Mais da metade (54%) dos indígenas vivem em áreas urbanas, segundo o IBGE. Em 2021, eram 36%. Mulher indígena leva criança no colo no Praça dos Três Poderes durante julgamento do marco temporal no STF en 2021
Fábio Tito/G1
O número de indígenas que vivem em áreas urbanas no Brasil superou a quantidade de indígenas em áreas rurais, segundo o Censo de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (19).
De acordo com os dados, 54% dos indígenas (914.746) viviam em áreas urbanas em 2022, enquanto 46% (780.090) viviam em áreas rurais.
Esses números mostram uma inversão em relação a 2010, quando a maioria dos indígenas moravam em áreas rurais. Naquele ano, a maior parte dos indígenas – 64%, ou 572.083 pessoas – viviam em áreas rurais. Os demais 36% (324.834), em áreas urbanas.
O maior aumento da fatia de indígenas em áreas urbanas ocorreu dentro das terras indígenas: número passou de 5%, em 2010, para 11,2% em 2022. Fora delas, o percentual se manteve semelhante (79%).
Houve crescimento da parcela de indígenas em área urbana no no Norte, região com mais indígenas no Brasil, no Nordeste e no Centro-Oeste. No Sudeste e no Sul, percentuais registraram leve recuo.
Segundo Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais do IBGE, a população indígena que vive em áreas urbanas ultrapassou a que vive na área rural por três fatores:
Mudanças na metodologia de pesquisa do Censo;
Uma maior autoafirmação dos indígenas como tais, especialmente nas cidades
A maior taxa de fecundidade dos indígenas e a redução da mortalidade contribuíram mais para o crescimento da população nas áreas urbanas do que nas rurais.
“É preciso destacar de início que não se trata exclusivamente de um processo migratório. Na última década, o IBGE implementou uma série de mudanças metodológicas, de aperfeiçoamentos, na forma como o Censo demográfico é realizado nas áreas indígenas”, afirma Damasceno.
O IBGE diz não ser possível afirmar se é a primeira vez na história em que a população indígena em situação urbana é maior que a na área rural. Segundo o instituto, houve o mesmo registro em 2000, mas com metodologia diferente de pesquisa.
Indígenas nas cidades tem pior saneamento que a média
Segundo os dados do Censo, as condições de vida dos indígenas nas áreas urbanas são piores do que as dos não-indígenas.
“A desigualdade é muito impactante quando a gente olha e compara as taxas de acesso à infraestrutura de saneamento básico entre a população indígena e a população residente [o total da população brasileira]”, afirma Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
Segundo o instituto, 13% dos indígenas que vivem em áreas urbanas não possuem água encanada. Na média do país, o percentual é de 2,7%.
A falta de abastecimento é ainda maior entre os indígenas quando o recorte é da população rural: 68% deles não têm rede de abastecimento, enquanto o total da população rural brasileira sem canalização é de 29%.
“[Essa desigualdade] tem a ver também com os lugares que os indígenas estão ocupando nas cidades”, afirma Marta.
Outros indicadores
A média de indígenas por domicílio é maior que a média nacional: são 3,64 pessoas por residência, ante 2,79 da média brasileira.
O levantamento mostra que os indígenas em áreas urbanas são mais velhos em comparação com aqueles que vivem em áreas rurais;