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Quase 50 anos depois, a luta interminável pelos franceses desaparecidos na Argentina

Annie Domon fala sobre sua irmã Alice, uma freira francesa que desapareceu durante a ditadura militar na Argentina, em 19 de novembro de 2024, em Vierzon, na FrançaGuillaume Souvant

Guillaume Souvant

Annie Domon nunca encontrou o corpo de sua irmã Alice, mas viu o responsável por seu desaparecimento durante a ditadura na Argentina em 1977 ser condenado, uma Justiça que outras famílias de franceses desaparecidos ainda esperam enquanto lutam contra o esquecimento.

“Não tenho desejo de vingança. A justiça é indispensável”, disse a senhora de 84 anos à AFP em sua casa nos arredores de Vierzon, no centro da França, cheia de lembranças.

Uma foto em preto e branco de Alice está pendurada em sua cozinha. Nela, “Lisette” está tomando mate, meses antes de ser presa em 1977 na igreja de Santa Cruz, em Buenos Aires, com Esther Ballestrino, Azucena Villaflor e María Ponce, fundadoras da associação Mães da Praça de Maio, entre outras.

As chamadas “freiras francesas” – Alice Domon e Léonie Duquet – tornaram-se um “símbolo” na França desses desaparecimentos. De acordo com a reconstrução judicial, ambas foram lançadas ao mar em um “voo da morte” na noite de 14 de dezembro de 1977, juntamente com outros 10 ativistas.

“Alice foi alguém que foi até o fim de suas convicções”, diz Annie. Sua irmã nasceu em 1937 em Charquemont, no leste da França, e em 1967 foi para a Argentina como freira da Congregação das Irmãs das Missões Estrangeiras.

Lá ela trabalhou especialmente nas favelas, mas em 1976, percebendo que as pessoas ao seu redor estavam começando a desaparecer, decidiu voltar do norte do país para Buenos Aires, onde trabalhou com as Mães da Praça de Maio até ser presa, explica.

– “A França não esquece” –

Sua história voltou à primeira página após a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, no domingo à igreja de Santa Cruz, onde, a pedido das famílias, ele reiterou a tradicional posição oficial: “A França não esquece”.

Quase meio século depois, essa frase ressoa ainda mais forte quando o atual presidente argentino, o ultraliberal Javier Milei, é acusado de revisionismo sobre os fatos ocorridos durante a ditadura (1976-1983).

As palavras de Macron são “reconfortantes para nós, mas também para os argentinos que sofreram”, diz Annie, que participou do julgamento na Argentina que impôs prisão perpétua ao ex-marinheiro Alfredo Astiz, de 73 anos, pelo caso das “freiras francesas”.

Embora o consenso tradicional seja de que 30.000 pessoas desapareceram durante esse regime, as autoridades atuais afirmam que foram menos de 9.000. Pelo menos 22 eram francesas.

– “Liberdade, memória, justiça” –

Quando sua família decidiu retornar à França em 1974, Yves Domergue decidiu ficar na Argentina, onde chegou aos 4 anos de idade em 1959, para continuar seus estudos universitários e, ao mesmo tempo, ser militante do Partido Revolucionário dos Trabalhadores.

Em 1976, já na clandestinidade, informou ao irmão que sairia de Buenos Aires por alguns dias, mas nunca mais voltou. Seu corpo e o de sua companheira mexicana, Cristina Cialceta, foram identificados 34 anos depois em Melincué, a 300 quilômetros da capital.

Apesar da descoberta dos restos mortais e da condenação daqueles que ordenaram seu assassinato, Éric continua lutando e, no domingo, entregou uma carta a Macron expressando seu “medo” de uma “anistia” na Argentina para repressores condenados.

“Quando falo de Yves, também me refiro aos 30.000. A luta pela liberdade, memória e justiça para os 30.000 continua”, enfatizou.

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