Uma pesquisa da FURB (Universidade Regional de Blumenau) revelou quais aspectos são determinantes para a qualidade de vida de pacientes com câncer em estágio avançado. O estudo faz parte do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da instituição e ajuda a compreender melhor a importância do tema.
O estudo foi desenvolvido pelo pesquisador Cristiano Hansen, médico oncologista, mestre em Saúde Coletiva e professor do curso de medicina da FURB, sob orientação do professor Carlos Roberto de Oliveira Nunes, doutor em psicologia e professor do mestrado em Saúde Coletiva.
Por meio do estudo, foi identificado que a condição de saúde, o suporte social e o peso da fé são aspectos determinantes para a qualidade de vida de pacientes com câncer avançado em tratamento com quimioterapia.
De acordo com os pesquisadores, o objetivo foi encontrar e fornecer elementos que ajudem na compreensão sobre a qualidade de vida dos pacientes oncológicos, algo que ainda é pouco abordado na literatura especializada.
O Instituto Nacional do Câncer estima cerca de 700 mil novos casos de câncer por ano no Brasil até 2025.
Nesta quinta-feira (27), é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Câncer, instituído em 1988 pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de fomentar a consciência da população em relação ao diagnóstico precoce e medidas de prevenção.
Pesquisa identificou aspectos determinantes para qualidade de vida dos pacientes
Conforme Hansen, ao comparar com outros dados da literatura, eles perceberam que os pacientes estudados apresentaram uma qualidade de vida razoavelmente preservada durante o tratamento do câncer.
“Dois terços dos pacientes afirmaram que a qualidade de vida estava boa durante o tratamento”, concluiu.
O pesquisador explicou que alguns estudos apontam que a qualidade de vida dos pacientes é fator preditor de tempo de vida e perspectiva de cura, o que corrobora a importância do estudo realizado na instituição.
Como pesquisa foi realizada
O estudo reuniu pacientes oncológicos atendidos pelo pesquisador entre junho de 2023 e abril de 2024, no ambulatório de oncologia do Hospital Santa Isabel, em Blumenau.
Ao todo, foram atendidos 169 pacientes neste período, sendo 21 deles em estágio avançado, o que corresponde a 12% do total. Segundo a universidade, essa proporção é semelhante ao reportado por outros serviços de oncologia do Brasil. No entanto, de acordo com o pesquisador, pode apresentar variações regionais.
Do total atendido, 11 estavam em tratamento quimioterápico e nove aceitaram participar da pesquisa.
Entre os 169 pacientes atendidos durante o período, os tumores de mama (29,7%) e colorretal (16,9%) foram os de maior prevalência, seguidos pelos tumores de cabeça e pescoço (10,8%), colo uterino (8,1%), encéfalo (6,1%), pulmão (5,4%), estômago (4,1%), ovário (3,4%), próstata (2,7%), endométrio (2,7%) e hepatocarcinoma (2,7%).
Foram combinados métodos quantitativos (questionários e escalas) e qualitativos (entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo) para chegar ao resultado da pesquisa.
Os pesquisadores identificaram que a condição de saúde, o suporte social e o peso da fé ou esperança são determinantes de qualidade de vida para os pacientes com câncer avançado sob tratamento.
“O primeiro determinante é a própria condição de saúde das pessoas. Isso remete também ao estilo de vida dessa pessoa ao longo da sua história de vida. Independentemente de ter uma doença, a pessoa pode ter uma boa condição de saúde”, detalhou Hansen.
Outro aspecto determinante identificado na pesquisa foi o suporte social, a rede de apoio que os pacientes possuem. Dois terços dos entrevistados eram casados ou tinham uma união estável, o que, na percepção dos pesquisadores, pode ter contribuído para a percepção positiva em relação à qualidade de vida.
“Se a condição de saúde vacilava, contar com a ajuda de um irmão ou outro parente é importante. Se a condição de saúde vacilava tanto a ponto de a pessoa não conseguir manter a própria funcionalidade para tomar banho, vestir-se ou trabalhar, a rede de suporte dos amigos, dos familiares, era importante. Não apenas o apoio afetivo, mas também financeiro”, destacou.
Por fim, o peso da fé ou esperança se mostrou altamente relevante para sustentar a qualidade de vida dos pacientes com câncer avançado. De acordo com Hansen, os fatores identificados podem condicionar a qualidade de vida dos pacientes tanto para o bem, quanto para o mal.
As expectativas excessivas em relação a uma possível cura, por exemplo, podem ser prejudiciais à condição psicológica do paciente, conforme os pesquisadores.
Estigma em volta do câncer prejudica qualidade de vida dos pacientes
O estudo aponta um fator que é prejudicial à qualidade de vida dos pacientes oncológicos: o estigma relacionado à doença.
Segundo o pesquisador Hansen, o estigma trabalha de forma com que rouba a identidade das pessoas diagnosticas e, em alguns casos, a ideia de ter câncer ou de ser tratado de forma diferenciada por conta dele é mais prejudicial ao paciente do que as próprias consequências físicas da doença.
“A melhor forma de lidar com o câncer é levar com naturalidade. Cabe ao profissional ser muito franco nas discussões e não perder a expectativa de melhorar a qualidade de vida e, se possível, curar esses pacientes, não retirar de forma sumária essa perspectiva otimista de boa parte dos pacientes, porque isso pode comprometer não só a qualidade de vida, mas os resultados do tratamento”, afirmou.
Uma parte dos resultados da pesquisa de Hansen e Nunes foi aceito para publicação na Revista Brasileira de Cancerologia. A dupla pretende ainda propor a replicação do estudo em outros centros de oncologia.