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Após viagem de mais de 2 mil quilômetros, fragata é registrada no Pantanal


Apesar de geralmente sobrevoarem apenas áreas costeiras do Brasil, um indivíduo foi encontrado a mais de 1.250 quilômetros da costa oceânica mais próxima. Fragata é registrada no Pantanal na região de Porto Jofre
No começo do mês de novembro, o Pantanal recebeu uma visita um tanto quanto inesperada. Uma fragata (Fregata magnificens), ave marinha conhecida por sua habilidade de planar por longas distâncias sobre os oceanos, foi avistada na região de Porto Jofre, na divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, na cidade de Poconé (MT).
Os registros foram feitos pelo guia de natureza Branco Arruda durante uma expedição organizada para avistar as onças que habitam o local, juntamente com o fotógrafo Rodolfo Paz. Na cena, estavam retornando à pousada quando ouviram o rasante da ave pelos céus.
“Pensamos inicialmente que se tratava de um gavião-tesoura, mas o padrão de voo e o bico estavam estranhos. Branco desconfiou e tirou umas fotos. Nós também, mas achávamos impossível ser uma fragata tão longe do mar”, explica Rodolfo.
Fragata é registrada na região de Porto Jofre, no Pantanal
Branco Arruda
Após consultarem um biólogo parceiro, descobriram que se tratava de um registro raríssimo: o primeiro da espécie para o Pantanal e o mais distante já documentado do habitat natural da espécie.
“É uma sensação muito boa pegar um registro desse, um registro raro aqui na nossa região do Mato Grosso, acho que o primeiro registro fora da costa, é uma emoção muito grande. Me sinto privilegiado de fazer esse registro”, diz Branco.
Como ela foi parar lá?
Normalmente associada às correntes de ar das regiões costeiras do Brasil, a fragata raramente é vista longe do mar. Sua presença no Pantanal, em meio as paisagens alagadas, desafia o comportamento habitual da espécie, deixando pesquisadores intrigados com o que pode ter levado esse indivíduo a tão distante de seu habitat natural.
De acordo com o ornitólogo Vitor Piacentini, o registro revela mais um caso de ocorrência acidental de uma espécie fora de sua área de ocorrência natural (indivíduo vagante), sendo mais surpreende por envolver uma espécie marinha costeira próxima do ponto mais distante possível do mar dentro do continente.
Em linha reta, o local do registro, na divisa de MT e MS, está a aproximadamente 1250 km da costa oceânica mais perto, localizada no litoral de São Paulo, próximo a Cananeia. Na hipótese de Vitor, a rota mais provável que o bicho seguiu é subindo o rio Paraná-Paraguai, o que daria mais de 2 mil km de viagem.
“Essa distância é surpreendente se considerarmos que as fragatas são animais marinhos costeiros. Uma vez sobre áreas continentais, é comum que a espécie voe próxima de grandes corpos da água, e por isso é esperado que tenha seguido rios grandes como o Paraná e Paraguai. Outra evidência de que tenha seguido essa rota é que a espécie foi reportada em Foz do Iguaçu quatro dias antes do registro do Pantanal, embora sem documentação”, informa o ornitólogo.
Registro de fragata no coração do Pantanal é o mais distante já feito da costa brasileira
Branco Arruda
Segundo o especialista em aves, não é possível saber o que levou a fragata a adentrar o continente. Fenômenos climáticos podem estar associados, mas numa primeira busca o biólogo não encontrou nenhum indicativo de condições meteorológicas extravagantes.
“Por ser um animal jovem (a plumagem permite separar dos adultos), é possível que seja um indivíduo que estava dispersando em busca de nova área territorial e se perdeu, afastando-se da costa. As duas hipóteses (condições meteorológicas e dispersão natural) não são mutuamente exclusivas e podem ter atuado em conjunto”, revela Vitor.
Vitor revela ainda que este se trata de um caso isolado. Nesta época, outras aves aquáticas do Pantanal que poderiam ser perseguidas pela fragata, que costuma roubar comida de aves marinhas menores, já deixaram a região do registro com a subida do nível dos rios. É o caso do trinta-réis-grande (Phaetusa simplex), do trinta-réis-pequeno (Sternulla superciliaris) e talvez mesmo do talha-mar (Rynchops niger).
“Este é um caso isolado de um indivíduo que se perdeu, sendo considerado um vagante ou ‘extraviado’. Registros desta natureza ocorrem corriqueiramente em qualquer lugar, envolvendo as mais diversas espécies”, finaliza o ornitólogo.
A rota mais provável é que a ave seguiu é subindo o rio Paraná-Paraguai, o que daria mais de 2 mil km de viagem.
Branco Arruda
O Terra da Gente noticiou nesta segunda-feira (18) um outro caso de indivíduo vagante: um guácharo, espécie que, até então, só havia sido vista no norte do país, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, o que fortalece a tese do pesquisador.
Vitor está ainda realizando uma nota científica, juntamente com o guia Branco Arruda e o biólogo Fabiano Oliveira, para reportar o achado e discutir outros dados coletados sobre a espécie na região.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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