O g1 reuniu o que se sabe até momento sobre o esquema de retiradas de recursos da entidade que envolvia o presidente preso suspeito de matar a colega de trabalho, Cláudia Lobo, que também seria beneficiada pelos desvios. Entenda como a polícia descobriu crimes na Apae de Bauru
Reprodução
Um crime investigado em Bauru (SP) vem ganhando destaque pelas descobertas que a polícia vem fazendo. No dia 6 de agosto deste ano, uma funcionária da Apae de Bauru foi considerada desaparecida. A partir do desaparecimento de Cláudia Lobo, a polícia descobriu um esquema milionário na entidade que atende crianças que necessitam de cuidados especiais na cidade.
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A secretária executiva da entidade foi vista pela última vez saindo da sede administrativa com um envelope na mão e seguindo até um dos carros da Apae, que foi localizado sem ninguém no dia seguinte.
A partir da investigação do desaparecimento da funcionária, foram descobertos indícios de um esquema de desvios milionários na entidade, que há 60 anos atua na cidade com serviços gratuitos oferecidos às famílias de pessoas com deficiência.
O inquérito sobre o desaparecimento de Cláudia foi concluído, mas, a partir dele, provas e indícios dos desvios foram encontrados e sustentam também a investigação realizada pelo Setor de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold).
O g1 reuniu o que se sabe até momento sobre o suposto esquema de retiradas de recursos da entidade que envolvia o então presidente, Roberto Francischetti Filho, preso suspeito de matar a colega de trabalho, que também seria beneficiada pelos desvios.
Nesta reportagem você vai ver:
Como a investigação começou?
Cláudia está morta?
Quem são os envolvidos?
Como o esquema funcionava?
Quanto foi desviado?
O que falta esclarecer?
Como a investigação começou?
Desvio milionário na Apae de Bauru: Justiça decreta prisão preventiva de nove investigados
Em entrevista à TV TEM, o delegado responsável pela investigação no Seccold, Glauco Stocco, explicou que a suspeita de desvio de verbas na Apae já foi levantada no primeiro depoimento que Roberto prestou, ainda na condição de testemunha do desaparecimento de Cláudia.
Ao ser questionado sobre supostas razões para o sumiço da colega de trabalho, Roberto informou à polícia que Cláudia havia lhe pedido uma ajuda financeira, de cerca de R$ 40 mil, para entregar a uma outra pessoa, e disse que esse dinheiro deveria sair dos cofres da Apae.
Essa informação levou a polícia a desconfiar de retiradas indevidas de recursos da entidade, que foram comprovadas depois, e que a então coordenadora financeira da entidade, Maria Lúcia Miranda, presa também suspeita de participar do esquema, não soube explicar quando convocada a prestar depoimento ainda no inquérito que investigava o sumiço de Cláudia.
A partir daí, o inquérito para apurar supostas irregularidades nas finanças da Apae foi aberto pelo Seccold.
Cláudia está morta?
Para a Polícia Civil, por meio da investigação da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), Cláudia foi morta com um tiro disparado por Roberto ainda no carro da entidade, no dia 6 de agosto.
Imagens de circuito de segurança mostram o momento em que Roberto sai do banco de passageiro e assume a direção do carro da entidade e Cláudia vai para o banco de trás.
Para o delegado responsável pelo inquérito que investigou o desaparecimento da funcionária, Cledson Nascimento, foi nesse momento que aconteceu o tiro.
Imagens provam que presidente da Apae de Bauru esteve com funcionária morta
Depois disso, Roberto acionou o então funcionário do almoxarifado da Apae, Dilomar Batista, que o ajudou a se livrar do corpo. Segundo depoimento de Dilomar, eles queimaram o corpo da secretária em um local que já era usado, de maneira não oficial, para queimar documentos da Apae.
Óculos que pertenciam à Cláudia foram encontrados no local e a polícia também localizou fragmentos de ossos que foram encaminhados para perícia em São Paulo. O resultado da análise desses fragmentos foi divulgado no dia 19 de dezembro e não foi possível confirmar que os restos seriam humanos, já que não foi detectada a concentração mínima de DNA necessária para comprovar sua origem.
Oficialmente, Cláudia ainda é considerada desaparecida, pois ainda não foi emitido o atestado de óbito. No entanto, o inquérito que apurava o desaparecimento foi concluído e encaminhado ao Ministério Público, que ofereceu à Justiça a denúncia contra Roberto por homicídio e ocultação de cadáver e contra Dilomar por ocultação de cadáver e fraude processual.
A Justiça aceitou a denúncia e os dois se tornaram réus no processo, que terá sua primeira audiência no dia 16 de janeiro do ano que vem.
Quem são os envolvidos?
Presos suspeitos de desvios milionários na Apae de Bauru
Reprodução/TV TEM
Em uma operação realizada no dia 3 de dezembro, a polícia prendeu sete pessoas suspeitas de envolvimento nos desvios de recursos da Apae. Foram expedidos nove mandados de prisão contra parentes de Cláudia e também funcionários da Apae e prestadores de serviço para a entidade.
Na operação foram presos a filha, a irmã, o cunhado e o ex-marido de Cláudia – Letícia Lobo, Ellen Siuza Rocha Lobo, Diamantino Passos Campagnucci Júnior e Pérsio de Jesus Prado Júnior; a atual coordenadora financeira da Apae e o coordenador anterior – Maria Lúcia Miranda e Renato Golino – e Renato Tadeu de Campos, que é policial militar aposentado e prestava serviços de segurança para a Apae.
No dia seguinte, o empresário Felipe Figueiredo Simões se apresentou com seu advogado na delegacia de Pirajuí (SP) e também foi preso. O nono mandado de prisão foi expedido para Roberto Francischetti, que já estava preso desde o dia 15 de agosto por envolvimento no desaparecimento de Cláudia.
Todos tiveram a prisão temporária convertida em preventiva e permanecem presos enquanto as investigações sobre o esquema estão em andamento. Além dos presos, mais quatro pessoas também foram acusadas de participar do esquema e se tornaram rés no processo.
Ao todo são 13 denunciados pelo pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao Ministério Público (MP). A denúncia formal do Gaeco foi aceita pela Justiça no dia 19 de dezembro.
Como o esquema funcionava?
Durante as investigações sobre o desaparecimento de Cláudia, a polícia teve acesso a escutas telefônicas dos ramais de Roberto e Cláudia que indicaram que os dois, assim como outros envolvidos no esquema e que atuavam na Apae, articulavam suas ações abertamente dentro da própria instituição, utilizando os telefones fixos da entidade.
A TV TEM e o g1 tiveram acesso, com exclusividade, a mais de 7 mil gravações dos ramais telefônicos da entidade, feitas a partir de 2020.
Esse material, além de informações sobre as movimentações financeiras da entidade, revelaram à polícia um esquema organizado e criminoso de desvio de dinheiro envolvendo superfaturamento de contratos, pagamentos a funcionários “fantasmas”, emissão de notas frias de serviços não prestados, entre outras irregularidades.
Quanto foi desviado?
Comprovante de depósito de mais de R$ 23 mil feito por Cláudia para Roberto
Reprodução/TV TEM
Durante as investigações, a Polícia Civil identificou movimentações financeiras atípicas ou suspeitas de quase R$ 7 milhões em contas de Roberto e Cláudia, porém, o montante desviado ainda não foi estipulado e segue em apuração.
Desse total, cerca de R$ 5 milhões foram atribuídos a operações comandadas pelo ex-presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, e entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,8 milhão envolvem movimentações feitas por Cláudia, somando pelo menos R$ 6,8 milhões.
No entanto, os investigadores acreditam que os valores reais podem ser ainda maiores, considerando o longo período de irregularidades.
Também durante as investigações foram apreendidas três máquinas de cartão, todas vinculadas a contas da Apae e duas delas que a entidade sequer tinha conhecimento da existência. Só em uma delas foi identificada uma movimentação de R$ 500 mil para contas da Cláudia e do Roberto.
O que falta esclarecer?
Apesar de ter sido concluído o inquérito que apurava o desaparecimento de Cláudia e da conclusão de que ela foi assassinada, a defesa de Roberto nega que ele seja o autor do crime e também afirma que a materialidade do crime ainda não foi confirmada, uma vez que indícios do corpo não foram localizados.
Por outro lado, tanto para a polícia quanto para Justiça, que tornou Roberto e Dilomar réus pelos crimes, o homicídio ocorreu. No entanto, a solicitação feita pela filha de Cláudia para emissão do atestado de óbito da mãe foi negado e, oficialmente, ela segue como desaparecida.
Em relação à investigação de desvios na entidade, a polícia segue com o inquérito para apurar envolvimento dos suspeitos presos e também de outras pessoas que eventualmente podem ter participado ou facilitado os desvios. Também são apurados há quanto tempo eles aconteciam e o montante desviado.
A Justiça decretou o bloqueio dos bens dos envolvidos já identificados e também foi pedida a quebra de sigilo bancário deles nos últimos cinco anos. A Apae também abriu uma sindicância interna para apurar as irregularidades na entidade, que segue em andamento.
Justiça determina prisão preventiva de 9 suspeitos de envolvimento em esquema de desvio milionário na Apae de Bauru
Reprodução/TV TEM
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