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Diretor de polícia e delegado de SP são afastados após serem citados em delação sobre corrupção policial; deputado foi mencionado


Governo afastou Fábio Lopes, do Deic, e Murilo Roque, do 24º DP na capital. Vinicius Gritzbach os citou em denúncia. Empresário foi morto após delação ao MP. Político Antonio Olim, que é delegado, também foi mencionado. Citados negam irregularidade. Dois delegados de São Paulo foram afastados preventivamente pelo governo estadual após terem seus nomes citados na delação premiada que Vinicius Gritzbach deu ao Ministério Público (MP) sobre o envolvimento de policiais civis corruptos com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Além deles, um deputado que também é delegado foi mencionado pelo empresário na denúncia que ele fez sobre corrupção policial antes de ser assassinado no mês passado (saiba mais abaixo).
As informações sobre os delegados foi dada na quinta-feira (19) pelo SBT. E acabaram confirmadas nesta sexta-feira (20) pela TV Globo, GloboNews e g1 com autoridades.
Gritzbach era empresário do ramo imobiliário, lavava dinheiro para policiais e membros da facção criminosa. Por esse motivo, ele também era investigado pelas autoridades por corrupção.
Os delegados afastados são Fabio Pinheiro Lopes, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e Murilo Fonseca Roque, que passou pelo 24º Distrito Policial (DP), Ponte Rasa, ambos na capital paulista.
Além dos dois policiais civis, o deputado estadual Antônio Olim (PP), foi citado na delação de Gritzbach. Olim é delegado, mas já estava afastado da Polícia Civil por causa do cargo político que exerce.
De acordo com fontes da equipe de reportagem, as autoridades investigam se os três delegados cometeram alguma ilegalidade.
Procurados pela equipe de reportagem, Fabio e Olim negaram ter cometido qualquer irregularidade nas funções de delegados. Murilo não foi encontrado para comentar o assunto.
“Dessa forma, ou o empresário faltou com a verdade para obter vantagens em seu acordo de delação premiada, ou foi enganado pelo mencionado advogado”, informou Fabio por telefone. De acordo com o policial, Gritzbach foi investigado pelo Deic e indiciado por lavagem de dinheiro.
“Recebo, com veemente indignação, notícias acerca do meu nome e de outras honradas autoridades com fatos nebulosos, imprecisos e improvados, os quais não guardam qualquer relação com a realidade. Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente, o senhor Vinicius Gritzbach. Não mantive qualquer contato próximo ou mediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, quem só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos”, informa trecho da nota divulgada à imprensa por Olim.
“Repudio e expresso a minha cabal indignação ao uso de meu nome de forma vil, gratuita e indevida. Não recebi nenhuma notificação oficial a respeito desses fatos, e sigo absolutamente sereno com relação a esse episódio, sobre o qual haverei de me posicionar, cobrando das autoridades os esclarecimentos e demandando as responsabilidades devidas, no momento e nas vias apropriadas para fazê-lo”, continua o deputado no seu comunicado.
Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais corruptos ligados ao PCC
Reprodução/TV Globo
A Polícia Federal (PF) apreendeu dólares, euros, reais, armas, munições, carros, relógios e joias de luxo, uma lancha e outros objetos com policiais, um advogado e empresários do estado de São Paulo investigados por suspeita de corrupção e envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC) (veja as imagens nas fotos e vídeo desta reportagem).
Cinco policiais civis, um advogado e dois empresários investigados pela PF e pelo Ministério Público (MP) por lavagem de dinheiro foram presos na terça-feira (17) durante a “Operação Tacitus”. Um outro agente da Polícia Civil não foi encontrado e ainda é procurado.
Todos os oito foram denunciados à Justiça por Vinicius Gritzbach. Ele f
Após a denunciar o grupo, a PF e o MP fizeram a operação na capital de São Paulo e nas cidades de Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba, no interior do estado. Agentes e promotores foram até imóveis dos investigados, onde encontraram:
Dinheiro de origem não declarada e suspeito de lavagem: mais de R$ 753 mil em cédulas de dinheiro nacional e estrangeiro, sendo cerca de R$ 120 mil em valores convertidos de dólares e euros que estavam nos imóveis;

Armas e munições sem comprovação: oito pistolas, seis fuzis, três espingardas, um revólver e uma carabina. Também tinham oito carregadores e mais de 1.600 balas;

Carros de luxo nacionais e importados: sete veículos no total, sendo Mercedes Benz, Ford Maverick, picape Hilux, Jeep Compass, Toyota Cruiser, Audi e Honda;

Veículos náuticos e outros: uma lancha, três motos aquáticas e dois quadriciclos;

Artigos de luxo: cinco relógios de grife de marcas famosas importadas, 35 anéis, 11 colares, nove pingentes, seis pulseiras, dois terços e 68 pedras preciosas;

Celulares e equipamentos de informática: 11 telefones, dois laptops e pendrives;

Documentos diversos: escrituras de imóveis, cadernos de anotações e cheques bancários.
PF: investigados por elo com PCC movimentaram R$72 milhões
Quem são os investigados
Ainda de acordo com a investigação, o grupo movimentou junto ao menos R$ 72 milhões de maneira ilegal nos últimos cinco anos. É o que aponta o relatório da investigação que realizou a operação para prender os investigados.
O delegado Fábio Baena e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, o “Du”, Marcelo Roberto Ruggieri, o “Xará” e Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”, estão entre os suspeitos presos. Os três trabalham como policiais civis em São Paulo. O agente da Polícia Civil, Rogério de Almeida Felício, o “Rogerinho Punisher” fugiu e não foi preso.
Os demais detidos são o advogado Ahmed Hassan Saleh, o “Doutor Mudi”, e os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o “Molly”.
Presos e procurado na operação da PF e do MP em São Paulo
Reprodução
Como funcionava o esquema
De acordo com a PF e o MP, para lavar o dinheiro os investigados investiam dinheiro da propina paga pelo PCC aos policiais e do tráfico de drogas da facção criminosa em negócios imobiliários e na abertura de contas de empresas-fantasma.
A investigação identificou essa movimentação financeira irregular dos oito investigados entre 2018 e 2022.
Segundo a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, o esquema criminoso envolve:
Manipulação e vazamento de investigações policiais para integrantes do Primeiro Comando da Capital: para os bandidos se anteciparem a eventuais operações da polícia e não serem presos. Em troca disso, os agentes da Polícia Civil cobraram dinheiro dos investigados;

Venda de proteção policial a criminosos: membros do PCC contratavam os serviços de “bico”, segurança e escolta ilegal por parte dos agentes;

Corrupção: para beneficiar um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico da facção criminosa PCC junto ao mercado imobiliário. Integrantes da facção e policiais compravam imóveis, criavam empresas ou se associavam a elas para tornar seus investimentos aparentemente lícitos. Mas no caso dos agentes, a investigação notou que os bens adquiridos e declarados oficialmente por eles eram incompatíveis com os salários que recebiam na Polícia Civil.
Objetos apreendidos pela PF e pelo MP em ação contra policiais, advogado e empresários suspeitos de elo com o PCC
Divulgação
Todos os oitos investigados citados acima haviam sido denunciados por Vinicius Gritzbach antes de ele ser assassinado no mês passado. O empresário conhecia o grupo pois lavava dinheiro para ele, seja na aquisição de empreendimentos imobiliários ou no investimento de criptomoedas e joias.
Também investigado pelo Ministério Público por suspeita de corrupção de lavagem de dinheiro, Gritzbach denunciou o grupo durante delação premiada à Justiça. Caso fosse condenado, ele teria a pena reduzida. O empresário respondia aos crimes em liberdade.
Gritzbach acusou os cinco policiais de cobrarem R$ 40 milhões de propina para não responsabilizá-lo pelos assassinatos de dois membros do PCC. O empresário era investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de ter mandado matar Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue” em 2021.
Ele não pagou o dinheiro do suborno e foi indiciado pela polícia pelos homicídios. Gritzbach foi executado a tiros no dia 8 de novembro na frente do Aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Execução de Gritzbach
Caso Gritzbach: novas imagens mostram momento da execução do empresário
Câmeras de segurança gravaram o crime cometido por dois homens encapuzados e com fuzis que fugiram em seguida (veja vídeo acima). Um motorista por aplicativo foi atingido por um dos disparos e também morreu.
Dois suspeitos de participarem da execução dele foram presos dias depois pela força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar o caso. Matheus Augusto de Castro Mota e Matheus Soares Brito teriam ligação com o Primeiro Comando da Capital.
O terceiro suspeito procurado como foragido pelo homicídio do empresário é Kauê do Amaral Coelho. Segundo a força-tarefa, mais pessoas podem estar envolvidas no crime.
Além de investigarem o possível envolvimento do PCC no assassinato de Gritzbach, as autoridades apuram a hipótese de que policiais possam ter participado da execução dele. Um áudio gravado pelo empresário mostra uma conversa entre um membro da facção oferecendo R$ 3 milhões a policiais para matá-lo.
A equipe de reportagem tenta localizar as defesas dos oito investigados para comentar o assunto.
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