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Com oficinas e workshops gratuitos, II Encontro de Abridores de Letras reúne artistas da Amazônia em Belém


O evento será de 26 a 29 de novembro, no Palacete Pinho e na Bienal das Amazônias, e inicia a programação que celebra 100 anos do ofício dos abridores de letras. Abridores de letras: artistas da cultura popular criam caligrafia colorida própria da estética ribeirinha
Divulgação
De 26 a 29 de novembro, o Instituto Letras Que Flutuam promove o II Encontro de Abridores de Letras, em Belém. A programação aborda questões estruturais para o fortalecimento do dos artistas populares da Amazônia. Além de debates acerca de direitos autorais; oficinas para inclusão no mercado e uso de redes sociais para venda; o encontro também promove intercâmbio de saberes entre os abridores e os artesãos de brinquedos de miriti, criando pontes entre os mestres. O evento marca o início da celebração de 100 anos do ofício dos abridores de letras no Pará.
A programação de abertura do evento ocorre no Palacete Pinho. O bate-papo “Por onde estas Letras navegam? – Horizontes possíveis” traz tópicos que versam sobre como a relação com a Amazônia é determinante para a autenticidade e potência das manifestações culturais populares da região; estratégias de valorização do ofício dos artistas ribeirinhos; e oportunidades de geração de renda a partir da economia criativa nas comunidades amazônicas – editais e ações de fomento.
Aberto ao público, o encontro será às 16h, com entrada franca. Participam da mesa Elis Miranda, geógrafa e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF); Laura Rocha Santos, doutoranda em Desenvolvimento, Sociedades e Territórios, em Portugal; e Fernanda Martins, diretora do ILQF.
“A gente precisa defender que a cultura ribeirinha não é domínio público. A cultura popular tem autoria, mas ela é invisibilizada. E nossos esforços são para garantir a defesa desse fazer cultural, a valorização dos artistas ribeirinhos e sua justa remuneração, para que essa cultura seja fortalecida e permaneça viva. Esses debates são especialmente relevantes neste contexto de COP 30, quando se fala em economia sustentável, economia criativa, e da importância dos povos da floresta para a preservação da Amazônia”, destaca Fernanda Martins.
O evento é uma realização do Mapinguari Design e Instituto Letras Que Flutuam, em parceria com o Centro Cultural Bienal das Amazônias, Instituto Peabiru e Fundação Escola Bosque (Funbosque). O II Encontro de Abridores de Letras tem patrocínio da Equatorial Pará, por meio da Lei Semear.
Centenário
Região das águas, a Amazônia tem forte tradição fluvial. Milhares de embarcações cortam rios, igarapés e furos floresta adentro. Cada uma delas é marcada por belas e singulares caligrafias coloridas, criadas pelos abridores de letras. Prestes a completar cem anos, a tradição surge na região em 1925, com a obrigatoriedade, por ordem da Capitania dos Portos, de identificação dos barcos.
“A prática começa muito diferente do que é hoje. As letras eram em preto e branco. A dinâmica de ida e vinda das embarcações das mais diversas regiões foi influenciando os pintores, que passaram a desenvolver estéticas próprias. Então não há outra letra de barco como as feitas na Amazônia, embora muitas culturas pelo mundo também tenham seus abridores de letras. Mas aqui na região, há particularidades que são uma assinatura. E cada abridor tem um ‘sotaque’, um modo de pintar”, diz Fernanda Martins, idealizadora e diretora do Instituto Letras que Flutuam.
Criado em agosto de 2024, o ILQF é resultado de 15 anos de pesquisa, documentação, divulgação e geração de renda, junto aos abridores de letras no Pará. O instituto surge imbuído do propósito de fortalecer os saberes desses artistas populares – um marco histórico por ser o primeiro instituto voltado à cultura ribeirinha no Brasil.
Segundo o pesquisador e ativista socioambiental João Meirelles Filho, autor do Livro de Ouro da Amazônia, navegam na Amazônia cerca de cem mil barcos, em sua maioria embarcações acanhadas, de pequeno porte, construídas artesanalmente para o uso familiar. São estes os que mais se utilizam desta tradição de pintura popular.
Fernanda Martins destaca que a cultura visual, e dentro dela a representação gráfica, tem tanta importância para a Amazônia quanto a música, a dança, a comida, pois reflete saberes que são exclusivamente locais. “É a linguagem comum aos ribeirinhos que traduzem, nos seus modos de fazer, a verdade do povo amazônico”, diz.
Programação
O II Encontro reúne 27 abridores de diversas regiões ribeirinhas do Pará. Entre as atividades do evento, está a oficina de miriti ministrada por mestres artesãos. A proposta é criar um intercâmbio de saberes entre os artistas populares para que eles possam criar produtos a partir do encontro dos brinquedos de miriti e da técnica de abertura de letras.
Haverá ainda um workshop de redes sociais, com noções práticas de captação de fotos e vídeos, e introdução à edição de vídeos, para que os artistas ribeirinhos possam usar a internet como ferramenta de trabalho para expor seus produtos e comercializá-los para todo Brasil.
No debate sobre melhores práticas para defender os direitos autorais, a programação traz o bate-papo “Que Direito é esse que nós temos sobre nossas letras?”, que será conduzido por José Benatti, advogado, mestre em Direito e doutor em Ciência e Desenvolvimento Socioambiental (UFPA), professor titular da graduação e pós-graduação em Direito. O Encontro promove ainda o debate “Eu vi um barco com uma letra linda, vou fazer um mais bonito!”, uma reflexão sobre a prática do abridor no estaleiro, a cópia e apropriação.
Serviço:
II Encontro de Abridores de Letras reúne artistas da Amazônia em Belém. A programação será dia 26, no Palacete Pinho, às 16h; e dias 27, 28 e 29, na Bienal das Amazônias. Informações aqui.
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