade do esquema de compra de votos organizados pelo grupo. Em mensagens, ela teria relatado a distribuição de dinheiro em mais de 50 endereços.
O g1 tenta contato com Ricardo Loureto e Michelle Parnaiba e aguarda resposta. A reportagem também tenta contato com a Câmara de Boa Vista, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.
Além de Genilson, outros 12 mandados de prisão foram cumpridos na operação, entre eles contra a irmã do vereador e o subcomandante-geral da Polícia Militar, coronel Francisco das Chagas Lisboa.
PF prende presidente da Câmara de Vereadores de Boa Vista
De acordo com as investigações, Genilson comprava votos dos eleitores em Boa Vista para se reeleger utilizando dinheiro do tráfico de drogas. O coronel Francisco Lisboa informava o vereador sobre as denúncias de compra de votos recebidas, quebrando o sigilo do canal de comunicação da PM.
Além de dinheiro, a equipe de Genilson também fazia favores aos eleitores em troca de votos. Entre as despesas registradas, a PF identificou R$ 200 para remédios de um amigo, R$ 500 em combustível para um pastor evangélico e R$ 510 para cervejas consumidas em uma reunião política.
O inquérito policial aponta que Genilson, que já foi investigado em outros momentos por diversos crimes, teria recebido patrocínio do tráfico para o exercício de suas atividades parlamentares, inclusive, para a disputa à presidência da casa legislativa municipal.
O Ministério Público Eleitoral (MPE-RR) pediu a cassação do mandato de Genilson. O coronel Francisco Lisboa foi demitido do cargo de subcomandante-geral da Polícia Militar (PM) após a prisão.
Operação Martellus
Vereador Genilson Costa, presidente da Câmara Municipal, e o coronel Francisco Lisboa, subcomandante-geral da PM foram presos pela PF em Boa Vista
Reprodução/Instagram
A Operação Martellus foi deflagrada com o objetivo de desarticular a associação criminosa criada durante o período eleitoral de 2024 para comprar de votos além de praticar outros crimes eleitorais. A ação foi deflagrada nesta quarta-feira (18), um dia após o vereador ser diplomado em Boa Vista.
Ao menos R$ 1 milhão teriam sido utilizados na compra de votos. A esposa de Genilson, a policial civil Natalie Guimarães, também teve o mandado de prisão expedido, mas não foi presa e segue foragida.
A defesa de Genilson Costa (Republicanos) classificou a prisão do vereador como “arbitrária, injusta e ilegal”. Já a PM disse, em nota, que está acompanhando o caso.
Vereador Genilson Costa (Republicanos) com a esposa, a policial civil Natalie Guimarães
Reprodução/Instagram/vereadorgenilsoncosta
Genilson, se reelegeu como vereador neste ano com 3.744 votos, vai para o terceiro mandado seguido na Câmara de Boa Vista (em 2016, foi eleito pela primeira. Depois, em 2020) e foi o terceiro mais bem votado em 2024.
A investigação teve início após a prisão em flagrante de dez pessoas no dia 5 de outubro deste ano pelo crime de corrupção eleitoral. Na ocasião, um suspeito, apontado na investigação como líder da campanha de Genilson Costa, teria cooptado eleitores para votar no presidente, que disputava a reeleição ao cargo de vereador no município de Boa Vista.
Em contrapartida ao voto, essas pessoas teriam recebido valores que variavam entre R$ 100 e R$ 150.
No dia 6 de outubro, uma busca e apreensão conduzida pela PF identificou a prática de diversos crimes eleitorais, culminando na prisão em flagrante do candidato pela prática dos crimes de corrupção eleitoral, lavagem de dinheiro e por ter ouro em sua forma bruta em sua residência, o que é crime.
Após a prisão, o então candidato foi liberado após impetrar habeas corpus.
O esquema liderado por Genilson, de acordo com a PF, conta com apoio de agentes públicos, incluindo subcomandante da PM, que manteria o vereador informado sobre denúncias recebidas sobre a compra de votos investigada.
Os investigados poderão ser indiciados pelos crimes de associação criminosa, corrupção eleitoral, falsidade ideológica eleitoral, transporte ilegal de eleitores, violação do sigilo do voto, violação de sigilo funcional, prevaricação e lavagem de dinheiro.
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