Segundo as investigações, réu dopou Gisèle Pelicot ao longo de 10 anos e convidou dezenas de estranhos para a estuprar. Sentença foi anunciada na manhã desta quinta-feira (19). Gisèle Pelicot fala na saída do tribunal em 19 de dezembro de 2024 após anúncio das condenações de 51 pessoas por estupros contra ela.
Reuters
Gisèle Pelicot, drogada e estuprada pelo ex-marido e dezenas de estranhos durante 10 anos, saiu aplaudida e ovacionada de um tribunal no sul da França nesta quinta-feira (19) após ouvir as sentenças dos 51 condenados.
Ao sair da corte, ela leu à imprensa um pronunciamento. Nele, Pelicot agradeceu o apoio do público e disse que, apesar de o julgamento ter sido “uma provação muito difícil”, nunca se arrependeu de ter tornado o caso público.
“Para quem tem uma história desta nas sombras, estamos na mesma luta. O apoio das pessoas realmente me tocou e me deu a força para vir ao tribunal e dar a cara”, disse, ao sair do tribunal. ‘Eu nunca me arrependi desta decisão”.
Dominique Pelicot, o homem acusado de drogar a ex-mulher para estuprá-la com estranhos, foi condenado a 20 anos de prisão, pena máxima, pela Justiça da França nesta quinta-feira (19). O julgamento ganhou repercussão internacional após a vítima, Gisèle Pelicot, tornar o caso público.
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Com isso, Dominique deve sair preso da audiência. Ele foi considerado culpado pelo tribunal em todos os crimes pelos quais foi processado. O homem era acusado de estupro agravado contra Gisèle e outros crimes relacionados, como ter sedado a esposa, tê-la entregado a dezenas de homens para estupros filmados, e também por ter filmado sua filha, Caroline Daian, e sua enteada nuas.
Todos os outros 50 réus acusados de estuprar Gisèle também foram considerados culpados pelo tribunal francês. As penas pedidas pela promotoria para esses homens variam de 4 a 18 anos de prisão. Durante o julgamento, Dominique havia se declarado culpado pelos crimes dos quais foi acusado.
Um grande público compareceu à frente do tribunal na manhã desta quinta para acompanhar o anúncio da sentença. Os apoiadores da vítima soltaram gritos de celebração quando as notícias dos primeiros veredictos de culpabilidade começaram a circular.
O julgamento começou no dia 2 de setembro em Avignon, no sul da França. Segundo a acusação, Dominique dopou a mulher durante 10 anos e convidou mais de 70 homens para estuprá-la. Ao todo, quase 200 estupros foram registrados. Entenda mais sobre o caso aqui.
O réu e a vítima foram casados por 50 anos. Gisèle só descobriu os estupros após Dominique ser preso em 2020 por ter importunado sexualmente três mulheres em um mercado.
À época, a polícia mostrou para Gisèle fotos e vídeos encontrados no computador de seu marido nos quais ela aparecia sendo estuprada por diferentes homens.
Ao longo de três meses e meio de audiência, Dominique confessou o crime e pediu perdão à família. Outros 50 homens, que também são réus no caso, também prestaram depoimento. Alguns afirmaram que não sabiam que Gisèle havia sido drogada.
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Os crimes
Gisèle Pelicot compareceu a quase todas as audiências do julgamento iniciado em setembro
Reuters
Durante o julgamento, Dominique Pelicot admitiu que dava para Gisèle doses de tranquilizantes sem que ela soubesse. Para isso, ele misturava os medicamentos na comida e na bebida. Depois, em um site de encontros da França, ele convidava outros homens para estuprá-la.
De acordo com as investigações, Dominique pedia para que os homens não acordassem Gisèle. Além disso, os estupradores tiravam a roupa na cozinha, para evitar que elas fossem esquecidas no quarto do casal.
“Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro. Dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício”, disse Gisèle durante uma entrevista em setembro.
O processo aponta ainda que Dominique participava dos estupros e filmava os crimes. Ele não pedia dinheiro em troca. Ao longo de 10 anos, mais de 70 homens com idades entre 21 e 68 anos participaram dos estupros. Destes, 22 não foram identificados.
Alguns dos acusados afirmaram que não sabiam que a vítima estava drogada e alegaram que pensavam estar participando de uma fantasia sexual do casal.
Por outro lado, Dominique disse que todos sabiam que a mulher estava inconsciente.
Entenda mais sobre o caso aqui.
O julgamento
Dominique Pelicot compareceu ao tribunal nesta quarta, visivelmente fraco
Benoit PEYRUCQ / AFP
O julgamento de Dominique Pelicot começou no dia 2 de setembro, em Avignon, no sul da França. Durante as audiências, Caroline, filha dele, também descobriu que o pai guardava fotos dela nua.
Segundo a imprensa local, ao saber das imagens, Caroline abandonou a sala de audiência tremendo e chorando. Ela foi amparada pelos dois irmãos e só retornou 20 minutos depois.
As fotos em questão foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta com o nome “Em volta da minha filha, nua”.
Dominique negou que tenha drogado e estuprado a filha. No entanto, Caroline disse à imprensa francesa que duvidava do pai.
Outro caso que chamou a atenção durante as audiências foi o relato de Jean-Pierre Marechal, um amigo de Dominique. Ele disse que copiou o método usado pelo acusado para estuprar a esposa.
Durante o depoimento, Marechal afirmou que Dominique também estuprou a esposa dele. Ele disse estar arrependido do crime. O amigo do acusado também se tornou réu no caso, apesar de não ter abusado de Gisèle.
Sentença
Gisèle Pelicot deixando tribunal
REUTERS/Antony Paone
Na última audiência do julgamento, na segunda-feira (16), Dominique pediu perdão à família e disse que admirava a coragem que Gisèle teve para tornar o caso público.
“Todos aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados, assim como eu”, disse.
A promotora Laure Chabaud pediu a pena máxima possível por estupro agravado. Se a Justiça acatar o pedido, Dominique pode ser condenado a 20 anos de prisão.
A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro agravado. A promotoria pediu penas entre 10 e 18 anos de prisão para os investigados.
Os demais réus também tiveram oportunidade de falar no último dia de audiências. Alguns voltaram a pedir desculpas para Gisèle, enquanto outros negaram os crimes.
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