A Polícia Federal indiciou 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro, por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O padre José Eduardo de Oliveira e Silva também está entre os acusados. Afinal, quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe?
A PF, na última quinta-feira, dia 21, divulgou detalhes de uma investigação que remonta a 2022, quando, segundo a Polícia, um grupo armou estratégias com o objetivo de dar um golpe de Estado. Uma das frentes da investigação aponta um plano para assassinar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. E quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe e a participação dele no esquema?
José Eduardo de Oliveira e Silva é suspeito de integrar o “núcleo jurídico” do grupo que buscava dar um golpe após a vitória de Lula em 2022. Saiba quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe e como ele teria participado da trama.
Quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe?
O padre José Eduardo
José Eduardo de Oliveira e Silva nasceu no dia 5 de fevereiro de 1981, em Piracicaba, em São Paulo. A ordenação presbiteral aconteceu em fevereiro de 2006, pela Diocese de Osasco. Atualmente, ele é pároco da Paróquia São Domingos, em Osasco. Segundo a paróquia, José Eduardo é doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma).
O padre indiciado pela PF no inquérito do golpe também vende cursos na Internet. Um deles é o “Batalha espiritual, aprenda a combater o mal”. Ele também oferece os seguintes conteúdos: “Seminário de Iniciação filosófico-teológica, encontre as respostas em meio ao caos”, “O código do matrimônio”, “Como ler a Bíblia”, “Teologia moral”.
José Eduardo de Oliveira e Silva possui um canal no YouTube com 137 mil inscritos. O ambiente digital compõe uma característica importante sobre quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe.
A atuação do padre nas redes sociais
Nos últimos anos, o padre indiciado pela PF abordou temas como aborto, gênero e defesa da família. Ele também apontou influência ruim de divas do pop e das músicas na vida de crianças e adolescentes.
No ano passado, em uma live, ele fez um vídeo sobre “O poder de influência das divas pop / a influência da música”. Neste vídeo, o padre indiciado pela PF aborda a “influência espiritual” ruim que a música pode exercer e depois analisa clipes e até letras de músicas.
– Não é pecado escutar uma determinada música, mas pode ser que aquela música tenha uma influência espiritual ruim sobre mim. Eu me lembro quando era criança algumas pessoas escutavam certas músicas de um sambista famoso e eu percebi que aquilo trazia uma carga espiritual – iniciou o padre. Ele também compartilhou imagens de clipes.
Um vídeo de 2021, publicado no YouTube, é intitulado de: “Uma nova DESGRAÇA está para acontecer: a nova ofensiva internacional de GÊNERO!”
– Até agora, a agenda de gênero avançou, com certos limites, mas está engasgada em alguns lugares do mundo. Eles querem começar uma avalanche para instalar completamente a anorexia de Deus e da verdade no coração de todas as pessoas. Não é um exagero. Nós temos de abrir os olhos urgentemente. A maior ameaça feita, até agora, à família, à vida, às instituições é essa – afirmou.
Em 2020, o padre fez uma live no YouTube, com o seguinte título: “Perigo de ‘abortoduto’ no Brasil”. Ele abordou um pacote de leis que estava em pauta no Congresso Nacional e que, para ele, favoreceria a ampliação do aborto no Brasil.
Quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe: a participação na trama
Segundo a investigação da Polícia Federal, o padre José Eduardo fazia parte do chamado núcleo jurídico do grupo. A PF aponta que ele teria participado de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022 no Palácio do Planalto. Ainda de acordo com o inquérito do golpe, esse encontro foi uma dos episódios em que trataram sobre a “instalação de um regime de exceção constitucional.”
De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, o núcleo jurídico tinha o objetivo de fazer um assessoramento para os membros do suposto grupo que buscava dar um golpe de Estado. Assim, esses integrantes contribuiriam na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e também doutrinária.
Ainda segundo a PF, os indiciados no inquérito do golpe participaram de núcleos especializados que desempenhavam funções distintas na execução da trama. Além do núcleo jurídico, o plano contava com áreas de desinformação e ataques ao sistema eleitoral e até mesmo ações militares e medidas coercitivas.
Alvo de busca e apreensão
O padre José Eduardo, em fevereiro deste ano, foi alvo de busca e apreensão pela PF. Recentemente, intimado no dia 6 deste mês, ele também prestou depoimento à Polícia Federal.
No dia 7, por meio do Instagram, a defesa do padre José Eduardo postou um comunicado sobre o depoimento: “Reiterou-se e ficou claro que o padre nunca participou de qualquer reunião nem colaborou na redação de qualquer documento que visasse favorecer uma ruptura institucional no País”.
Ainda na nota, a defesa apontou inconformidade com a Polícia Federal por “extrair conversas do religioso com fiéis e sacerdotes que regularmente o procuram para direção espiritual.”
O padre se manifestou após o episódio de busca e apreensão de fevereiro: “Como padre católico, atendo diversas pessoas. Sou chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas. Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno”.
“Em relação ao referido “inquérito dos atos antidemocráticos”, minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios. Abaixo de Deus, em nosso País, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentro os quais humildemente me incluo.”
Quem é o padre indiciado pela PF no inquérito do golpe: a defesa de José Eduardo
Após o indiciamento, a defesa do padre, realizada pelo advogado Miguel Vidigal, também se manifestou.
“Menos de 7 dias depois de dar depoimento à Polícia Federal o meu cliente vê seu nome estampado pela Polícia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os mesmos investigadores que não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais realizadas pelo padre, que possuem garantia de sigilo.
Quem deu autorização à Polícia Federal de romper o sigilo das investigações? Até onde eu sei o Ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto. Não há qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação.
A nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do Ministro de sigilo absoluto.”