Apesar da tensão na Síria, imigrantes que vivem em São José do Rio Preto (SP) têm esperança de novos tempos para o país, com a queda da ditatura de Al-Assad. Donna Aboud antes de sair da Síria para viver em São José do Rio Preto (SP), fugindo da guerra civil
Arquivo pessoal
Imigrantes sírios que vivem em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, buscam informações de parentes, temem por novos conflitos e revelam um misto de otimismo e apreensão devido à mudança de governo na Síria, após a queda do presidente Bashar Al-Assad. Alguns sonham em voltar ao país natal para rever amigos e familiares.
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É o caso da professora Donna Aboud, de 32 anos, que trocou a Síria pelo Brasil em 2014 para fugir da guerra civil. Desde então, ela mora com a mãe e os irmãos em Rio Preto, cidade com forte presença sírio-libanesa. Mas o pai e os tios permaneceram em Damasco, capital síria.
“Rever meus familiares é um sonho que acredito que vou poder realizar agora”, declara a professora.
Diariamente, Donna conversa com o pai sobre os rumos do país com a mudança de governo após rebeldes tomarem Damasco e expulsarem o ditador.
“Meu pai e os irmãos dele estão com medo das pessoas que querem aproveitar a situação para invadir as casas. O povo tem medo, mas também tem esperança de novos tempos”, conta Donna.
Quase 14 anos de guerra civil provocaram as mortes de meio milhão de pessoas no país e obrigaram metade da população a deixar suas casas. Milhares de sírios encontraram refúgio no exterior.
Agora, com Bashar Al-Assad fora do poder após opositores liderados pelo grupo islamista Hayah Tahrir al Sham (HTS) tomarem a capital síria, o país vive um momento de incertezas e receios de violência sectária, embora o HTS tenha prometido que todas as minorias religiosas estarão seguras. O novo primeiro-ministro sírio pede que os exilados voltem à Síria.
“A saída do ditador representa uma vitória para as pessoas. Esperamos muito tempo por isso. É muito sofrimento”, explica Donna.
Ela diz, ainda, que não pensa em deixar de morar em Rio Preto, onde ministra aulas de língua inglesa e trabalha para uma Organização Não-Governamental (ONG) norte-americana voltada à assistência comunitária.
Donna Aboud, que vive há dez anos em Rio Preto (SP), conta que a queda da ditadura é uma vitória dos sírios, mas que o pai e os tios que moram lá temem que aproveitadores queiram invadir suas casas
Arquivo pessoal
Momento de apreensão
O comerciante George Milan Suleiman, que atua na área gastronômica em São José do Rio Preto e tem um restaurante de comida síria aberto desde 2000, demonstra apreensão com o momento pelo qual passa a Síria, onde ainda vivem os irmãos e sobrinhos dele.
Georgiane Suleiman, uma das filhas de George, que trabalha com a família no restaurante, contou ao g1 que o pai ficou abalado com a situação e que teme pelo surgimento de novos confrontos.
“Ele ficou muito abalado, pois todos os irmãos estão na Síria. Ele está bem sensibilizado com o momento”, relatou Georgiane.
‘O povo só quer liberdade’
Para o comerciante Hayssam Mohamad Akad, de 81 anos, o momento é de expectativa pelo futuro da Síria e de seus parentes que vivem lá.
Conhecido como Salim, o proprietário de um dos mais tradicionais restaurantes de comida árabe do Centro de Rio Preto conta que restaram na terra natal apenas uma irmã e um irmão, com os quais mantém contato.
Hayssam Akad, conhecido como Salim em Rio Preto, demonstra preocupação com os irmãos que ainda vivem na Síria
g1/Arquivo
“Éramos em nove. A guerra foi levando vários embora”, lamenta Akad, que veio ao Brasil em 1961, primeiro para São Paulo e, depois, estabelecendo-se em Rio Preto.
O comerciante acompanha as notícias sobre a queda de Assad e os rumos da Síria, mas afirma que procura não pensar muito sobre isso para “não passar nervoso”.
“A gente fica alegre pela expectativa de mudanças, mas triste porque a guerra parece não ter fim. Agora é Israel que está bombardeando a Síria. O povo, coitado, não tem armas. Só quer liberdade, a palavra mais bonita que existe”, afirma.
Nos últimos dias, Israel bombardeou instalações militares na Síria, alegando temor de que armas químicas e mísseis possam “cair nas mãos de grupos extremistas” e deu ordens para que seus soldados avançassem na incursão por terra.
Diante dessa situação, Akad diz que se preocupa com os irmãos sírios, além de temer por novas mortes no país.
“É minha família. Na vida, só importam três coisas: Deus, a saúde e a família”, declara o comerciante.
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