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Renato Teixeira e Fagner celebram parceria em 2º álbum pela Kuarup com vários convidados

Quando Destinos espontaneamente surgiu no horizonte, só trazia a intenção de continuar uma conversa musical entre dois parceiros que haviam acabado de finalizar Naturezas, álbum de 2021 lançado pela gravadora Kuarup e nem perceberam o ponto final da conclusão. Apenas continuaram a compor naturalmente sempre apoiados pelo maestro Maurício Novaes que havia embarcado na viagem dos parceiros desenhando arranjos inspiradíssimos e organizando tudo para que não se perdesse o rumo das coisas. O horizonte estava lá com sua proposta irreversível: mais um álbum com composições da dupla Renato Teixeira e Raimundo Fagner .Dessa vez resolveram dividir as interpretações com os amigos: vieram Zeca Baleiro, Roberta Campos, Chico Teixeira, Evandro Mesquita, Isabel Teixeira e Roberta Spindel.

E aos poucos com muita paciência e tempo, as coisas foram se ajeitando. Não existe na parceria nenhuma intenção além da de criar músicas que falem por si, que transmitam uma ideia lógica e perceptível, sonora, agradáveis de se ouvir, a vocação melódica de Fagner e o raciocínio poético do Teixeira, interpretados por vozes indiscutíveis e capazes de dizer as coisas com clareza e emoção. No trajeto do trabalho perdemos o Elifas Andreato, que estava sempre junto desde o começo, para compor o material visual do projeto e que havia se deixado levar por essa parceria até certo ponto improvável, mas perfeitamente compreensível por se tratar de dois amigos que vinham desde os princípios dos anos setenta se programando por uma coisa assim. O designer gráfico Elifas já havia desenhado essa relação no primeiro trabalho. Com sua partida nada mais lógico que convocássemos seu filho e parceiro, o Bento Andreato, para desenhar o novo material do álbum Destinos. Uma linda e emocionada escolha.

A mixagem e masterização mais uma vez correu por conta do Ricardo Franja Carvalheira que com o apoio do maestro Novaes, deu o formato final aos fonogramas. Não foi nada muito complicado. A Kuarup apoiou e sua equipe deu a retaguarda para que o projeto se realizasse. Estamos vivendo um momento de grandes explosões musicais que destroem células e reorganizam sonoridades. O espaço musical generosamente ampliou seu raio de ação e o comportamento sonoro da humanidade ganhou novas dinâmicas. Em Destinos, Renato e Fagner mostram que apesar das novas tendências, trabalhos como os deles permanecem vivos e aptos a novas aventuras onde a competência que os consagraram continua a criar lindas canções, construídas com talento e emoção, brasileiras, comoventes, dignas de representarem a cultura musical de um país onde cantar faz parte da vida.

Faixa a faixa
Romaria: os sotaques brasileiros fazem parte da composição que conta a saga de um romeiro rumo a Aparecida do Norte para saudar Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O sotaque Fagner é uma chancela que deixa a canção mais significativa, mais efetiva na sua missão de representar a fé do povo brasileiro. Se sente na visceral interpretação do nosso grande cantor, o poder da fé, seja ela qual for, irradiando a energia que nos move e nos toca. Romaria vai ficando cada vez mais pronta a cada intervenção como essa de Raimundo Fagner que a redimensiona e a deixa ainda mais brasileira, mais nossa.

Blues 73: com Evando Mesquita e Renato Teixeira elogiando um ano muito emblemático e significativo na história recente. O ano de 73 tem quase o mesmo poder de 68 pois foi também um ano transformador, uma porta que se abriu para confirmar a chegada definitiva de todas as modernidades que se sucederam. O ano de 1973 foi uma confirmação, uma encruzilhada no tempo onde uma parte de nós seguiu o caminho da ousadia, da transformação e a outra acomodou-se e aceitou as condições impostas pelas tradições conservadoras. A leveza da canção e a interpretação de dois personagens que conheceram e saborearam esse momento sútil onde muitas coisas aconteceram nas praias e nas artes do Brasil, tem um sabor definitivo. A paz se fez no Vietnã, o celular foi inventado e o mundo foi em frente como sempre. Quem viveu, deixe-se envolver, quem não esteve lá, deixe-se levar e solte a imaginação para sentir as aragens de uma época mais simples e menos complexa da nossa história moderna. Cabeça fresca. Curta e aproveite. Manera, Fru-Fru, Manera.

Arde Mas Cura: tem a participação da cantora carioca Roberta Spindel que o Fagner descobriu numa de suas andanças pelas tribos de músicos no Rio de Janeiro. Renato tem uma relação afetiva com a filosofia Noelina que caracteriza as músicas que avaliam comportamentos voltados para o bem viver, para a compreensão do nosso dia-a-dia com suas idas e vindas. “Quem chega mais cedo vai ter que esperar” é a referência filosófica de uma canção que nos situa dentro do tempo que, com certeza, as vezes arde, mas cura. Uma canção quase caribenha que propõe uma reflexão sobre a arte de viver. Roberta solta a voz com a energia necessária e, com o contra ponto do jeito mais comportado que o Renato tem de cantar, criam um dos momentos mais dinâmicos desse disco Destinos que os parceiros, Fagner e Renato, criaram para o mercado da boa música brasileira, aquela que não quebra, não rasga e não enferruja.

Dominguinhos: o grande músico pernambucano Dominguinhos teve uma ligação artística bastante intensa com Renato Teixeira e Fagner. Para Renato Dominguinhos contou sua história, que começa com ele menino, aos dez anos tocando, na feira de Garanhuns, em Pernambuco, quando surge em sua frente o grande Luiz Gonzaga, patrono de todos os sanfoneiros, que se encanta com a musicalidade do pequeno Dominguinhos. Numa premonição impressionante seu Luiz pede ao menino que o procure no Rio de Janeiro assim que fizer 18 anos. Iria lhe dar uma sanfona nova e o orientaria no rumo das canções. Estava assim escrito o destino de um dos maiores músicos e compositores que esse país já conheceu. Renato e Fagner, que teve com Dominguinhos momentos inesquecíveis, estavam com certeza apenas esperando que o Deus das inspirações enviasse uma mensagem clara para contarem a história desse amigo e mestre. A mensagem veio numa melodia inspiradíssima do magnífico melodista de Mucuripe e Renato intuiu que havia chegado a hora da história de Dominguinhos ser contada através dessa canção que, além de emocionante, trazia dentro dela as palavras certas que contam o primeiro encontro do pequeno sanfoneiro com o sanfoneiro maior e o destino que o tempo deu para esse momento mágico acontecido um dia em Garanhuns. Fagner canta Dominguinhos com o tempero exato e a emoção vibrando a cada nota. Um dos momentos mais bonitos do projeto Destinos quando a história recente da música brasileira vem à tona para contar, principalmente para as novas gerações, o porquê da nossa música ter toda essa grandeza, artistas que vão se encontrando pelo caminho, transferindo um para o outro a missão de elevar cada vez mais o estilo musical de um país onde Chiquinho do Acordeom, Oswaldinho, Sivuca e Cezinha, entre tantos outros magníficos instrumentistas, puxaram e puxam o fole da eternidade como fez Dominguinhos, como fez Luiz Gonzaga, todos Reis do Baião. Toca pra nós, Dominguinhos.

Magia e Precisão: Fagner surpreende com a melodia de Magia e Precisão onde fica evidente sua musicalidade acima da média. Estamos diante de um melodista que está no topo da música brasileira ao lado dos grandes mestres melodistas que ao longo dos tempos nos revelaram nomes como os dos mestres Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Ary Barroso, Carlos Lyra e Tom Jobim, só para citar alguns. A delicadeza e expressão de Magia e Precisão encontraram nos versos de Renato, as palavras certas para uma canção que exalta o feminino com poesia e delicadeza. Fagner e Renato escolheram Isabel Teixeira para cantar com eles e arrematar o conteúdo poético quando, depois das ponderações a respeito da magia e da precisão na programação da vida, revelam a conclusão da jovem romântica que aguarda o grande amor e sabe bem como identificá-lo na hora certa. A intervenção precisa e incisiva de Isabel, filha de Renato Teixeira, revela uma artista que além de grande atriz traz no seu DNA a cantora que faz jus a história de muitas outras mulheres da família que cantavam sempre e muito por amor à arte e por prazer, sempre com Magia e Precisão.

O Prazer de Lembrar é Bom: essa música nos remete aos melhores momentos de nossas vidas quando estávamos nos preparando para encarar o futuro do tempo. Sútil e delicada a canção nos atinge com seu imenso poder poético e mexe com nossas lembranças mais significativas quando o tudo que tínhamos na vida era o vento soprando em nosso rosto em uma alegoria de imagens generosas e felizes. A participação de Zeca Baleiro com sua voz cortante e incisiva cria uma ambiência que reforça o texto e insere a mensagem nos tempos atuais onde a dinâmica da vida tira as crianças da rua e dos costumes mais simples que fizeram parte da vida num passado recente e sem dúvida bem mais confortável. A sonoridade das vozes de Zeca e Renato e o lindo arranjo do maestro Maurício Novaes fazem dessa canção um dos melhores momentos do álbum Destinos. Uma canção para se ouvir em silêncio e se deixar levar pelas memórias da vida.

Quando For Amor: quando amor chega é sempre assim. Materializa-se no ar como uma visagem que invade o coração e aquece a vida, clara e objetivamente, não importando o tempo que, segundo Vinicius, será eterno enquanto durar. Se contrapondo a mensagem da descoberta cantada e contada pela magnífica cantora Roberta Campos temos a voz de Fagner colocando o outro lado da descoberta do amor quando não devemos esquecer que o destino tem suas regras e que precisamos cuidar dos nossos sentimentos com inteligência e realismo porque a vida segue com suas verdades implacáveis. É preciso cuidar do amor porque ele vai deixando rastros como a flor que nasce nos lugares improváveis e acaba criando poderes que podem embaçar a beleza do mais belo sentimento que existe sobre a terra. Espinho sem a flor depois do vendaval. Melancólica e comovente fica a certeza de que quando for amor a gente vê.

Amor Amar: canção para começar o dia. Uma maneira de encarar a vida com seus altos e baixos porque a felicidade é uma luz que sai do chão. Não há o que fazer contra o que virá no próximo minuto, na próxima hora, no próximo ano. Tudo depende também do acaso e a gente tem que estar atento ao plano de vida de cada um para diminuir o risco de existir, para trazê-lo para o que nosso controle seja capaz de dominar. O dueto Renato e Fagner cria um ambiente de eterna expectativa e o enredo da canção flui sereno e forte para que as pessoas possam entrar no raciocínio quase fatalista do que está sendo dito. Deixa o destino tocar porque tudo vem e vai, porque o segredo é o saber se dar para poder ser feliz. Uma canção companheira que nos ajuda a prestar atenção no que virá porque logo em seguida tudo já terá sido, com certeza.

Linda Flor da Madrugada: Capiba foi um compositor pernambucano criador de frevos imortais e um personagem marcante na nossa história musical pelo talento e simpatia que o caracterizavam. Fagner colocou Linda Flor da Madrugada no seu primeiro álbum e como não tinha o acesso que temos hoje para identificar a origem de músicas muito antigas, deixou indefinida a autoria. A música então ressurge naquela primeira gravação de Fagner diferente da original que era um frevo de carnaval. O interessante é percebermos que ela havia sofrido uma releitura que só preservava alguns detalhes da primeira versão, mas continuava alegre e comunicativa como sempre. E o mais importante, continuava totalmente Capiba. No álbum Destinos ela surgiu para ser interpretada por Renato, Fagner e Almir Sater, que devido ao seu compromisso com a novela Renascer, onde foi o personagem libanês Rachid, não conseguiu participar por absoluta falta de tempo. Então Fagner e Renato fizeram o serviço e Capiba entra na história por uma alegre coincidência. E isso é um detalhe tão imprevisível e surpreendente, que decidimos colocar Capiba como patrono de Destinos numa homenagem póstuma que representa o vínculo dos dois parceiros com a essência da música brasileira, força motriz da maior manifestação popular do nosso povo. E viva Capiba!

Travesseiro e Cafuné: todos nós em algum momento da vida sentimos esse tipo de ansiedade relacionado a uma situação afetiva, uma pessoa que está distante, mas a data marcada para o esperado reencontro já está marcada. Um tipo de situação que faz a gente perder o sono tamanha a expectativa que antecede esse momento. Que me leve um pé de vento porque a distância que foi chegando e te levou de mim, está prestes a ser vencida e eu vou me atirar nos seus braços numa situação de absoluto conforto amoroso. Travesseiro e Cafuné, uma canção divertida que mexe com um sentimento comum a todo ser humano. Aqui os parceiros brincam com situações de idas e vindas, do tempo indo, a saudade chegando e a distância afastando você de mim numa correlação poética entre a aflição e ansiedade de quem está indo, louco pra chegar. Fagner e Renato convidaram o cantor Chico Teixeira, filho de Renato, para compor esse trio aflitivo indo ao encontro de quem também está esperando esse momento. Que me leve um pé de vento até onde você está, porque a distância que veio vindo e te levou de mim, está prestes a ser vencida. Que cada um coloque o seu momento, viaje na memória e sinta como é bom um travesseiro macio e um cafuné da pessoa amada.

Texto sobre maestro Maurício Novaes
Gentil como o maestro Arruda Paes, veloz como Chiquinho de Moraes e ousado como Rogério Duprat, esse é o nosso maestro Maurício Novaes sem o qual não teríamos conseguido criar essa obra que, por razões como essa, chama-se Destinos. Maurício pegou para si a missão de transformar nossos delírios e inconstâncias em algo sólido, objetivo e efetivo. Faz parte desse trabalho definindo-o com o trabalho de um trio de artistas onde melodias, poesias e arranjos compõem o todo musical, o ambiente sonoro de expressão musical comprometida com a música popular brasileira. Ele é o Espírito Santo dessa empreitada. Nossa eterna gratidão ao talentosíssimo maestro Maurício Novaes por ter nos permitido realizar essa obra que a partir de agora faz parte da nossa história. Obrigado maestro.

Texto escrito e assinado por Renato Teixeira e Fagner

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