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Tarefa escolar em Pomerode pede que crianças usem feijão para representar cabelo crespo em desenho; aluno colocou bombril


Atividades, feitas em alusão ao Dia da Consciência Negra, estavam expostas em mural da escola, mas foram retiradas após repercussão nas redes sociais. Secretaria de Educação municipal diz que apura o caso. Denúncia de racismo: Atividade para Dia da Consciência Negra em escola de SC é questionada
Uma atividade escolar em Pomerode, Santa Catarina, pediu a alunos do 2º ano do ensino fundamental que preenchessem o cabelo de uma mulher negra com grãos de feijões. Um deles foi feito com palha de aço (conhecido popularmente como bombril).
A tarefa, apresentada em um mural sobre o Dia da Consciência Negra na Escola de Educação Básica Municipal Duque de Caxias, repercutiu nas redes sociais. Os trabalhos foram retirados da exposição e o caso é apurado, informou a Secretaria de Educação municipal.
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A atividade consistia em uma folha de papel com o desenho de uma mulher negra. O enunciado dizia “Pinte a imagem e recrie o cabelo afro de uma mulher, em alusão do dia da consciência negra, usando grãos de feijão. Use sua criatividade e capriche”.
Entregues em 8 de novembro, os trabalhos dos alunos foram expostos na escola até segunda-feira (25). No sábado (23), as imagens repercutiram nas redes sociais após a publicação da familiar de um estudante. A Associação de Educadores Negros de Santa Catarina também se manifestou sobre o caso (veja nota na íntegra mais abaixo).
“Qual a relação do cabelo com a aula que a professora ministra?”, disse a presidente da Associação de Educadores Negros de Santa Catarina, Maria Aparecida Rita Moreira.
A Secretaria de Educação de Pomerode, em conjunto com a direção da escola, disse em nota que “iniciou imediatamente uma apuração rigorosa dos fatos” (leia íntegra abaixo).
Repercussão
Nas redes sociais, a familiar de um aluno publicou fotos da atividade e prints de uma conversa que teve com a instituição, onde questionava a intenção da atividade. “Nem feijão, nem palha de aço nem nada, cabelo é cabelo ué. Atividade tosca, Meu Deus”, publicou. O g1 optou por não publicar o nome da familiar para não identificar a criança.
“Vai ver o bombril, vai ver o feijão, e a primeira criança com cabelo black que ela vir, ela vai falar sobre isso, vai perguntar se tem feijão no cabelo da criança. Ou pior, falar que é bombril!”, declarou a familiar.
Professora aposentada da Rede Estadual de Santa Catarina, a doutora em educação Maria Aparecida Rita Moreira questionou também se a atividade busca desconstruir estereótipos ou reforçá-los.
“Qual a relação do cabelo com a disciplina que a professora ministra? Muitas pessoas negras carregam marcas negativas de sua trajetória escolar, espaço que deveria ser de empoderamento, de positividade e de esperançar. A educação precisa ser lugar de emancipação”.
“Nosso cabelo não é de Bombril. Nosso cabelo é lindo e está ligado à nossa identidade e a nossa ancestralidade. Respeitem!”, finalizou a presidente.
Aluno cola bombril para representar cabelo de mulher em atividade escolar para Dia da Consciência Negra em SC
Reprodução
O que diz a Associação de Educadores Negros de Santa Catarina
Confira abaixo a nota completa da presidente da associação.
Há 21 anos temos uma lei que obriga professoras/es da Educação Básica a pautarem as temáticas africanas e afro-brasileira em seus currículos: a Lei nº10.639. Esta Lei possui dois artigos: o 26-A e o 79-B, porém muitas escolas se atém apenas ao Art. 79-B e realizam projetos pontuais, para as comemorações do dia da Consciência Negra e, como resultado, professoras/es fazem exposições tais como as das imagens que recebi. Observando as imagens, vários pontos podem ser levantados: a falta de formação inicial das/os profissionais de educação, importante lembrar que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana de 2004 prevê para o ensino superior a inclusão “nos conteúdos de disciplinas e em atividades curriculares dos cursos que ministra, de Educação das Relações Étnico-Raciais, de conhecimentos de matriz africana e/ou que dizem respeito à população negra” (p.24); a necessidade de formação continuada por parte das secretarias de educação, garantindo diálogo constante sobre de que forma o racismo afeta as relações étnico-racias e a importância da inserção dos conteúdos previstos no art. 26-A da LDB e suas Diretrizes no planejamento das/os profissionais de educação; o acompanhamento e diálogo da gestão e equipes pedagógicas das escolas no desenvolvimento das práticas educativas e na organização de mostras no espaço escolar; o comprometimento da/o profissional da educação ao desenvolver uma atividade com suas/seus estudantes, questionando – qual o objetivo da atividade? A atividade desconstrói ou mantém estereótipos?, para essa atividade específica, ainda é possível indagar – Qual a relação do cabelo com a disciplina que a professora ministra?
Muitas pessoas negras carregam marcas negativas de sua trajetória escolar, espaço que deveria ser de empoderamento, de positividade e de esperançar. A educação precisa ser lugar de emancipação e, como lembra Nilma Lino Gomes, a ação do racismo sobre os negros, “[…], o cabelo e a cor da pele podem sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra, assumindo uma significação política.” e nesse sentido, todos os envolvidos no processo educacional formal têm responsabilidades e precisam urgentemente assumi-las. Nosso cabelo não é de Bombril. Nosso cabelo é lindo e está ligado à nossa identidade e a nossa ancestralidade. Respeitem!
Dra. Maria Aparecida Rita Moreira
Professora aposentada da Rede Estadual de Santa Catarina
O que diz a Secretaria de Educação de Pomerode
Veja na íntegra a nota da Secretaria de Educação de Pomerode.
A Secretaria Municipal de Educação e Formação Empreendedora assim que tomou conhecimento do ocorrido, iniciou imediatamente uma apuração rigorosa dos fatos, seguindo os protocolos necessários para responsabilizar os envolvidos e garantir que medidas sejam adotadas para prevenir situações semelhantes. O ocorrido, trata-se de um fato isolado, em uma escola, em uma turma específica e de apenas um aluno, considerando que os demais alunos usaram outros materiais para fazer a atividade. Além disso, ações educativas e formativas continuarão a ser intensificadas no sentido de reforçar os princípios de igualdade e respeito no ambiente escolar. A Secretaria entende que o papel da escola é fundamental na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Prova disso foi que no último dia 21 de novembro, a Secretaria Municipal de Educação e Formação Empreendedor promoveu o segundo Sarau Literário da Consciência Negra, momento de reflexão e discussão do tema envolvendo todas as unidades de ensino da Rede Municipal de Ensino. O Sarau foi a exposição publica do trabalho que cotidianamente vem sendo realizado nas unidades escolares da Rede Municipal de Educação em cumprimento da Lei nº 10.639/2003, que inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
Além disso, foi proporcionado formação continuada aos professores, bem como aquisição de material de autoria de um especialista em Cultura Africana e afro-brasileira para educação das relações étnico-raciais que foi trabalhado com os alunos da rede municipal de educação.
Reafirmamos nosso compromisso com a promoção de uma educação que valorize a diversidade, respeite os direitos humanos e combata todas as formas de preconceito e discriminação.
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