Os filhos de Gisèle Pelicot, mulher que foi dopada e estuprada pelo marido e mais 72 homens entre 2011 e 2020, lamentaram o tempo de condenação dado aos criminosos. O julgamento na Justiça da França foi finalizado nesta quinta-feira (19) e definiu penas de 3 a 20 anos de prisão para os estupradores.
Dominique Pelicot, marido de Gisèle, foi condenado a 20 anos de prisão, pena máxima para o crime na França. Apesar do envolvimento de outros 72 homens, apenas 50 réus além de Dominique foram julgados. Os outros 22 abusadores não foram encontrados pelos investigadores.
Durante uma década, foram mais de 200 casos de estupro cometidos pelo grupo de homens recrutados por Dominique em conversas online.
Família de Gisèle Pelicot teria ficado insatisfeita com o tempo de prisão aos condenados
Os três filhos do casal Pelicot, David, Caroline e Florian, teriam ficado insatisfeitos com as penas entre 3 e 20 anos de prisão aos estupradores. Segundo o relato de um familiar à AFP, as sentenças ficaram abaixo dos pedidos do Ministério Público.
No início do julgamento, em setembro, Caroline afirmou que o seu pai é “um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos”.
Gisèle, porém, diz respeitar a decisão e a condenação dada pelo Tribunal, consideradas brandas pelos filhos. “Eu respeito isso”, disse para a imprensa francesa. Além disso, ela afirmou que pensa nas vítimas não reconhecidas de casos de estupro.
”Penso nas vítimas não reconhecidas, cujas histórias muitas vezes permanecem nas sombras. Quero que saibam que partilhamos a mesma luta”, desabafou.
O apoio à Gisèle Pelicot
Quando Gisèle desceu as escadas do tribunal, centenas de pessoas aplaudiram e gritaram seu nome. O julgamento de quase três meses teve grande repercussão na França e gerou protestos em apoio a ela e contra a violência sexual.
Ao abrir mão do direito de anonimato, ela se tornou um símbolo de luta e coragem. Gisèle Pelicot afirmou querer fazer com que a “vergonha trocasse de lado” e passasse da vítima para o estuprador.
Ela afirmou nesta quinta-feira que nunca se arrependeu de tornar o julgamento público para que a sociedade pudesse ver o que estava acontecendo.
“Tenho confiança em nossa capacidade coletiva de encontrar um futuro melhor no qual homens e mulheres possam viver harmoniosamente juntos e com respeito mútuo”, declarou.
A pena para Dominique Pelicot
Na quarta-feira (18), a advogada de Dominique, Béatric Zavarro, ainda esperava que o tribunal “se afastasse” um pouco da pena máxima e considerasse os “traumas” que seu cliente sofreu durante a infância, incluindo um estupro aos 9 anos.
O réu recebeu o veredicto em pé e sem expressar qualquer emoção. Durante o julgamento, ele nunca negou as acusações de ter drogado Gisèle com ansiolíticos para estuprá-la ao lado de homens desconhecidos que ele encontrou pela internet.
Além do principal réu, o tribunal declarou culpados os outros 50 acusados, apesar de cerca de 30 deles terem solicitado a absolvição por acreditarem que foram “manipulados” por Dominique Pelicot.
O escândalo
O escândalo foi descoberto em 2020, quando o acusado foi pego filmando por baixo das saias de mulheres em um centro comercial. Ao apreender o computador e o celular de Pelicot, a polícia descobriu imagens dos estupros cometidos contra a esposa dele.
“Minha mãe me disse: ‘Passei quase o dia inteiro na delegacia. Seu pai me drogou para me estuprar com estranhos’”, contou a filha do casal, Caroline.
“Liguei para meus irmãos. Nos sentimos indefesos. Choramos. Não entendemos o que estava acontecendo. Sofremos uma dor que não desejo a ninguém”, acrescentou, entre lágrimas.
Ao ser detido, Dominique Pelicot manifestou o seu “alívio”, porque “não conseguia parar”. Sua família, porém, questiona sistematicamente suas declarações. Segundo sua filha, “ele só conta parte da verdade quando se vê encurralado”.