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Dez anos depois, morte de turista italiana em Jericoacoara segue mistério investigado pela polícia


Gaia Molinari foi encontrada sem vida em 25 de dezembro de 2014, perto da Pedra Furada, uma das áreas mais visitadas de paraíso turístico no litoral cearense. Suspeito do crime nunca foi identificado, após uma década de investigação policial. Câmera registrou Gaia caminhando pela Vila de Jericoacoara dois dias antes de ser morta
A morte da turista italiana Gaia Bárbara Molinari, de 29 anos, que teve o corpo encontrado na região de Serrote, em Jijoca de Jericoacoara, um dos principais destinos turísticos do Ceará, completa 10 anos em 24 de dezembro. Durante essa década, o caso ainda segue em mistério, sem a prisão do assassino.
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Uma câmera de segurança chegou a registrar Gaia caminhando pela Vila de Jericoacoara no fim da tarde de 23 de dezembro de 2014, dois dias antes dela ser encontrada sem vida. (Assista ao vídeo acima)
A italiana Gaia Bárbara Molinari, de 29 anos, foi encontrada sem vida no dia 25 de dezembro de 2014, em Jericoacoara, um dos principais destinos turísticos do Ceará.
Facebook/ Reprodução
O laudo da Perícia Forense do Ceará, divulgado à época, relatou que Gaia foi espancada, teve o rosto e pulsos cortados e morreu por estrangulamento. Exames periciais não identificaram sêmen no corpo da vítima, o que sugere que ela não sofreu violência sexual.
A investigação, reaberta em 2018, já passou por nove delegados e conta com um inquérito de mais de 30 mil páginas. Nesse período, 26 pessoas foram ouvidas e duas foram presas temporariamente: a farmacêutica carioca Mirian França de Mello e o cearense Douglas Sousa.
Posteriormente, a Polícia Civil comprovou que nenhum do dois teve envolvimento com o crime. Enquanto isso, até hoje o caso segue sem ser elucidado.
Da viagem à Jeri a localização do corpo
Gaia Molinari foi assassinada na Praia de Jericoacoara, no Ceará
Divulgação/Arquivo Pessoal
Gaia Molinari é natural da cidade de Piacenza, no norte da Itália. Ela já havia morado na França e no Brasil passou por Foz do Iguaçu, São Paulo e Rio de Janeiro.
A italiana chegou ao Ceará em 16 de dezembro de 2014 e se hospedou em um hostel no Centro de Fortaleza. O estabelecimento costumava receber estrangeiros e outros viajantes que trocavam trabalho por hospedagem, como foi no caso de Gaia.
No local, ela conheceu a farmacêutica Miriam França de Mello, natural do Rio de Janeiro, a época com 30 anos, que chegou no hostel um dia depois. As duas fizeram amizade e Gaia acabou indo para Jericoacoara com a carioca, que já tinha hospedagem reservada na região.
Câmera de segurança registrou Gaia Molinari caminhado na Vila de Jericoacoara dois dias antes dela ser encontrada morta.
Reprodução
Elas chegaram a Jeri em 21 de dezembro de 2014, se hospedaram em uma pousada na Vila de Jericoacoara. A passagem de Gaia pela Vila foi registrada por uma câmera de segurança, que gravou o momento que a italiana caminhou pela região em 23 de dezembro daquele ano.
Na tarde de 25 de dezembro de 2014, dois dias depois da gravação, um casal de turistas de São Paulo estava caminhando na região de Serrote, retornando da Pedra Furada, um dos símbolos de Jeri, quando viu uma mulher caída ao solo sem vida, próximo a uns arbustos: era Gaia Molinari.
Segundo os depoimentos de testemunhas à polícia, Gaia foi vista pela última vez às 18h30 do dia 24 de dezembro, véspera de Natal.
As investigações da Polícia Civil mostraram que Gaia tentou voltar para Fortaleza um dia antes de morrer, por não estar se sentindo bem de saúde. A antecipação da viagem não foi possível por problemas com a empresa que realiza o transporte de passageiros da capital para Jericoacoara. Com isso, a italiana manteve a passagem para o dia 24 de dezembro, mas não apareceu no local do embarque.
Prisão da colega de viagem
Farmacêutica Miriam França, que acompanhava Gaia Molinari durante viagem a Jericoacora, chegou a ficar presa por 15 dias, mas teve a inocência provada após atuação da Defensoria Pública do Ceará
Gioras Xerez/G1 Ceará
Com o início das investigações, a Polícia saiu em busca da companheira de viagem da italiana, a farmacêutica Miriam França, localizada no dia 26 de dezembro, na Praia de Canoa Quebrada, no litoral leste do Ceará.
Após prestar depoimento, Miriam teve a prisão temporária decretada em 29 de dezembro de 2014 e ficou detida na Delegacia de Capturas (Decap), no Centro de Fortaleza. Na ocasião, a polícia alegou que ela apresentou contradições durante o depoimento.
A prisão da carioca levantou uma campanha de movimentos sociais, que consideraram que a jovem, que era doutoranda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi presa por preconceito racial, por ser negra.
Foi nesse contexto que a Defensora Gina Moura, da Defensoria Público do Ceará, que atuava no Núcleo de Atendimento aos Presos Provisórios e Vítimas de Violência, entrou no caso para fazer a defesa de Miriam.
“A gente [Defensoria] chegou a ser procurado por pessoas da comunidade acadêmica, da qual Miriam fazia parte, também pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Conversei com Miriam enquanto ela estava na Decap”, relembrou Gina Moura.
Na época, houve uma crise entre a Polícia Civil e a Defensoria. Com isso, a Defensoria ingressou com um mandado de segurança para ter acesso à investigação, o que só ocorreu 11 dias depois da prisão da carioca.
“Após ter acesso a investigação, fizemos o pedido de revogação da prisão temporária, sob a condição dela permanecer aqui no Estado por mais 30 dias à disposição da investigação. Porque um dos argumentos que eram utilizados pra justificar a prisão dela era o fato dela ser de outro estado, o que a gente acredita que não é suficiente pra justificar a prisão de uma pessoa”, falou a Defensora.
Após solicitação da Defensoria Pública, Miriam teve a prisão temporária revogada e foi solta no dia 13 de janeiro de 2015.
“Conseguimos restabelecer a liberdade da Miriam e acompanhamos a investigação. Ela chegou a ser ouvida novamente, nós acompanhamos esse interrogatório que durou 18 horas e, ao final, ela não chegou sequer a ser indiciada por esse fato. Depois ela retornou ao Rio de Janeiro, onde tocou sua vida. Desde então, não houve qualquer fato novo que, por alguma razão, justificasse a concorrência dela pra esse fato”, falou Gina Moura.
Jovem preso por conta de vídeo
Prisão de Douglas foi motivada por vídeo dele caminhando com mulher parecida com Gaia
Descartado o envolvimento de Miriam, a polícia seguiu com as investigações e em março de 2016, mais de um ano após o crime, prendeu Francisco Douglas Sousa, à época com 23 anos de idade, que trabalhava como recepcionista em um hotel em Jericoacoara.
Conforme a advogada Adriana do Vale, responsável pela defesa de Douglas, a prisão do jovem foi motivada por um vídeo de uma câmera de segurança registrado na Vila de Jericoacoara, em 24 de dezembro de 2014. Nas imagens o rapaz aparece ao lado de uma mulher, semelhante à Gaia.
Douglas foi preso por vídeo em que aparece caminhando ao lado de mulher parecida com Gaia, na Vila de Jericoacoara.
Reprodução
“No caso do Douglas, a polícia tinha imagens da Gaia andando pelas ruas de Jeri usando uma camisa azul piscina e outra imagem captada pelas câmeras de segurança a qual Douglas andava ao lado de uma mulher que usava uma blusa de mesma cor. Para a polícia, essa imagem foi crucial para determinar que aquela mulher era Gaia Molinari”, falou Adriana do Vale.
Para provar a inocência de Douglas, Adriana contratou o perito forense Fernando Vasconcellos, de São Paulo, que através da análise das imagens conseguiu provar que a mulher que aparecia no vídeo com Douglas não era Gaia, mas sim uma sueca, amiga do rapaz.
“A defesa técnica se utilizou do Instituto da Investigação Defensiva, o que foi essencial para garantir o princípio da ampla defesa, assegurando que o Douglas tivesse a oportunidade de contestar as acusações contra ele. De imediato acionamos Dr. Fernando de Vasconcelos para analisar as imagens de segurança, o que foi fundamental para descartar Douglas definitivamente como suspeito”, disse a advogada.
Assim, Adriana do Vale entrou com um pedido de revogação da prisão temporária de Douglas com base na perícia realizada e o jovem foi solto depois de passar 44 dias detido.
Douglas, que sempre afirmou que era inocente, disse em uma entrevista à TV Verdes Mares, afiliada da TV Globo, após ser solto, que se sentiu humilhado. Depois do episódio, ele deixou o Ceará e foi morar na Alemanha, retornando ao Estado apenas em algumas épocas do ano, para visitar a família em Sobral.
Investigação
A Polícia Civil do Ceará informou, em nota, que a morte da turista italiana continua sendo investigada e atualmente o caso está a cargo da 10ª Delegacia do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa.
“Logo após o crime, a Polícia Civil empregou uma grande força-tarefa que contou com apoio de delegacias da região, do DHPP, da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur) e da Polícia Militar do Ceará (PMCE). Foram realizadas diligências ininterruptas por vários dias na região. Durante os trabalhos policiais, 26 pessoas foram ouvidas pela PCCE. À época, uma mulher e um homem foram presos temporariamente durante o período das diligências, e posteriormente, foram soltos pelo Poder Judiciário. A PCCE concluiu que ambos não estavam na companhia da vítima”, disse a polícia.
Ainda conforme a corporação, uma falha em um circuito de câmeras de segurança instaladas no caminho que leva ao Serrote, local onde a vítima foi encontrada, comprometeu os trabalhos policiais.
“Um pico de energia na área comprometeu as câmeras, que ficaram sem funcionamento no percurso por onde a vítima passou”, informou.
Nesse período, dezenas de laudos técnicos foram solicitados pela polícia para chegar à autoria do crime.
A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), por meio da Coordenadoria de Perícia Criminal (Copec), produziu e entregou cinco laudos, sendo três de informática, um de local de crime e um de documentoscopia;
A Coordenadoria de Análises Laboratoriais Forenses (Calf) produziu 39 laudos no total, sendo 35 do Núcleo de DNA Forense (dez laudos com vestígios coletados de local de crime e 25 laudos de investigação de crime sexual) e dois laudos do Núcleo de Bioquímica e Biologia Forense (pesquisa de sêmen), que concluíram que não houve estupro;
Dois laudos foram produzidos pelo Núcleo de Toxicologia Forense (pesquisa de álcool e drogas em sangue).
Além disso, a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Pefoce produziu o laudo cadavérico da vítima.
“Por fim, a Polícia Civil informa que mesmo com todos os esforços empregados para elucidação do caso, as diligências e perícias realizadas até o momento, ainda não foi possível identificar o autor do crime. Os trabalhos policiais seguem em andamento pela 10ª Delegacia do DHPP, com o intuito de descobrir novos fatos que possam contribuir para a elucidação e motivação do crime”.
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