Ilha da Queimada Grande, entre Itanhaém e Peruíbe, no litoral de São Paulo, é uma área de acesso restrito apenas para pesquisadores e profissionais ambientais. Biólogo relatou que serpentes da 2ª ilha com maior densidade de cobras do mundo encaram durante visita
Rafael Benetti e Airton Lourenço
Com a segunda maior densidade populacional de cobras do mundo, a Ilha da Queimada Grande entre Itanhaém e Peruíbe, no litoral de São Paulo, é uma área de acesso restrito apenas para pesquisadores e profissionais ambientais. O biólogo Eric Comin já visitou a unidade de conservação algumas vezes e disse que não desembarcaria mais no local.
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
“São muitas serpentes. A partir do momento que você começa a subir a mata, que é fechada, para onde você olha, vê algumas serpentes. Em cima, no tronco [sobre] sua cabeça, ao lado, só que elas são extremamente tranquilas”, disse.
O biólogo contou que um especialista, que acompanha a expedição, abre o caminho tirando as cobras do chão para que os pesquisadores consigam caminhar. “Ele espanta do chão, vai tirando elas para a galera passar”.
“Geralmente nessas expedições você fica alguns dias na ilha, então sobe com equipamentos, com água e com tudo mais. Essas [cobras] não são agressivas, são bem tranquilas, elas não vêm para cima [da gente], elas só te olham, aquela coisa de te olhar nos olhos, é bem interessante”.
O biólogo contou que chegou a ficar bem perto delas, inclusive da jararaca-ilhoa, que é venenosa e só tem na ilha: “Superlegal, uma coisa bem bacana, só que é sinistro. É um animal lindo de se ver, é bem legal mesmo” (leia mais sobre a espécie abaixo).
Ele explicou que demorou um tempo para desembarcar na ilha e participar de uma expedição. “Criei coragem, desembarquei. Hoje desembarcaria? Não sei, eu já desembarquei, acho que hoje eu não tenho mais a necessidade […], mas ir para lá para mergulhar, é só me convidar que eu vou”.
Eric reforçou que o acesso à ilha não é permitido, mas que o mergulho no entorno é liberado. “Essa serpente não vai para a água e, mesmo você estando próximo ao costão rochoso da ilha, você não consegue ver as cobras, então para você ver as serpentes tem que ser com o desembarque”.
“Elas são extremamente terrestres, a adaptação delas é terrestre, elas não são animais aquáticos, então assim, não tem nenhum tipo de risco em relação ao mergulho e serpentes”, complementou.
Mergulho
Ilha da Queimada Grande, entre Itanhaém e Peruíbe (SP)
Eric Comin
Para o biólogo, a Ilha da Queimada Grande é “um verdadeiro hotspot [uma região natural com uma grande biodiversidade e em risco de extinção] de conservação”. “É um dos melhores pontos de mergulho do estado de São Paulo […]. Ali é rota de espécies migratórias”.
Eric afirmou que no entorno da ilha são encontradas raia-manta, raia-chita, raia-prego, raia-borboleta, além de uma diversidade de peixes e de corais. “A gente tem uma diversidade de peixes totalmente incrível, tem tartarugas, é rota de baleias”.
Para ele, o mar da ilha tem condição de água limpa durante quase o ano todo. “Ali a gente consegue mergulhar dentro de áreas abrigadas do vento […]. Temos mergulhos para todos os níveis, temos naufrágios, que acho que é um grande atrativo para o turismo de mergulho”.
Jararaca-ilhoa
Jararaca-ilhoa na Ilha da Queimada Grande, conhecida como 2ª com maior densidade de cobras do mundo
João Rosa
A jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), de acordo com o biólogo, é considerada uma das cobras mais peçonhentas e perigosas do mundo. “Ela é uma jararaca de coloração meio esverdeada com tom voltado ao amarela. Com isso, ela tem uma camuflagem muito boa”.
Ela se adaptou na ilha devido a um isolamento geográfico da glaciação. “Acredita-se que foi isso e, nesse isolamento, ela teve que caçar aves do continente que vão até a ilha. Para ela caçar essas aves, se ela pica a ave e a peçonha não é forte, a ave voa, vai embora e cai em outro lugar”.
Por isso, a espécie se adaptou para picar e, consequentemente, provocar a morte imediata do animal. O biólogo afirmou que a serpente não cresce muito, mas mede aproximadamente um metro de comprimento. No entanto, a picada é equivalente a de quatro jararacas. “É muito forte”.
“Dentro desse isolamento geográfico […] a peçonha dela se potencializou de uma tal forma que a partir do momento que ela dava o bote, a ave já morria e ficava no galho”, complementou.
Ele afirmou que essa espécie de jararaca é extremamente endêmica, ou seja, só existe na Ilha da Queimada Grande. O biólogo relembrou alguns experimentos que teve em conjunto com pesquisadores do Instituto Butantan durante as visitas na ilha.
“A gente tinha que encontrar os animais [cobras] no chão, enrolado em ponto de ataque. Era assim, você soltava o camundongo, ele passava perto dela, ela dava o bote e ele já estava morto. Eu nunca [tinha visto] coisa dessa”, contou.
Ilha da Queimada Grande
Eric Comin
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos