Pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) desenvolveram um método mais simples, rápido e econômico para monitorar e detectar a presença de febra amarela em animais silvestres. Segundo os autores do projeto, o novo método possibilita aprimorar a vigilância da doença no Brasil e tem 100% de eficácia.
O projeto foi desenvolvido pelo Laboratório Rona-Pitaluga, do Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A pesquisa é nomeada “Desenvolvimento e validação de RT-LAMP para detectar o vírus da febre amarela em amostras de primatas não humanos do Brasil” e teve seus resultados publicados na Scientific Reports, da Nature.
Análise dos casos em primatas impacta saúde pública
Segundo informações divulgadas pela UFSC, a análise de eventos que envolvam a incidência da doença em primatas visa reduzir a morbidade e mortalidade associadas à febre amarela, tendo um papel crucial na identificação da circulação do vírus e na prevenção de sua transmissão para humanos.
“Os primatas são animais sentinelas, porque sempre que há a reemergência do vírus da febre amarela silvestre, ela vai acometer primeiramente esses animais”, explicou Sabrina Cardoso, bióloga e que possui tese de doutorado integrada ao projeto.
Porém, a detecção da doença nos primatas é dificultada pela técnica de diagnóstico atual, realizada restritamente em laboratórios de referência nacional, limita em muitos casos o rastreamento dos focos da doença, por conta da distância entre os locais de análise e as regiões de incidência do vírus. Em Santa Catarina, local de aplicação do estudo, o laboratório de referência mais próximo é a Fiocruz Paraná, em Curitiba.
O método da UFSC
O método se baseia na técnica de amplificação isotérmica mediada por loop (RT-LAMP), e já havia sido aplicado em outras pesquisas do Laboratório Rona-Pitaluga, como no kit de detecção molecular rápido do vírus da covid-19 durante a pandemia.
A técnica utilizada atualmente nos laboratórios de referência é a RT-qPCR (PCR de transcrição reversa quantitativa), que utiliza termocicladores, equipamentos que realizam diversas variações de temperatura durante o processo de triagem e, que para testagem em larga escala das amostras, podem chegar a R$ 100 mil.
Os equipamentos laboratoriais específicos utilizados na nova metodologia custam em torno de R$ 2 mil, valor consideravelmente inferior em relação aos termocicladores.
Segundo Luísa Rona, coordenadora do laboratório que desenvolveu o estudo, a enzima utilizada no processo permite uma grande diferença no tempo para obtenção dos resultados. O método da UFSC faz o teste, que tradicionalmente dura por volta de 2h, durar cerca de 40 minutos.
“A nova enzima que utilizamos permite que o teste seja feito com maior agilidade. Há uma diferença no custo do equipamento também”, afirmou a coordenadora para o SC no AR, da NDTV.
Método obteve 100% de eficácia
Com a validação de resultados de amostras coletadas de primatas do Sul de Santa Catarina na Fiocruz Paraná, os cientistas demonstraram que a nova metodologia obteve 100% de eficácia e sensibilidade em comparação com o método utilizado atualmente nos laboratórios.
“Este diagnóstico específico auxilia na detecção precoce do vírus da febre amarela, especialmente em áreas que estão enfrentando surtos. Ele permite testes eficientes e descentralizados, possibilitando a realização dentro do estado de Santa Catarina e a implementação rápida de medidas preventivas”, resumiu a professora Luísa Rona à Agecom.
Estudo aponta reemergência da febre amarela no Brasil
Segundo o estudo da UFSC, a reemergência da febre amarela impactou significativamente a saúde pública brasileira nos últimos anos. Desde 2002, o vírus expandiu sua circulação, espalhando-se do Leste para o Sul do país.
Durante a expansão, foram registrados diversos surtos e milhares de mortes de primatas foram documentadas. Desde então, mais de 2.100 casos humanos foram relatados, com uma taxa de letalidade de aproximadamente 30% entre as pessoas que desenvolveram a doença em forma grave.
Para prevenir a disseminação do vírus, o foco da vigilância brasileira está centrado em três áreas-chave: o monitoramento de casos humanos, a análise de insetos transmissores e a incidência em primatas não humanos (casos de morte ou adoecimento).
O que é a febre amarela?
A febre amarela é uma doença viral aguda causada por um vírus do gênero Flavivirus, que é transmitido principalmente pela picada de mosquitos infectados, especialmente o Aedes aegypti nas áreas urbanas e o Haemagogus e Sabethes em áreas silvestres. A doença recebe esse nome devido à coloração amarelada da pele que pode ocorrer em casos mais graves.
A doença pode apresentar uma ampla gama de sintomas, desde formas leves até formas graves da doença. Os sintomas iniciais incluem febre, dores de cabeça, dores musculares, náuseas e vômitos.
Em casos mais graves, a febre amarela pode progredir para uma fase tóxica, com sintomas mais graves, como insuficiência hepática e renal, icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos), hemorragias e até mesmo a morte.
A prevenção da doença é feita através da vacinação, conforme o Ministério da Saúde. A vacina é altamente eficaz e proporciona imunidade a longo prazo contra a doença. Além disso, é importante controlar a população de mosquitos transmissores em áreas endêmicas.
A doença pode ser grave e potencialmente fatal, sendo que a vacinação é a melhor forma de prevenção, especialmente para pessoas que vivem ou viajam para áreas onde a doença é endêmica.