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Pescador encontra no litoral de SP madeira lançada ao mar por pesquisadores no Paraná; entenda


Objeto foi encontrado em Bertioga (SP), cidade que fica a aproximadamente 800 quilômetros de distância do ponto de soltura no Paraná. Madeira havia sido lançada na Ilha do Mel (PR) cinco anos antes de ser localizada em Bertioga (SP)
Carolina Rodrigues/Projeto Mar Sem Lixo
Um pedaço de madeira lançado ao mar por pesquisadores no Paraná foi encontrado cinco anos depois em Bertioga, no litoral de São Paulo. O objeto foi parar na rede de um pescador a aproximadamente 800 quilômetros de distância do ponto onde foi dispensado em 2019.
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“Foi uma grata surpresa”, disse o professor universitário e biólogo que participou do lançamento, Pedro Volkmer de Castilho. Segundo ele, a pesquisa realizada pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) tinha como objetivo entender a dinâmica da movimentação de carcaças de toninhas que chegavam na beira da praia.
A madeira, com a inscrição de dois telefones de contato e os dizeres “ligue caso encontre”, surgiu na rede de arrasto do pescador Renato da Mota Mangueira, de 48 anos, em local próximo de uma praia em Bertioga no mês passado.
Ao g1, ele contou que estava pescando camarão e não deu tanta atenção ao objeto, pois faz a atividade desde os 15 anos e já viu muita coisa. “Na pesca de arrasto, pegamos de tudo que está no fundo do mar. Teve caso de pegar até mesmo pessoas mortas”, afirmou.
No entanto, o pescador mostrou a peça para a esposa, que se interessou em entrar em contato com o telefone inscrito na madeira. Ela chegou a mandar mensagem, mas Renato resolveu destinar o objeto ao projeto ‘Mar sem Lixo’, que remunera pescadores cadastrados para retirada de lixo do oceano.
“Tinha os números e tudo, mas para mim era insignificante. Então coloquei junto com o lixo, os resíduos de sacola plástica, garrafa, etc. Quando cheguei lá, o menino separou”, afirmou o pescador, dizendo que o representante do projeto descobriu que o objeto pertencia à pesquisa feita na Udesc.
Pescador Renato da Mota localizou a madeira enquanto pescava camarão em Bertioga (SP)
Arquivo Pessoal/Renato da Mota
Ao ser informado sobre o encontro do objeto, o biólogo que participou do estudo ficou feliz. De acordo com Pedro, aquela madeira havia sido lançada em área próxima à Ilha do Mel, no Paraná, em setembro de 2019. “A gente achou fantástico essa possibilidade de ter encontrado um toquinho em Bertioga. Bota aí mais de 800 quilômetros do ponto de soltura”, afirmou.
Segundo o especialista, a madeira trouxe memórias da pesquisa e aflorou o desejo de continuar desenvolvendo experimentos. “De fazer com [que] as pessoas se interessem também por pesquisas, especialmente pela pesquisa cidadã”, relatou.
Pesquisa
De acordo com Pedro, a ideia do estudo surgiu a partir o monitoramento das praias brasileiras, que registrou frequência no surgimento de golfinhos mortos, principalmente toninhas. “Baseado nisso, a gente queria entender como é que essas carcaças chegam na praia, de onde elas vêm, qual é o fenômeno que poderia estar influenciando na chegada dessas carcaças […]”, justificou.
O projeto começou em Santa Catarina e foi ampliado para os estados do Paraná e São Paulo. “[Tivemos] a ideia de simular utilizando derivadores, que são toquinhos de madeira que a gente tecnicamente chama de traçadores e nada mais são do que objetos flutuantes que deveriam representar, de uma forma alternativa, esse processo de boiância, de deriva de uma carcaça de um pequeno golfinho na água”, explicou Pedro.
Os objetos foram dispensados em pontos estratégicos de áreas com concentração da espécie, entre 30 metros de profundidade.
“Normalmente a gente largava 30 toquinhos por ponto. Então esses toquinhos iam derivando e as equipes de campo iam recolher na praia, marcavam as coordenadas geográficas de cada toquinho registrado. As pessoas da comunidade, os pesquisadores, todo mundo ajudava a fazer o recolhimento”, comentou ele.
Toquinho de madeira faz parte de pesquisa de uma universidade em Santa Catarina
Caio César/Projeto Mar Sem Lixo
Conclusão
De 2019 a 2022, foram lançados mais de mil objetos de madeira entre Santa Catarina e São Paulo. Segundo o pesquisador, foram recuperados aproximadamente 52% dos toquinhos dispensados no mar.
Pedro ainda afirmou que o estudo utilizou madeira, pois o objetivo era usar um material que fosse degradável e não contribuísse com a poluição marinha.
“Em algumas situações, a gente não recuperava nada e tiveram outras situações que a gente recuperava todos os toquinhos, mas isso nos deu a oportunidade de começar a entender um pouco mais de como é esse processo da deriva, de um objeto que flutua e chega na praia”, alegou Pedro.
Os pesquisadores levaram em consideração um prazo de aproximadamente cinco dias, pois é o tempo aproximado que uma carcaça permanece boiando na água. Depois, ela começa a ser consumida e pode afundar.
“A gente contabilizou e conseguiu perceber que existe uma influência das correntes, da maré e, sobretudo, uma influência do vento na destinação desses toquinhos e proporcionalmente das carcaças”, disse ele.
Os especialistas ainda usaram softwares de hidrodinâmica para descobrir que os toquinhos de madeira provavelmente derivaram a uma velocidade de 1.5 km/h. “Corresponde com a realidade [dos golfinhos] porque a gente fez um outro experimento com uma carcaça real e ela realmente derivou com essa mesma velocidade”, complementou.
Além da madeira, os pesquisadores também usaram protótipos com rastreadores satelitais para acompanhar o processo e comparar com o resultado dos toquinhos.
“Coincidiu. Então a gente encerrou essa fase do projeto em 2022 e, agora, a gente está desenvolvendo outros mecanismos para outras espécies com outras dinâmicas, para conseguir entender ainda melhor o movimento das carcaças na praia ou pelo menos até elas chegarem na praia”, disse.
Madeira em Bertioga
O biólogo acredita que o toquinho encontrado em Bertioga se deslocou enquanto boiava. “Esses toquinhos podem ter derivado e ficado boiando por algum tempo aproveitando essas correntes de superfície e os ventos que estão atuando na região”, pontuou.
Ele crê que o objeto perdeu a flutuabilidade após determinado tempo, pois ficou enxarcado no mar. “É uma madeira leve que se permite entrar água”, explicou Pedro, dizendo que o item estava no fundo do mar quando foi capturado na rede de arrasto.
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