PMs negaram em primeira versão do boletim de ocorrência que utilizaram o equipamento, no entanto, nas imagens de câmeras de segurança do hotel, as câmeras aparecem com uma luz piscando durante a ação. Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa. ‘A câmera está gravando’, diz ouvidor das Polícias sobre PMs que mataram estudantes
As câmeras corporais dos policiais que participaram da abordagem policial que terminou com a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, na madrugada de quarta-feira (20), estavam ligadas. Policial que disparou foi indiciado por homicídio.
Na primeira versão do boletim de ocorrência, os policiais negaram que utilizaram os equipamentos. Imagens são semelhantes às feitas pelas câmeras do hotel (veja acima).
Claudio Silva, ouvidor das Polícias de São Paulo, também afirmou em entrevista à TV Globo, que as câmeras estavam ligadas.
“Segundo a própria regra da Polícia Militar, quando a câmera está piscando, ela está gravando em alta resolução e captando áudio. Então, ali, eles estavam fazendo uso de câmera corporal e vamos exigir essas imagens, para que elas sejam colocadas à disposição da Justiça, nos inquéritos que serão instaurados, e também vamos analisá-las”, afirmou Claudio Silva.
Marco foi morto com um tiro à queima-roupa na quarta-feira (20). Os PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado, envolvidos na ocorrência, foram afastados de suas funções até o final das investigações.
“Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados por homicídio e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações. Toda a conduta dos agentes é investigada. As imagens das câmeras corporais que registraram o fato serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)”, diz nota da Secretaria da Segurança.
Vídeo mostra luz da câmera corporal de PMs piscando.
Reprodução
No boletim de ocorrência do caso, os agentes afirmaram que não usaram as câmeras. No entanto, no vídeo que mostra a morte do jovem, os dois PMs aparecem com o equipamento, que apresenta uma luz piscando a todo momento durante a ação. (veja acima)
Abordagem
PM mata estudante de medicina com tiro à queima-roupa na Vila Mariana, Zona Sul de SP
O estudante foi assassinado às 2h49. Um dos agentes tentou puxar Marco Aurélio pelo braço, enquanto o outro o chutou. Em seguida, o estudante segurou a perna do policial, que caiu no chão. Durante a confusão, o PM Guilherme atirou na altura do peito do estudante. No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que o jovem teria tentado pegar a arma de Bruno.
O caso foi registrado no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) como morte decorrente de intervenção policial e resistência.
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Após ser baleado, Marco Aurélio foi levado ao Hospital Ipiranga. Ele teve duas paradas cardiorrespiratórias e passou por uma cirurgia. Contudo, ele não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 6h40.
Jovem estava acompanhado
Antes da morte do jovem, a polícia foi acionada pelo recepcionista do hotel. Marco Aurélio estava com uma garota de programa no local, que disse em depoimento que eles discutiram no quarto. Apesar de terem desenvolvido uma “relação de afinidade”, ele supostamente devia aproximadamente R$ 20 mil pelos serviços prestados, segundo a mulher.
Conforme o depoimento, eles começaram a discutir, e em determinado momento, o estudante de medicina teria agredido ela na cabeça. Em seguida, o recepcionista do hotel ligou para perguntar o que havia acontecido. Segundo a mulher, Marco Aurélio atendeu e disse que estava tudo bem; enquanto isso, ela respondeu: “Não, não está nada bem, eu quero sair daqui”.
O recepcionista, então, ligou para a Polícia Militar, e a jovem fugiu do quarto.
Ela se escondeu em outro cômodo do hotel e conseguiu ouvir parte da interação entre o estudante de medicina e os policiais militares — que questionaram o motivo pelo qual ele bateu na viatura. Posteriormente, ela ouviu o barulho de um tiro.
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Claudio Silva afirmou que a ação é “mais um reflexo da lógica que está instalada no estado de São Paulo, de polícia que mata. Polícia que não respeita a vida”.
Segundo ele, é possível ver, pelas imagens da câmera de segurança, que “os policiais estão numericamente superiores à pessoa abordada, e o abordado, sem camisa, então, desarmado. E os policiais não fazem o uso progressivo da força, como está determinado por normas internas da própria Polícia Militar, então o uso excessivo da força foi feito. Isso culminou com a morte daquele jovem abordado”.
Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina morto pela PM em SP
Reprodução/Instagram
Quem era o estudante?
O jovem Marco Aurélio Cardenas Acosta tinha 22 anos e estava no quinto ano do curso de medicina na Universidade Anhembi Morumbi.
Ele era o filho caçula de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para cá há mais de duas décadas. Segundo a mãe, a intensivista Silvia Mônica, o rapaz nasceu prematuramente e, da mesma forma, concluiu o ensino médio com apenas 15 anos.
A família conta que ele chegou a ser aprovado no vestibular para cursar direito, mas escolheu seguir o mesmo caminho dos pais e do irmão Frank, na medicina.
“Ele era um bom irmão, um bom filho, uma pessoa muito querida”, descreveu Frank Cardenas. Às lágrimas, a mãe usou os termos “generoso” e “amoroso” para descrever o caçula. “Era meu filho mais amado, nasceu com 1,3 kg, quando eu já estava velha”, contou.
Marco era atleta do time de futebol do curso de medicina. Nas redes sociais, a faculdade publicou mensagem de condolências.
“Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire todos nós.”
Estudante de Medicina Marco Aurélio e o pai
Reprodução/Arquivo pessoal
O que diz a SSP
“As polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte de um homem de 22 anos, ocorrida na madrugada desta quarta-feira (20), na Vila Mariana, na capital paulista. Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações.
Na ocasião, o jovem golpeou a viatura policial e tentou fugir. Ao ser abordado, ele investiu contra os policiais, sendo ferido. O rapaz foi prontamente socorrido ao hospital Ipiranga, mas não resistiu ao ferimento. A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia. As imagens registradas pelas câmeras corporais (COPs) serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).”